Hospedaria de abstrações

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Na Hospedaria Da Existência
vi hóspedes fantásticos.
De cada um deles (em sequência)
contarei, de seus impactos.

Sem aviso ou recomenda -
no calor ou mesmo frio -
alguns deles visitavam,
margeando o grande rio.

Desde a infância que recordo
à juventude diletante,
descobri que os relógios
determinavam cada instante.

Num certo dia de inverno,
sem registro e sem nome,
um clarão anunciava
a chegada de um homem:

Olhei para fora e vi a Vida
irradiando-me em promessas.
E sua luz a cativar-me,
escondia-me das trevas.

Com o tempo, vi o Mal
em sua agressividade.
Parecia ter rancor,
me assustando, sua imagem.

Vi então a Alegria
em sua rápida passagem.
De vez em quando ela visita,
mas nunca fica pra hospedagem.

Um dia vi a tal Mentira
com seu ar de esnobe engano.
Desastrosa como é,
nunca vem sem causar dano.

E ao ver a Amizade,
vi que intensa é sua beleza.
Sorridente e solidária,
em seus olhos vi pureza.

A Saudade, vi também.
Me contava suas lembranças.
Vulnerável e sensível,
sempre sofre com mudanças.

Vi o Amor quando chegou.
Foi à noite e era tarde.
Ele entrou sem avisar,
como é de seu caráter.

Não esperava: vi a Morte
com suas órbitas vazias.
Me trouxe dor e com uma régua
media os meus poucos dias.

Vi ao longe a Esperança
com quem o tempo não tem chance,
mas uma névoa me cobria
o seu rosto radiante.

A Tristeza é minha amiga.
No meu quarto é que ela mora.
Vejo-a sempre - tão quieta!
Nunca sai, nem vai embora.

Tais encontros construíram-me
e me tornaram o que sou:
um coração prejudicado -
acorde são que destoou.

Meu maior sonho é poder ver
quem daqui só vi metade:
sua irmã, a Alegria -
falo da Felicidade.

Cachoeira, 2014

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