Revelação de si

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Vejo um homem lá no campo,
mas não o vejo claramente.
Sua figura - enorme pranto -
parece só - não ter parente.

Seu olhar de vidro morto,
igual não vi que atormente.
No fitar-me há desgosto -
matéria triste e reluzente.

Em seu corpo só há marcas
de sofrimentos pontiagudos.
Belezas dele - muito raras -
se perderam nesse mundo.

Aquele homem é como palha
e o é veementemente.
Ninguém vê nele algo que valha...
- fosse ao menos sorridente!

Como ver um amontoado -
a dor que me doeu;
um desespero debochado.
E foi tornando-se tão meu.

Num esteio aprisionado
qual um autor que ninguém leu.
Seu silêncio é tão valho
quanto um cego em lento breu.

O seu sentir é um seco galho
e seu rosto é igual ao meu.
Aquele homem é um espantalho
que assustou -me, pois sou eu.

Cachoeira, 2014

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