Capítulo 27

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O jardim lateral se tornou uma bagunça de roseiras brancas pisoteadas e maculadas, fosse pelo marrom da lama ou o carmim do sangue derramado.

A maioria dos canteiros estava em ruínas, o gramado amassado e os arbustos ornamentais em frangalhos. Haviam corpos de guardas mortos por todos os lados, cada um deles brutalmente mutilado por golpes implacáveis que lhes partiram os membros e rasgaram as vísceras. Um deles, caído próximo às patas albinas de Yen, tinha metade do corpo rasgado na horizontal, as entranhas rompidas e vazando enquanto exalavam o odor pungente de merda e sangue fresco.

Próximo dele, jazia um homem que parecia ter tido o crânio esmagado por uma série de socos que sequer aparentavam ser obra humana. Ele ainda mantinha a mão fechada ao redor do cabo da espada, o rosto sangrento mutilado ao ponto de não ser possível identificar onde começava a boca e terminavam as sobrancelhas. Soen desviou a atenção para a poça de sangue do tamanho de um pequeno lago sob três soldados que caíram uns sobre os outros dentro do canteiro ao seu lado, meio que esperando Barachiel surgir através deles e dizer alguma coisa angelical, mas não haviam anjos naquele pequeno pandemônio, então o silêncio perdurou.

Sebastian, que insistiu em seguir Soen sem sequer tratar seus ferimentos primeiro, parecia prestes a vomitar na terra revirada aos pés de um cadáver cuja cabeça decepada pendia por uma fina tira de pele.

— Alexander fez isso? — ele indagou, visivelmente nauseado pelo fedor de ao menos uma dúzia e meia de intestinos retalhados. — Onde ele está?

É claro que Alexander não ficaria parado em meio à carnificina que, não havia dúvidas, deveria ter atraído mais soldados pelo barulho.

Apesar dos jardins laterais serem pouco vigiados e raramente visitados, os gritos dos soldados esquartejados poderiam ter sido ouvidos de longe. Mas para onde Alec teria ido, se não o encontraram no caminho? Qual teria sido a razão que o levara a assassinar soldados do reino? A ausência do corpo de um falso Sebastian dizia a Soen que, sendo bom com o manejo da espada ou não, o impostor teve que fugir de um Alexander em fúria que fora atacado em conjunto pelos guardas e saiu vitorioso.

Parecia plausível que aqueles homens tivessem encontrado o fim tentando impedir que Alec — que pensavam ser, na verdade, o príncipe Yenned — matasse aquele que fingia ser Sebastian.

— Se essas mortes são obra dele — Soen comentou, olhando rapidamente ao seu redor em busca de qualquer rastro indicando a direção por onde ele foi —, foi esperto em não deixar nenhuma testemunha viva. Nem mesmo ouvimos alguma comoção quando deixamos o castelo.

— Tem razão, mas isso pode ser ruim para nós dois. — Sebastian se recostou no tronco de um dos grandes pinheiros enfileirados atrás das roseiras em ruínas, visivelmente abalado pelos ferimentos negligenciados. — Significa que ninguém percebeu a carnificina que aconteceu aqui, e seremos os principais suspeitos caso alguém apareça agora e nos veja.

— Apesar de ser o Vineyard mais inútil em batalha que já viveu, até que você nã é tão burro — o herdeiro do trono elogiou. — Que tal resolvermos a questão dos seus ferimentos e do corpo do falso Alexander por hora, e deixarmos nosso pequeno mascote procurar os rastros de meu irmão antes que as coisas fiquem feias? O que me diz, Yen?

Yen não se dignou a responder. Sequer olhou para ele, na verdade, ainda silenciosamente sentado ao lado dos corpos, encarando nada em particular com aquele rosto ilegível típico dele.

Ao contrário de Soen e Sebastian, que se demoraram em incontáveis lances de escada e caminharam por um percurso longo e entediante até o jardim no flanco do castelo, o gato ágil e silencioso se esgueirou pela varanda no terceiro andar e correu furtivamente até o local. Yen já estava sentado naquele mesmo lugar quando chegaram, calado como quem acabara de ver um fantasma.

Labe MortemOnde histórias criam vida. Descubra agora