Especial de Natal

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Janeiro

- Senhoras Simone e Soraya Thronicke Tebet?!

- Aqui, aqui! – Disse eu, tentando apressar o passo enquanto era puxada por Simone, com a mão segurando a minha.

Estávamos quase atrasadas, mas o caminho pelos corredores de cor casca de ovo e portas iguais era conhecido, e chegamos diante da Assistente Social exatamente no momento da chamada de nossa vez. A quarta e derradeira entrevista.

- Olá, Sueli, querida! – Simone a cumprimentou enquanto eu recobrava o fôlego. – É sempre um prazer revê-la.

A simpática mulher de meia-idade olhou de mim para minha esposa, por cima dos óculos, notando uma gota de suor escorrendo pelo meu colo, e nos direcionou um sorriso gentil.

- Tudo bem, Soraya?! – Ela perguntou.

- Sim, claro! – Respondi, esfregando as mãos no vestido. – Tivemos um pequeno imprevisto, mas está tudo certo, graças a Deus chegamos no horário.

- Na verdade, não é bem um imprevisto, quando se trata da minha esposa tentando preparar o almoço, sabe Sueli?! – Simone comentou, dando uma piscadela para a assistente social.

- SIMONE! – Exclamei, tentando disfarçar com um sorriso. – Ela é bem engraçada a minha amada esposa...

A mulher estendeu o braço nos convidando a entrar na sala pequena, fazendo o mesmo em seguida. Simone e eu sentamos nas cadeiras de sempre, de frente à uma mesa com computador, onde Sueli acessava nossas informações pelo que esperávamos ser a última vez.

- Na verdade, Sueli, apenas para esclarecer o que a Simone quis dizer... – pigarreei, antes de prosseguir. – A verdade é que eu estou me dedicando bastante para aprender a cozinhar, porque assim, quando chegar a nossa hora... claro, se vocês nos acharem aptas, depois de toda a papelada que nós entregamos, e das visitas à nossa casa, até em momentos que nós não estávamos esperando... e, não sei como você se sai na cozinha, mas eu, particularmente, tenho muita dificuldade, e as pessoas que se oferecem para ensinar nunca dão receitas exatas, elas falam que as medidas são "no olho"(?)! Céus, o que isso quer dizer?!

- Meu bem, acho que ela já entendeu o que você quis dizer – Simone disse, fazendo um carinho suave em meu joelho. – Sabemos que o futuro a Deus pertence, mas estamos confiantes.

Sueli pegou algumas folhas de papel que saíram da impressora ao seu lado e os colocou diante de nós.

- Bom, essa entrevista é mais protocolar – ela iniciou a explicação. – Você, Soraya, como advogada, deve saber que nesse momento já estamos com a resposta e todas as etapas já foram cumpridas.

Ela tinha razão e esse era o motivo de eu ter estado ainda mais nervosa que o habitual naquele dia. Qualquer que fosse a decisão sobre a nossa inclusão no Cadastro Nacional de Adoção, àquela altura já estava inserida no sistema e não havia muito o que fazer a respeito.

Após seis meses de casadas, Simone e eu amadurecemos a ideia de aumentar a família e chegamos à conclusão de que não fazia sentido esperar muito tempo, já que a nossa escolha pela adoção como via de maternidade era ponto pacífico e o processo em si já seria demorado.

É claro que toda a empolgação que tínhamos não nos forjou para a crueza das fases burocráticas e para a incerteza do desfecho, sendo uma prova de fogo para a minha ansiedade.

- Amor, ela está falando com você... – Simone chamou minha atenção.

- Sim, me desculpe, eu me distraí. É que... nós queremos muito isso, Sueli – deixei uma lágrima escapar.

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