Capítulo 6

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Uma vez dentro da suíte, percebo que ela parece ter a metade do tamanho que tinha quando chegamos. Tenho certeza de que isso se deve à bagunça que deixei das roupas.

Simone joga sua carteira e o cartão-chave na bancada.

- O que foi? – ela pergunta em reação ao meu susto dramático.

- Nada, não. Apenas... – respondo, apontando para as coisas dela. – Nossa.

Ela me encara por algum tempo antes de parecer decidir que, independentemente do que eu esteja falando, não vale a pena perguntar. Então, ela se vira para descalçar seus sapatos perto da porta.

E se eu tiver de ir ao banheiro? Ligo o chuveiro para abafar os sons? E se ela roncar durante o sono e eu ouvir?

E se eu roncar?

Meu Deus.

Simone se dirige em silêncio para a cômoda e eu me dirijo para o armário. É a rotina silenciosa de um casal à vontade, que fica muito esquisito por causa da tensão.

- Não sei se você reparou, mas temos apenas um chuveiro – Simone informa.

- Reparei, sim.

O banheiro do quarto é glamouroso. O boxe do chuveiro é tão espaçoso quanto a minha cozinha em Campo Grande, e a banheira deveria vir com um trampolim.

Eu vasculho a gaveta, rezando para que, no surto da arrumação da mala no pós-apocalipse matrimonial, eu tenha me lembrado do pijama. Na realidade, não tinha percebido até agora quanto tempo passo sem nada além da minha roupa íntima em casa.

- Você costuma fazer isso à noite? – ela pergunta.

Eu me viro.

- Fazer o quê?

Simone deixa escapar um suspiro grave.

- Tomar banho.

- Ah – digo e aperto a camisola junto ao meu peito. – Sim. Eu tomo banho antes de dormir.

- Você quer ir primeiro?

- Já que eu tenho o quarto, por que você não vai na frente? – pergunto e, para que isso não pareça generoso demais, acrescento: - Depois, você pode cair fora do meu espaço.

- Que fofa você é.

Simone passa por mim e entra no banheiro, trancando a porta atrás dela. Mesmo com as portas da varanda do quarto fechadas, posso ouvir o som das ondas quebrando junto à praia. Mas não é tão alto que eu também não ouça o farfalhar do tecido enquanto Simone se despe, seus passos quando caminha descalça pelos ladrilhos, ou o gemido que faz quando entra debaixo do jato de água quente do chuveiro.

Me perco em pensamentos, quando a minha memória revisita o momento em que meus dedos tocaram o colo de Simone e minha imaginação assume o comando, me fazendo pensar em como seria a visão daquela pele tão alva e macia, completamente desnuda e molhada.

Incomodada com a temperatura que parece ter subido de repente, alcanço rapidamente a porta da varanda e saio até que ela termine o banho.

Em algum momento, durante a madrugada, afasto os lençóis, ainda meio sonolenta, e me levanto a fim de ir até a cozinha buscar um copo d'água, o que devia ter feito antes de me deitar.

Quase que nas pontas dos pés, atravesso a suíte, me esforçando para não provocar grandes ruídos, apesar da constante melodia do mar, por si só, ser capaz de abafar meus movimentos.

Abro a geladeira, retiro dali a jarra que coloco sobre o balcão, enquanto estico um braço para apanhar um copo no armário suspenso, e, tão logo meus dedos o alcançam, sinto um sopro quente próximo ao ouvido e preciso de muito autocontrole para não deixar o objeto de vidro cair.

ImperfeitasOnde histórias criam vida. Descubra agora