31 🦇 10 🦇 1950
Maldito Diário,
O Halloween não é a época mais maravilhosa do ano?!...
Quando todas as árvores estão mortas e as fachadas de todas as casas se parecem com interior da minha casa durante todo o ano?!... Eu digo, uma versão muito mais simpática disso...
É tão adorável como os humanos acreditam que sabem ser assustadores... Na casa de Alfredo, por exemplo, só haviam abóboras cortadas com sorrisos tão meigos quanto os de um bebê recém nascido!... Decepcionante, devo admitir...
E, não que eu esteja o perseguindo por cada esquina... mas andei o observando nas últimas semanas; e isso foi o bastante para descobrir algumas características interessantes de sua vida e personalidade...
A primeira foi que ele vive sozinho, algo tão raro para um homem de sua idade que, por sinal, é trinta e um (o que descobri ao ouvir uma conversa sua com um vendedor de jornais... Como fiz isso? Bem... tudo o que posso dizer é que "morcego" é o meu animal preferido. É como se tivéssemos uma forte conexão...); mas então veio a terceira e infeliz descoberta: ele é viúvo. Um terrível caso de doença autoimune que levou sua jovem esposa para além deste mundo quando ambos somavam míseros três anos de casamento. Alfredo tendo passado os últimos cinco anos solteiro sem ter conseguido superar tal perda.
Do alto daquela árvore, eu não sabia o que me impressionava mais: o quão romântico Alfredo parecia ser ou as habilidades do tal jornaleiro em extrair detalhes tão íntimos da vida de sua pessoal!...
Tais novas revelações impressionando-me tanto a ponto de me manter longe do dito cujo por semanas até que a tão esperada data enfim chegasse.
Foi mais por uma estranha consciência do que por minha própria ação que nos encontramos na celebração que acontece todos os anos na rua do centro da cidade. E digo isso dessa forma porque, apesar de eu de fato estar o procurando, não o teria encontrado não fosse por ele ter derrubado sua máscara de gato ( uma muito redonda e risonha máscara deveras infantil) a poucos metros de onde eu me encontrava.
Notando a minha, nada discreta, presença, ele sorriu e acenou ao que respondi lançando-lhe um dos meus mais perversos sorrisos.
Pura autossabotagem; de modo que me surpreendi quando o moço, agora com sua máscara presa com o elástico em seu queixo e o rosto do gato pateticamente cobrindo apenas o topo de sua cabeça, se aproximou a sorrir entusiasticamente.
— É lindo, não é?! — disse ele.
— O que exatamente?... — respondi num tom esnobe.
— Tudo! As luzes, as pessoas, as fantasias... a música!...
— Por certo que sim!... — Sorri docemente lançando um sutil olhar para tudo ao meu redor.
— Gostei do seu chapéu! — Alfredo apontou brevemente para a própria cabeça.
(Esqueci de dizer que usava um grande e pontudo chapéu preto de bruxa.)
— Obrigada!... — agradeci. — Eu peguei emprestado de uma velha amiga...
Alfredo ri, após um brevíssimo instante de confusão no qual me encarou com o cenho franzido, obviamente, interpretando mal o meu sincero comentário.
— Sua presença aqui me surpreende, doutor!... — prossigo.
— O quê?! Não sou tão quadrado assim, sou?!... — ele brada, tentando parecer confiante ao jogar a cabeça para trás e falhando instantaneamente ao corar. — Ah... Eu sei... eu sei!... Mas sabe, não é qualquer dia que posso por aí vestindo uma máscara!... — Ele volta a colocá-la por um segundo rindo de si mesmo.
— Então quer dizer que gostaria de poder se esconder mais vezes?!... Quão intrigante da sua parte!... Me pergunto o que está tentando esconder... — Eu concluo, encarando-o a inclinar minha cabeça para frente; precisei de todo o meu autocontrole para não hipnotizá-lo forçando-o a dizer o que se passava em sua mente.
Visivelmente atordoado, Alfredo reage ao meu olhar, tentando gaguejar algo sem conseguir emitir uma única palavra que faça sentido.
— Eu não queria vir, mas... — ele enfim consegue dizer. — Sabe como as namoradas são... — interrompeu-se ele, sem graça — ... eu digo... você entendeu... — concluiu então a apontar para uma jovem do outro lado da rua em frente a um carrinho de doces.
Era a recepcionista!
— Ah, sim... Então você já arranjou um par romântico!... Isso é ótimo!... — eu disse sarcasticamente, a engolir o meu orgulho com a mesma dificuldade com a qual eu me forço a beber vinhos baratos em festas humanas...
Então ele havia de fato superado sua falecida esposa!... E eu, tão decentemente, a evitá-lo achando que fosse a coisa certa a se fazer...
Humanos, humanos... Eu devia mesmo era voltar a evitá-los.
Menos, é claro, para uma coisa em particular!... 🦇
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O Diário da Vampira
Fanfiction🦇 Quem não gostaria de dar uma espiada no diário da icônica Vampira?... 🦇 História totalmente inspirada na inesquecível personagem criada por Maila Nurmi que causou sensação nos anos 50, enfim imortalizando-se nas memórias dos presentes e futuros...