Capítulo 14

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- Alguém pode me explicar como minha mala pode estar pesando cerca de vinte quilos a mais agora do que quando cheguei? Só coloquei nela algumas camisetas e algumas pequenas bijuterias de lembrança.

Simone vem até meu lado da cama, pressiona a mala com sua mão enorme e me ajuda a fechá-la com esforço.

- Acho que é o peso da sua decisão questionável de comprar uma camiseta para Rodrigo que diz "Estive em Porto Seguro E Lembrei de Você" – ela diz e deixa um beijo estalado em minha bochecha.

- Você não acha que ele vai gostar do meu humor ácido? – pergunto. – Quer dizer, meu dilema é se dou a camiseta a ele antes ou depois de dizermos que estamos namorando.

Dando de ombros, Simone tira a mala da cama e olha para mim.

- Ele vai rir ou ficar emburrado e lhe dar um gelo.

- Sinceramente, consigo lidar com qualquer uma das opções.

Estou enfiando coisas em minha bagagem de mão e, assim, levo alguns instantes para perceber que Simone não atirou nada em mim imediatamente.

- Estou brincando, Simone.

- Está?

Consegui apagar essa história dos meus pensamentos durante a maior parte da viagem, mas a realidade está cutucando nossa bolha de férias muito mais cedo do que eu gostaria.

- Rodrigo vai ficar entre nós? – pergunto.

Simone se senta na beira do colchão e me puxa entre seus joelhos.

- Eu disse isso antes: é óbvio que você não gosta dele, e ele é meu irmão – ela responde. – Mas não estou disposta a permitir que ninguém fique entre nós.

- Simone... ele é gente boa.

- "Gente boa". Ele também é seu cunhado. Duas vezes agora – ela diz fazendo o número dois com os dedos.

Dou um passo para trás, frustrada.

- Meu cunhado que ficou traindo minha irmã durante dois anos.

Simone fecha os olhos e suspira.

- Não tem como...?

- Se ele estava saindo com a Thaila, do pêssego na bunda, dois anos atrás, então, com certeza, estava traindo Karine.

Simone inspira fundo e solta o ar lentamente.

- So, você não pode chegar como um elefante em uma loja de cristais e jogar isso na cara da Karine assim que estivermos em Campo Grande.

- Tenha um pouco de fé na minha capacidade de ser sutil – digo, e, quando ela reprime um sorriso, acrescento: - Não escolhi aquele vestido de madrinha, para que fique claro.

- Mas escolheu o biquíni vermelho.

- Você está reclamando? – pergunto, sorrindo maliciosamente.

- Nem um pouco – ela responde, mas seu sorriso desaparece. – Olha, eu sei que você, Karine e todos da sua família são próximos de um jeito que Rodrigo e eu não somos. Claro, viajamos juntos várias vezes e, no fim das contas, depois que nossos pais faleceram, só temos um ao outro, mas, na verdade, não conversamos a respeito dessas coisas. Não sei se cabe a nós falarmos sobre isso. Nem sabemos se é verdade.

- Mas, por hipótese, como você se sentiria se fosse verdade e ele tivesse mentido para Karine durante anos?

Simone fica de pé e preciso inclinar a cabeça para olhá-la. Meu primeiro instinto é achar que ela está chateada comigo, mas estou enganada: ela segura meu rosto com as mãos e se curva para grudar nossos lábios em um selinho demorado e, então, beija o topo da minha cabeça e me abraça.

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