Capítulo 11

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Dessa vez, não havia qualquer sinal de guardas quando Soen marchou rumo aos aposentos de Garon.

A poça de sangue também não estava mais no chão, por mais que ainda fosse possível sentir um aroma enferrujado de sangue velho no ar. Ou talvez aquele fosse o cheiro da raiva de Soen.

Sem cordialidades, o herdeiro do trono adentrou no escritório do conselheiro, caminhando diretamente em sua direção.

Garon desviou sua atenção da pilha de pergaminhos que analisava e encarou Soen com surpresa evidente nos olhos. Ele fez menção de se levantar para fazer uma reverência, mas parou no momento em que viu a espada empunhada nas mãos do Príncipe Herdeiro.

Foi então que o corpo de Soen ficou paralisado.

Um bruxo tinha muitos truques, no fim das contas. Era como se Soen estivesse totalmente amarrado por cordas que não podia ver ou sentir. Como uma marionete. E se ele não quisesse matar Garon antes, certamente iria querer após presenciar tamanha demonstração de desrespeito.

— Por Deus, Príncipe Herdeiro! Está maluco? — ele exasperou.

— Que merda você fez com Yen? — Soen indagou.

— Eu fiz o que Vossa Alteza ordenou — Garon se recompôs, mas Soen ainda podia ver vestígios do espanto em seu semblante, indicando que ele não esperava por uma visita. Curioso, considerando como ele sempre parecia prever os movimentos de Soen em todas as vezes que se encontraram.

Dessa vez, no entanto, Soen o pegou de surpresa. Era visível que aquilo não estava nos planos dele. Como se não tivesse se preocupado em investigar as próximas ações do príncipe através de bruxaria ou simplesmente não tivesse sido capaz de enxergar.

— Fez o oposto do que ordenei — Soen respondeu. — Yen está preso naquele corpo de gato inútil, e agora você me deve sua cabeça.

Garon fez uma pausa, analisando o herdeiro do trono como se tentasse ler os pensamentos atrás dos olhos dele.

Então algo realmente estava impedindo-o de prever as ações de Soen.

— Isso tudo é sobre o príncipe Yenned? — ele disse com cautela. — Ele logo voltará ao normal, tenha paciência. Como Vossa Alteza acha que essas coisas funcionam?

— Eu acho que elas funcionam como você quiser que funcionem — Soen cuspiu as palavras. — Você mentiu para mim, Garon, e isso terá um preço.

Foi então que Soen notou a pequena forma negra de Gin se esgueirando na janela atrás do feiticeiro. Sua longa cauda negra desapareceu entre as cortinas no mesmo instante em que a bruxaria de Garon perdeu o efeito sobre ele.

Com um olhar pensativo, Soen moveu sutilmente seu braço que segurava a espada, o que fez o feiticeiro estreitar os olhos para ele.

— Tenha paciência — ele insistiu, uma veia da testa se inflando como se o homem fizesse um grande esforço. — Em alguns dias a maldição começará a regredir, e então o príncipe Yenned vai recuperar sua aparência humana.

— Se você estiver mentindo — Soen alertou —, nem o próprio Diabo vai salvar seu pescoço.

Ficou claro que o Conselheiro do Rei não havia libertado Soen de seu feitiço, por mais que agora ele fosse capaz de se mover livremente. Era provável que Gin tivesse alguma coisa a ver com aquilo, assim como a gata deveria ser a responsável por fazer Garon perder a capacidade de prever os movimentos dele. Mas Soen decidiu que seria interessante entrar no jogo do feiticeiro e ver até onde ele iria, então não se mexeu outra vez.

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