Parte 5

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Capítulo com 5.400 palavras.

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      Nossas cicatrizes são nossas superações em forma física e eternizadas. Podem ser escondidas com roupas, maquiagem ou até tatuagens, mas no fim, elas ainda estarão ali.
Algumas com lembranças bem nítidas, outras uma mísera sombra. Esquecida.

Parado na frente do espelho do quarto, somente de calça, ele observa cada uma. Sabe exatamente como as conseguiu.

A mão esquerda desliza sobre as marcas que já estão sumindo de sua pele. Virando um pouco de lado, de modo que possa ver suas costas, ele analisa cada parte.
Ele não sabia que podia ser tão forte assim, mas estava sendo. Seus pensamentos estavam tão altos que mal prestou atenção na porta do quarto se abrindo.

— Quais são as de hoje?

O pai de Ravi só entra no quarto, nem mesmo um "com licença.","pode entrar?" Nada disso. Ele acreditava que por ser dono da casa, podia qualquer coisa. De início, Ravi não responde. Só veste a blusa do uniforme.

— Matemática, física e química.

— Oh, você vai se sair bem nessa. — Sua fala é branda e calma. Nem parece o Hikon de sempre. — Você vai sair com seus amigos por esses dias?

Ajeitando a blusa do uniforme, ele olha para o pai. Incrível como nunca se sentia confortável perto dele.

— Somente sábado, vou com a Luísa ver o Michel cantar. — Mesmo sem ter tanta intimidade com a família,  prefere não mentir. — Inclusive, não sei o horário que volto para casa, pois vou com ele deixar a Luísa em casa pra ela não ir sozinha. Deixar avisado já.

Hikon balança a cabeça, cruzando os braços. Não tinha muito tempo que havia descoberto que o amigo do filho é gay. Tentou a todo custo deixar seu preconceito de lado, pois Ravi estava estudando e tinha Luísa.
O homem jurava que o filho gostava dela.

— Eles podem dormir aqui se quiser.

— Oh, my God, no! — Ravi sorri. Seria legal ter os amigos ali, mas não quer que eles conheçam o lado ruim de sua família. — Por que isso? O senhor nunca gostou que Reizel e eu Bring pessoas aqui em casa, muito menos para dormir.

Toda vez que Ravi tinha dúvidas sobre alguma palavra, falava do modo que sabia. Em um dos idiomas que foi criado
Com os anos ele pararia com isso.

— Esse é um caso a parte. Melhor do que vocês ficarem andando por aí a noite, sozinhos. Fale com os pais dos dois para dormirem aqui. Ou vocês na casa de algum deles.

A ideia era ótima, mas como não desconfiar? Só haviam duas opções: Ou tudo iria perfeitamente bem ou tudo podia acontecer da pior forma.
Ele sabe como o pai é preconceituoso, não quer expôr Michel a isso.

— Por que isso, pai?

— Olha, esse é um jeito de me desculpar, ok? Eu errei com você e estou arrependido.

Não era mentira. Ver Ravi tão abatido o atingiu em cheiro., mas que tal pedir desculpas e mudar?

— Quase uma semana depois? — O garoto coloca as mãos na cintura, parando por um momento de se arrumar. — Acho que ja é tarde, não? Além do mais, não precisa disso. Eu ja te conheço e sei que na mínima oportunidade, fará o mesmo.

Um detalhe interessante — e triste. — sobre o sofrimento é que chega um momento que as coisas machucam, mas não o suficiente para te fazer se calar.

— Você está certo.

Ele esperava tudo, gritos, uma repressão, surra, qualquer coisa, menos isso.

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