Invasão

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Sarah

Eu sabia que estava em um jogo perigoso.
Na verdade, um verdadeiro campo minado.

Só que isso era mais forte que eu.

Quando conheci a Juliette, eu não esperava que ela seria a minha cliente, nem tampouco herdeira da família Freire e o pior, que estaria com uma aliança no dedo e prestes a casar. Tudo aconteceu muito rápido. Como se o universo gostasse de brincar com a minha profissionalidade e dissesse assim:

"Você está muito correta... Que tal algo que pode gerar uma saída do emprego e um escândalo internacional?"

E, cabum!
Juliette se materializa atrás de mim, eu derramo café em suas roupas e encantada com aquela aura angelical, ofereço minha camisa. Ela sorri e me ganha. Vai embora e não me diz seu nome. Contudo, no dia que se segue, ela retorna e não para por aí. Ela sorri novamente, autoriza minha presença, me olha tão profundamente que me envergonho. E então, passo mesmo a crer que sim, eu seria capaz de amá-la tão profundamente que nem sei. E se tudo ainda estava "tudo bem", a vida decide rir. E ela gargalha com cada mínima cena que me proporciona.

O quarto, o reencontro, os toques.
Tudo, tudo para me fazer entender que eu a teria próxima, mas nunca como minha.

A manhã na empresa me fez refletir que nossos mundos eram, por demasiadamente, diferentes. Se ela era CEO, herdeira e completamente importante no mundo dos negócios, eu, porém, era apenas uma fotógrafa de uma agência de casamentos. Que por um acaso esbarrou com ela, que por um acaso começou a gostar da sua presença, que por um acaso estava se apaixonando por ela. E talvez fosse por isso que eu não conseguia pôr um ponto final de agora em nossas aproximações.

Eu ainda não aprendi como recusar seus abraços e seu olhar atento, nem mesmo ser ou dar o motivo para ouvir aquela gargalhada gostosa sair de sua boca.

E sim, eu tenho absoluta certeza que fiz a maior burrice da minha vida em, pelo calor do momento ou quem sabe dos seus braços: chamá-la para ir comigo a Pittsburgh, conhecer meus pais.

E ainda bem que ela não aceitou.

O que diabos eu diria?
"Pai, mãe. Essa é a Ju, a garota que sou apaixonada, mas que ela é noiva e eu estou organizando seu casamento"?

— Posso ver a fumaça saindo da sua cabeça, Sarah. Está tudo bem?

— Ah? Ah, sim. Claro que sim. — Assenti, voltando a encarar seu rosto.

Roberta me olhava como era típico dela. Com um completo afeto, preocupação e ternura de quem desejava ajudar de alguma forma.

— Não parece.

— Mas quem fica bem depois de uma reunião daquelas? — Gilberto bufou, estendendo dois copos em nossa direção — Não sei qual é pior. A senhora herdeira mor ou a senhora megera encostada.

Ri por um instante, negando com a cabeça.
A verdade é que tudo era extremamente pior naquela situação.

— Eu estava prestes a dar uma voadora quando ela disse "patético", sério. Quem ela pensa que é?

— Apenas a herdeira da família Freire, Gilzinho. Apenas.

— Pode ser quem ela quiser, meu amor. A humanidade e a humildade passaram longe e dando dedo pra ela.

— Mas ela especificou que não era patético o que apresentamos, Gil. Mas sim, o excesso de coisas que a megera encostada propôs.

— Isso é verdade. Da onde iríamos tirar um cisne de gelo? — Roberta soltou um riso nasal, negando com a cabeça — Achei bem melhor terem discordado mesmo.

Say Yes For Me | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora