Na sala do conselho de guerra, o rei Othail Blackthorn III e sua mãe, a Rainha Regente Margaret Blackthorn, sentavam-se em seus respectivos assentos altivos.
Feitas de madeira escura adornada em ouro, as cadeiras acolchoadas exibiam tons de preto e vermelho enferrujado, as cores Blackthorn, e terminavam em braços largos com cabeças de lobos meticulosamente esculpidas.
Nas janelas estreitas, cortinas pesadas bloqueavam qualquer vestígio do sol, fazendo com que somente a luz amarelada das velas nos candelabros iluminasse os rostos velhos que se faziam presentes.
Sentado ao lado do, rei com a cabeça raspada inclinada em uma postura servil, Garon encarava Soen e Alexander com um par de olhos azuis acesos por trás dos cílios ralos.
Já Marcus, o conselheiro da Rainha Regente que se sentava ao lado dela, sequer fez questão de esconder o ódio em suas feições enrugadas enquanto os dois príncipes eram anunciados.
Soen e Alec estavam em pé, do outro lado da grande mesa oval e diante de todo o Conselho, desde o tesoureiro-chefe a marechais, diplomatas e generais. Esses últimos analisavam mapas e relatórios que fizeram Soen torcer o nariz em aversão.
Alexander, por outro lado, parecia tão interessado nos documentos sobre a mesa quanto o próprio Yen teria ficado.
Como Soen suspeitava, seu irmão tivera mais do que aulas de voo no paraíso, e por isso não teve dificuldades em se enfiar na armadura de Yen, deixar algumas mechas de cabelo loiro para fora e assumir a postura impecável de um jovem general.
Desde que Alec não falasse muito e não revelasse o rosto, era provável que tudo saísse como o planejado. Felizmente, o elmo pesado sobre a cabeça dele seria útil para abafar sua voz, que já não era muito diferente do timbre grave de seu primo de primeiro grau.
Além disso, o fato de que ele não era o único trajando uma armadura completa, e tampouco fora visto sem ela nas últimas semanas, pouparia a dupla da necessidade de prestar esclarecimentos.
Mas a farsa não duraria para sempre, e Soen não poderia esquecer que deixou dois guardas mortos, Yen transformado em gato, Balthazar morrendo no chão e Aveille desmaiada e amordaçada sobre a cama em seus aposentos.
Ele estava quase rezando para que nenhum empregado do castelo resolvesse entrar em seu quarto enquanto estivesse fora. Mesmo trancando a porta, alguns deles tinham chaves extras que sempre se mostravam um problema quando o herdeiro do trono enrolava corpos nos lençóis.
— Do que se trata este circo todo? — ele resolveu ir direto ao ponto.
— Este circo, moleque, se trata da sua desobediência e falta de responsabilidade para com o reino — Margaret sibilou entre seus dentes apodrecidos.
Os olhos castanhos da velha rainha exibiam faíscas de conspiração por trás de suas rugas, e a fina coroa de ouro que repousava sobre seu cabelo grisalho — que um dia já fora tão negro quanto o de seu neto — parecia pesada demais para ela, assim como os broches de diamantes, colares de pérolas e vestidos pesados que ela suportava como um fardo em seu corpo curvado.
— A múmia deseja que eu caminhe rumo à morte como uma ovelha obediente? — Soen sorriu com escárnio.
Alec, disfarçado de Yen, deu uma cotovelada discreta em seu irmão enquanto a rainha bufava e resmungava incoerências sobre ele merecer ser açoitado em praça pública, castrado, acorrentado e tudo mais.
Alexander limpou a garganta.
— Se me permite, Vossa Majestade, não estou a par dos últimos acontecimentos, e gostaria de saber por qual razão estou aqui hoje.
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Labe Mortem
FantasyUma maldição nunca falha, a menos que algo ainda mais sombrio interfira. É o que acontece com Soen Blackthorn, o herdeiro do trono de Etheia, um reino assolado por uma praga letal. Alguém quer impedi-lo de se tornar rei e lança uma maldição sobre el...