Capítulo 2

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O som dos cascos dos cavalos em uma colisão rítmica sobre a estrada de terra parecia não ter fim, assim como o caminho que se estendia em linha reta diante dos dois príncipes.

O ritmo constante e enjoativo fazia Soen querer dormir sobre a sela. Para evitar os abutres da Corte, eles deixaram o castelo antes mesmo do início do amanhecer e já estava prestes a anoitecer àquela altura, o que tornava sua sensação crescente de sono cada vez mais difícil de ignorar.

Ele esteve entregue ao tédio durante todo o percurso, já que Yenned passou toda a manhã e tarde se recusando a responder qualquer pergunta sobre sua maldição e a bruxa que encontrariam, fazendo-o eventualmente desistir de questionar.

Inicialmente, Soen planejou realizar aquela viagem sozinho, considerando que Yen deveria manter sua aparência demoníaca em segredo. Mas seu primo meio-felino havia argumentado que ele não saberia onde procurar a bruxa, assim como também não conhecia os riscos da epidemia que chamou de morte negra.

O herdeiro do trono já ouvira falar de tal doença algumas vezes nos últimos dias, mas nunca se deu ao trabalho de investigar a fundo sobre o assunto em questão, então deixou que Yenned resumisse do que se tratava antes de partirem.

Segundo ele, tratava-se de uma praga terrível. Péssimo jeito de morrer.

Você morreria sozinho e desfigurado em sua própria poça de merda, vômito e urina, com mais dor e febre do que jamais imaginou sentir na vida. Sua própria família teria medo de se aproximar e nem sua mãe iria vê-lo, para evitar contrair a doença cujos principais sintomas iniciais eram as manchas roxas que se espalhavam pelo corpo, cada vez mais escuras e dolorosas.

Soen já teria mantido distância da plebe imunda normalmente, mas depois de saber sobre aquilo, ele definitivamente não passaria sequer perto de um deles.

Yen também parecia cauteloso sobre a doença, tão disposto a evitá-la quanto a não permitir que seu rosto meio felino fosse descoberto.

Ele parecia uma pessoa normal sob a armadura reluzente e adornada que usava, acompanhado por um manto dourado com o brasão real dos Vineyard: um escudo cercado por vinhas com um anjo de olhos fechados portando uma espada iluminada dentro.

Ele parecia uma pessoa normal sob a armadura reluzente e adornada que usava, acompanhado por um manto dourado com o brasão real dos Vineyard: um escudo cercado por vinhas com um anjo de olhos fechados portando uma espada iluminada dentro

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E ser chamativo era tudo o que os dois príncipes não precisavam, naquele cu de mundo para onde Yen estava levando-os.

A Cidade Baixa não era o tipo de lugar onde se deveria chamar atenção, considerando que se tratava do lugar onde a pior corja de Etheia poderia viver. Aquele nome era mais do que o título dado a uma cidade, era um aviso.

Por isso, Soen advertira seu primo mais de uma vez sobre a burrice que cometeriam, cavalgando de forma tão indiscreta daquele jeito. Yen, no entanto, não poderia ser visto sem armadura e se recusava a esperar no castelo.

Ao menos Soen não precisava de vestes tão pomposas para sua viagem.

O herdeiro do trono optara por um manto escuro e resistente que o envolvia como uma segunda pele, um par de botas silenciosas e luvas marrons do mesmo couro curtido com o qual seu cinto era feito, esse último com fivelas que sustentavam a bainha de sua espada.

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