Parte 6

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     A chuva não estava tão forte. Embora caísse água do céu, estava um clima fresco, mas ainda assim, ele podia adoecer.

Isso era um impedimento para Ravi sair quase correndo de onde estava? Não.

— Ravi, espera. — Michel estava atrás dele, se molhando também.

Ótimo, os dois podiam adoecer.
O mais novo tentava ignorar, fingindo que não estava escutando seu nome ser chamado. 

— Eu disse pra esperar. — Alçando-o, Michel segura sua mão o puxando para si.

O rosto dele está molhado pelo chuva e pelas lágrimas. Michel nunca chorava, mas agora quer desabar. 

— Larga, eu falei que não quero mais ser seu amigo. — Ele tenta puxar a mão, mas é inútil.

Michel é maior e mais forte que ele —A diferença de altura deles diminuiu, Ravi tem 1;72 agora.—  e está usando isso a seu favor.

— Me diz porquê. —Parecia uma súplica. — Diga o motivo e eu te deixo em paz.

Os dois estavam em uma calçada, a rua pouco movimentada por causa do horário, não muito distante do local de antes. Maria Luísa podia vê-los, ela está sentada em uma mesa do lado de fora. 

A mão do maior ainda segura a sua, não vai soltar.

— Porque não, eu não posso me permitir.

— Permitir o que?

— Não importa. Me solta, me deixa ir, Michel! Que inferno, não faz as coisas serem mais difíceis!

Uma nova tentativa de se soltar do aperto de Michel acontece, em vão.

— Não vou te soltar, quero entender isso. Nós somos amigos há quase seis meses, eu fiz alguma coisa errada?

Alguns carros passavam por ali e vez ou outra, por pouco, não os molhava.

— Não, Você não fez nada de errado. Eu só não pos-

Passando a mão na barba, Michel o interrompe.

— Não pode o quê, Ravi? Droga, fala direito.

Nem em pensamento tinha conseguido admitir aquilo. Porque tudo tinha que ser tão difícil? Ele não podia simplesmente amar? Não podia simplesmente se aceitar como era? Não, depois de tanto tempo sendo reprimido, sendo atacado, era quase impossível se deixar ser.

— Je ne peux pas me permettre de t'aimer. — Ele fala, achava que falando em francês seria mais fácil, aliás o outro não entenderia.

Porém, quando o aperto em sua mão fica mais leve, os dedos do amigo deslizam por sua palma, ele percebe que talvez o outro tenha entendido sim.

— Eu não sei se entendi.

— Não era pra entender, por isso falei em-

— Não, eu entendi o que você disse. Só não entendi em que contexto você está dizendo isso. — Ele da um passo para trás. — Estávamos vivendo bem, achei que nossa amizade era verdadeira, e agora você muda do nada, da água para o vinho, não entendo o motivo disso, Ravi. Em um momento estávamos tranquilos você até me abraçava, mas do nada começou a fugir do meu toque, como se sentisse nojo. 

Ouvir essas palavras é doloroso, ele nunca sentiria nojo de Michel. Não sem um motivo  grave para isso, porém o garoto não tinha feito nada. O problema era ele. Era o fato dele não conseguir lidar com quem é.

— Eu não sinto nojo de você. 

O mundo ao redor deles não era importante, os carros continuavam a passar na lama, a chuva fina continuava a cair, à noite continuava passando, mas Michel só queria entender o que estava acontecendo.

A Tudo Que Somos | Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora