Primogênita

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Narrador

Uma movimentação a parte fez os sentidos de Roberta e Gilberto ficarem aguçados.
Eles encararam fixamente a porta e viram quando Sarah passou por ela. A loira não disse absolutamente nada, apenas passou com uma mochila preta nas costas e lhes deu um aceno. Estava abatida. E talvez muito mais que isso. Sarah estava séria e sem brilho, nem mesmo cor em suas bochechas.

Fazia apenas uma semana desde que visitaram a chácara que iria ocorrer a festa de casamento de Juliette e Rodrigo. Sarah sabia bem que Roberta e seu amigo também visitaram, contra a sua vontade, a Igreja São Domingos. Sabia que todas as flores estavam decididas, assim como os lustres, o buffet, o bolo, os doces, o proceder da cerimônia, tudo. Ela sabia tudo.

— Você vai ou eu vou?

— Melhor eu ir, Robs. — Gilberto apertou seu ombro — É capaz de você falar alguma besteira.

Ela não rebateu, apenas assentiu.
Gilberto pegou o convite cor de vinho e de selo branco. Havia dois ramos de margaridas presos ao selo com as iniciais J&R marcadas nestes. Ele foi em direção a sala de sua amiga e bateu à porta.

— Licença. — Pediu, adentrando — Há um envelope pra você.

Aquele par de olheiras e a opacidade de seus olhos revelavam que não era um bom dia. Na verdade, não estava sendo um bom dia há muito tempo. Sarah encarou o envelope e sorriu, suspirando em seguida. Estava tomada por uma tristeza que tinha nome, sobrenome, endereço e um perfume doce que impregnou em seu coração.

— Você não vai abrir?

— Não tem porque abrir. — Retrucou séria, jogando em cima dos papéis.

— Ô minha amiga. Não tem porque você ficar nessa, isso sim. — Suspirou, indo ao seu encontro. Gilberto apertou seus ombros e deixou um beijo casto em seus cabelos loiros. — Por que não tentam uma outra vez? Não sei... Nos filmes dá certo essas coisas. Você pode entrar no casamento e dizer que a ama.

Após um riso fraco e visivelmente frustrado a mulher encarou seus olhos.

— Ela decidiu não tentar. E acredite, não tem volta. — Sarah lutou bravamente para segurar suas lágrimas, mas não conseguiu. Aos poucos, o amontoado de lágrimas quentes banhou seu rosto e ela enxugou com a manga do casaco — Isso é... Rídiculo. Chorar por uma mulher que vai se casar.

— Acredito que porque é amor. Se não fosse, não doía tanto.

— Amor. — Soltou um riso fraco — De qual lado mesmo?

Derrotado, seu amigo assentiu em silêncio e com um outro beijo em seus cabelos, ele a deixou no próprio escritório. Sarah encostou a cabeça no estofado da cadeira giratória e fechou os olhos por um momento. Aquelas lembranças do verão passado invadiram sua mente como um tsunami sem freio, destruindo e levando consigo todo e qualquer resquício de paz e sanidade ainda existentes em sua alma. Ela tentava esquecer de tudo aquilo dia após dia, mas era cada vez mais massante. Ninguém poderia dizer que ela não tentou. Porque apesar de sua raiva, ela quis fazer dar certo. Não quis? O que adiantaria ouvir Deus, o mundo, o diabo e a família Freire se nada, absolutamente nada mudaria aquele cenário?

Tentando livrar-se daquilo, ela sacudiu a cabeça e respirou fundo. O envelope ainda estava ali. Ela sabia do que se tratava, assim como sabia que não tinha coragem de vê-lo internamente e ficar sã, isenta de emoções.

— Você está acabando comigo, Juliette. — Ela tocou no envelope com a ponta dos dedos. Era macio, cheirava a rosas e era tão delicado como ela. — Exatamente como você planejou... — Sorriu fraco — Se bem que foi a única coisa que deixaram você decidir.

Say Yes For Me | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora