Um lugar especial

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06 🦇 02 🦇 1951


Querido, maldito diário,


É isso... O inevitável aconteceu. Alfredo descobriu toda a verdade sobre quem eu sou.

Agora, o que sinto é essa peculiar mistura de tristeza e resignação, deitada em meu confortável leito (com sua tampa ainda aberta) a escrever estas palavras no mesmo objeto responsável por tal revelação. Sim, Alfredo leu você, diário... E a seguir revelarei os detalhes mais importantes sobre como isso se sucedeu.

Eu havia convidado Alfredo para vir jantar e tudo ia perturbadoramente bem até a campainha tocar.

Era Bruce Moris, meu amigo "bicho-papão", um tanto quanto grogue após ter assustado um quarto lotado de crianças num orfanato, de modo que eu, aterrorizada pela ideia de Alfredo vê-lo, vi-me na desesperada missão de mandá-lo embora.

Enquanto isso, na sala de jantar, Alfredo me esperava na relés companhia de uma sopa que muito provavelmente não agradara o seu paladar — sendo essa a primeira que tento cozinhar em séculos...

Não demorou muito para que ele se intrigasse com a minha demora e viesse espiar na sala quem seria a inesperada vizita com quem eu tanto falava, encontrando, assim, meu diário caído entre as almofadas de meu velho sofá repleto de crânios esculpidos na madeira que contorna a borda de seu encosto...

Sim, diário, como um colossal ato de autossabotagem, eu o esqueci bem ali... E ainda por cima com minha caneta de pena negra marcando as páginas de minha confissão...

Oh, diário... Se pudesse ver o horror estampado em sua pálida face... O modo como o deixou cair no chão ao mesmo tempo que eu e meu amigo finalmente o notavamos atrás de nós...

Eu não devia ter me surpreendido tanto; afinal, somos monstros... Nenhum de nós nasceu ontem; já tivemos muitos e muitos humanos nos encarando da mesma maneira, mas... pelo menos para mim, aquela reação doeu como ser queimada numa grande fogueira. Sentia-me envergonhada, culpada e tão, tão arrependida!...

E assim Alfredo deixou meus aposentos correndo para além da porta dos fundos enquanto meu velho amigo ainda tentava falar comigo, incapaz de compreender o que se passara, ao mesmo tempo que via-me incapaz de responder qualquer uma de suas perguntas; dura feito pedra, ainda a encarar a escuridão do corredor pelo qual Alfredo partira.

Apesar de apenas uma semana ter se passado desde então, sinto como se meses me distanceassem de Alfredo... Minhas memórias de nossos momentos juntos tão irreais agora. Como se nunca tivessem acontecido; como se tivesse apenas sonhado com cada uma delas...

Pergunto-me se irá me denunciar... E por que ainda não o fez... Qualquer outro já o teria feito no mesmo dia em que deixara esta sombria casa. Talvez esteja com medo. Talvez saiba que é inútil... Talvez ele mesmo tenha partido para bem longe... Pra onde jamais voltarei a encontrá-lo...

Mesmo se essa última teoria estiver correta, está tudo bem. Ele pode fugir e se esconder... Já está em meu coração e talvez seja de fato o único lugar onde eu deva encontrá-lo. Só isso já é muito mais do que eu mereço... 🦇

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