Era interessante o fato de que vampiros odiavam o sol. Não que a claridade lhes fosse uma arma, mas diziam os boatos que seus olhos se incomodavam com o excesso de luz. Particularmente, não acreditava que fosse apenas por aquele motivo. A única vez que agradeci por morar em uma cidade tão quente quanto o inferno, foi descobrir e perceber com o tempo, que quase não se viam vampiros vagando por lá. Vez ou outra, de meses em meses, surgia notícias na TV de algum ataque ou alerta. Outro fato importante, era o de que os sangue sugas, como alguns apelidaram, não podiam deixar a "Cidade Matagal", ou "Cidade Vigiada". O local era um território não muito grande, localizado após um enorme buraco preenchido por plantas tão altas quanto os pinheiros. Constantemente supervisionado por policiais e agentes aéreos.
Saber que uma escola tinha permitido a entrada e o aprendizado daquelas criaturas, chocou o mundo inteiro. Ainda me lembrava do burburinho que a informação causou, até mesmo em uma cidade pequena, distante e quente como a minha. Minha mãe sempre dizia: "Coisa ruim se espalha rápido". E era a mais pura verdade. Mas depois de alguns meses, todos já haviam se adequado. O governo também prometera que a segurança seria máxima, dentro e fora da escola.
Enquanto andava, com a mão agarrada nas alças da mochila, me deparei relembrando o olhar que recebera minutos antes, do prisioneiro vampiro. Suas iris eram de um alaranjado muito forte, difícil de passar despercebido. Mas também muito diferente de alguns quadrinhos e revistas que comprara para ler em meu quarto, nos tempos vagos.
— Purpurinha? — Minha prima chamou, andando na frente. Sua expressão alegre tinha retornado e nem parecia que havia mudado de personalidade drasticamente alguns minutos atrás.
— Me desculpe. Pode falar. — Afastei meus pensamentos, sorrindo de uma maneira um pouco nervosa. A ansiedade começava a tomar conta de mim, sem saber o que esperar da nova escola e seus alunos tão...exóticos.
— Parecia perdidinha no mundo da lua. Que sorte a sua que já me acostumei. — Virando para mim e andando de costas, suas mãos se juntaram ao peito, formando um coração sobre o uniforme.
— Engraçadinha você, né?
— Ta bom, ta bom. Foi mal. — Ela riu da minha frase, voltando a prestar atenção no caminho. — Enfim, devo te dar breves avisos.
— Agora? Já estamos chegando na escola.
— Eu sei, é que mamãe mandou mensagem agora, não tinha visto antes. E se não fosse ela, nem saberia onde coloquei a cabeça.
— Ai Gabriela...conta rápido!
— Tá, tá. Primeiro, não se enturme com os filhinhos de papai e mamãe. Deve saber que é a melhor escola do continente e por isso existem alunos ali herdeiros de milhões. Essas pessoas normalmente são bem exibidas e gostam de puxar o saco dos menos privilegiados.
— Ótimo, evitar os valentões.
— Isso mesmo. Em segundo, nada de se meter em discussões ou brigas alheias. Você é bem tímida para fazer amizade, mas vive querendo defender os outros. Não faça isso! Mesmo que alguém pareça inocente. Nessa escola, duas repreensões do diretor e uma advertência são o bastante para a expulsão. Entendeu?
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Unida Com Os Vampiros
RomanceUm ano. Esse é o tempo que vou passar morando com minha tia depois de ser aceita na prestigiada Escola de Proteção do Continente. Sem condições de pagar um hotel por tanto tempo, serei acolhida pela minha prima. Mas há um grande desafio: a escola ta...