O fantasma poeta

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Sou um fantasma (de transparência);
um passar de efemeridade.
Tenho um coração (de incoerências)
por sonhar impossibilidades.

Sou um fantasma de sombra vaga,
alguém distante - ainda que perto;
a brisa que um muro tapa -
o fim que me é por certo.

Sou um fantasma de irrelevância,
o voo de um pensamento.
Vivo amores sem concordância
e sorrio sem encantamento.

Sou um fantasma de longos dedos,
imperceptíveis ao tato humano.
Quisera um dia não ver meus medos,
mas eles repetem-se a cada ano.

Sou um fantasma que tem carência,
um sorver de líquidos lúgubres.
Sou uma infância que já é demência -
um ser de gestos insalubres.

Sou um fantasma de largas costas,
um rosto sem alguma expressão -
alguém por quem não se fazem apostas
e que tem para fora seu coração.

Sou um fantasma e é só isso.
Não sou mais que um mero expectro.
Em um dia desses não mais existo
e de um retrocesso serei retrospecto.

Agosto, 2017

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