Salvador

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Eu não conseguia dormir, era quase duas horas da manhã quando despertei completamente sem sono.  Olhei para fora observando o escuro da madrugada e me perguntei se alguém me observava.

 Levantei sentindo um arrepio estranho pelo corpo, coloquei o roupão e fui até a cozinha procurar algo para comer. A geladeira estava quase vazia, a última vez que fiz compras foi antes de ter sido sequestrada... só de lembrar meu corpo doía, a mera lembrança de estar acorrentada... do barulho de zíper se abrindo... da simples sensação de que eu seria abusada me fazia arfar.

 Olhei para a garrafa de Saquê quase cheia, havia ganhado pouco antes de receber alta. Peguei a garrafa e caminhei até a pia, tirei um copo do armário, mas pensei melhor. Quem precisava de copo? Fui até a sala com a garrafa em mãos, meus passos estavam pesados, eu sentia algumas lágrimas se aglomerarem. Me joguei no sofá e virei a bebida na boca como nunca havia feito antes, eu precisava do torpor, precisava entrar em um mundo do qual eu estava "segura", e mais, precisava esquecer o que havia acontecido - ou quase acontecido - se não fosse por... Sasuke, mais um motivo para beber.


Os goles desciam queimando, rasgando a minha garganta, as lágrimas caindo juntas pelo rosto

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Os goles desciam queimando, rasgando a minha garganta, as lágrimas caindo juntas pelo rosto. A sensação de me esvaziar me sucumbia aos poucos, como se todo o peso dos últimos dias simplesmente começassem a desaparecer. Toda raiva, medo, angústia se dissipavam conforme a bebida me preenchia deixando-me tonta, bêbada.

Levantei sentindo o corpo leve, o rosto ardia e as pernas não pareciam obedecer muito bem aos meus comandos, mas no fim me conseguiram levar até a sacada do quarto no andar de cima. Subir as escadas era um desafio, manter-me de pé sem cair para trás parecia uma missão impossível, mas consegui, ao menos eu ainda era capaz de subir as escadas.

 Com dificuldade abri a porta da sacada, meu corpo vacilou e eu tive que me segurar no balaústre com toda a força. Dei mais alguns goles para tomar coragem, minha mente rodopiando sem ter muita certeza do que fazia, meu corpo agora não me respondia mais.

 - Ei, seu grande filho da puta! - gritei, minha voz embargada, ainda assim feroz - Você não quer me pegar? Então vem, seu desgraçado!

 Ouvi o barulho de vidro se partindo, eu havia acabado de quebrar a garrafa no balaústre sobrando apenas um pedaço quebrado, e fatal, nas minhas mãos. Meu corpo se movimentava de um lado para o outro como se enfrentasse alguém, eu quase podia vê-lo, aqueles olhos grotescos me encarando, aquelas mãos abrindo o zíper e o sorriso sádico nos lábios. Eu queria matá-lo, queria enfiar os cacos em seu peito e feri-lo como ele fez comigo, eu queria quebrá-lo como ele me quebrou.

 - Vem! Venha me pegar!

 Meu corpo balançava na sacada, eu fechava os olhos na intenção de me concentrar no meu inimigo diante de mim, era como se minha mente me transportasse para o calabouço. A sensação de impotência me atingiu, podia sentir a raiva surgindo, podia sentir o ódio me dominando e meu chakra subindo, aos poucos, pelos meus braços. A raiva se transformou em ira, algo que eu sentia que não podia controlar, dominava quase todo o meu corpo agora. Eu estava pronta para pegá-lo quando senti uma presença atrás de mim. 

 Me virei com toda a força que pude e soquei, com o chakra concentrado, o vácuo deixado por alguém, se eu tivesse pego em cheio ele estaria morto.

 - Sakura.

 Ouvi sua voz me chamar, era como um canto doce, gentil, tentador.

 - Que...em.. está aí?

 Perguntei com dificuldade, as palavras pareciam engasgar.

 - Ah Sakura... Tão linda...

 Senti minhas mãos deixarem a garrafa cair espatifando-se no chão com os demais pedaços. Andei para trás tentando procurar a voz, e seu dono. Estava tão tonta que não percebi os cacos sob os meus pés, apenas tive tempo de assimilar a dor quando um dos cacos cortou o metatarso do meu pé esquerdo.

- Agr!

 Gemi enquanto tentava andar com apenas a perna direita em equilíbrio, mas o álcool parece arrancar de mim a gravidade. Meu corpo cambaleou para trás e eu senti o balaústre encostar nas minhas costas e quando dei por mim meu corpo estava em queda. 

 Fechei os olhos sentindo as lágrimas escorrerem. Tudo pareceu lento demais, talvez por conta da bebida não sei, mas eu estava caindo em câmera lenta o que me deu tempo o suficiente para pensar em Kakashi uma última vez. Seus olhos, seus beijos, suas mãos... seus braços, o par de braços que agora me abraçavam impedindo a minha morte. Eu sabia que ele estaria lá para me segurar, sabia que era ele o meu salvador.

 Abri os olhos para vê-lo, senti seus braços em volta do meu corpo me segurando com leveza, doçura e carinho. No entanto, ao abrir os olhos não vi Kakashi, nem Naruto ou Sasuke, mas sim um par de órbitas que eu nunca havia visto, mas que eu soube naquele instante quem era o dono da voz.

 No entanto, ao abrir os olhos não vi Kakashi, nem Naruto ou Sasuke, mas sim um par de órbitas que eu nunca havia visto, mas que eu soube naquele instante quem era o dono da voz

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  - Sakura, Sakura... o que seria de você se eu não estivesse aqui, minha coelhinha?

- Quem é você?

 Foi tudo o que eu pude dizer antes de sentir minha mente se afastando, apagando aos poucos, mas a tempo de ouvi-lo dizer Asui Yamihiko.





 

Cerejeira [KakaSaku]Onde histórias criam vida. Descubra agora