Parte final

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          As horas passavam arrastadas e Michel já estava em surto. Não parava de ligar para Ravi, até mesmo para Maria Luísa e ela também não atendia.

A chuva não parava e ele até achava engraçado como tudo relacionado a eles parece ter chuva envolvida.
Mas poxa, logo agora? Como acharia Ravi assim?
Ele podia estar em qualquer lugar.

Haviam várias  possibilidades, mas somente uma delas fazia sentido, então Michel sabia onde podia acha-lo.

E ele estava rezando para achar, fez até promessa.

~°~

Lúcia estava assistindo  uma novela quando o telefone fixo da casa tocou. Um número estranho, desconhecido pela bina, mas ela atendeu mesmo assim.

— Não tenho filha, pode matar e comer. — Ela fala assim que atende a ligação, jurando ser mais um trote dizendo que matariam sua filha se ela não depositasse dinheiro em uma conta duvidosa.

A risada do outro lado da linha a faz parar na hora, desistindo de desligar o aparelho.

— Com uma mãe como você, não precisa de inimigos.

— Não tenho filha mesmo, tenho um filho. — Ela ri, encostando na parede ao lado do telefone fixo. — Como conseguiu me ligar hoje?

A pessoa do outro lado da linha parece estar em um banheiro, pois tem um eco na voz.

— Um amigo me arrumou o telefone.

— Amigo? Tenho medo das suas amizades aí dentro. — Ela fala de forma séria. Não gostava da hipótese de Felipe ter amizade com líderes de gangues ou coisas do tipo, mas ela sabia como funcionava a sobrevivência dentro da prisão. Ainda mais para ele, um policial. Por sorte, as amizades dele eram mais tranquilas, nada realmente perigoso. — Estava com saudades.

— Eu também estava, querida. Há quanto tempo não ouvia sua voz? Anos ... Continua linda.

Lúcia sorri, um sorriso acompanhado de olhos marejados, mas ela não iria chorar. O sentimento é de felicidade. 

— Você quer que eu siga minha vida e fica sendo um galanteador? Difícil, em Felipe?

— Eu te amo e você é a mulher mais linda do mundo. Te elogiar é inevitável. Eu sei exatamente como você deve estar agora.— Ele encosta na parede fria do banheiro. — Um braço cruzado, a mão apoiada na parte de dentro do cotovelo, segurando o telefone perto do ouvido e com a cabeça de lado. Você está sorrindo e seu rosto está corado e posso apostar que o cabelo está preso em um coque alto que você fez de qualquer jeito quando acordou.

Lúcia se mexe, desfazendo a pose que estava. Ele acertou tudo, como sempre. A conhecia tão bem que era estranho as vezes.

— Seu bruxo do caralho.

Felipe ri do outro lado, sabia que estava certo.

— Como ele está?— Está falando sobre Michel. — Está em casa agora? 

A pergunta era somente curiosidade, ele não conseguiria falar com Michel ainda.

— Ele está enlouquecendo. O namorado sumiu, aí é tão complicado. 

— Como assim o namorado dele sumiu? — Preocupado, ele fecha a tampa da privada do banheiro e se senta sobre ela.

— Ninguém sabe nada. Michel foi até a casa dele e só me mandou mensagem avisando que o Ravi não estava mais morando com os pais e desapareceu. — Ela fala e suspira. — O garoto é filho do Hikon, o atleta. 

— Ele fugiu de casa? Nosso filho namora um garoto rebelde? — Ele ri.

— Acho que foi expulso. O cara não é gente boa com os filhos, quando Michel me der notícias, e eu conseguir falar com você, te explico tudo.— Ela fala com calma. Tentando escutar se era o portão de casa se abrindo ou de algum vizinho. — Como você está com isso?

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