Das coisas não ditas

713 86 24
                                    

O dia amanheceu na Residência dos Andrades. Mesmo na penumbra por causa das enormes cortinas que cobriam as janelas do quarto, era possível ver raios solares atrevidos adentrando pelas frestas. O silêncio matinal da propriedade dava espaço para o cacarejar dos galos e os cantos dos pássaros que voavam e faziam seu ninho naquela orbe terrestre.

Juliette coçou os olhos e se espreguiçou, ainda tomada pela falta de sono noturna. Se remexeu e naquele instante, seu corpo parecia ter começado a captar reações e sentidos. Pois logo sentiu um braço pesar, ainda que suave, em sua cintura. Ouviu a respiração tranquila da mulher atrás de si e abriu uma brecha dos olhos, apenas para a encarar. O lençol branco cobriam seus corpos nus. Sarah ainda estava ali, dormindo com um biquinho desenhado nos lábios, de cabelos dourados rebeldes pelo travesseiro. Ela fez um carinho na bochecha da mais alta e virou, abraçando seu corpo quente por debaixo das cobertas. Inalou seu cheiro natural e sorriu, recordando da noite anterior, que nem mesmo ela sabe como se deu, mas que marcou sua pele e seu coração.

Na noite anterior...

— Sah, eu trouxe o seu chá

Juliette havia acabado de preparar um chá que aprendera com sua mãe, era de gengibre. Nada agradável, mas definitivamente eficiente. Subiu a escadaria como uma verdadeira agente de uma missão impossível que não poderia deixar nenhuma gotícula daquele líquido se perder.

— Só um minuto, Ju. Já estou saindo. — Gritou do banheiro.

Juliette apenas resmungou um "" e deixou a xícara em cima da cômoda ao lado. Havia trocado suas roupas quentes por um robe preto de cetim, uma vez que a temperatura aumentou após ajudar Abadia com os últimos ajustes das comidas do dia seguinte, estando próxima ao fogo.

Deitou, sem nenhuma cerimônia. Não necessitava disso estando extremamente cansada do dia que se passou. Apesar que dessa vez, era diferente. Estava cansada, mas satisfeita. Totalmente ao contrário de quando estava na empresa com um emprego monótono, pessoas incrivelmente tóxicas e o estresse consumindo cada parte da sua existência.

— Só passei pra desejar uma boa madrugada, meninas. — Abadia falou da porta, com um sorriso estampado no rosto — Muito obrigada por me ajudar, Juli.

— Não há de que, Aba. Boa noite! E tentar descansar.

— Digo o mesmo. Hoje foi puxado. — Riu, voltando a fechar a porta.

— Quem era?

A voz ganhou sua atenção e Juliette virou o rosto, a encontrando ali. De pé, com um top esportivo de academia e uma calcinha box. Sarah estava secando os cabelos molhados, alheia ao olhar de Juliette. E pior, um pouco trêmula por causa do frio que sentia.

— Desculpa, eu esqueci da calça. — Foi rapidamente à mochila, pegando uma cinza moletom.

— Era sua mãe, respondendo a pergunta. — Juliette sorriu de canto, ainda a observando — Veio dar boa noite.

— Oh, sim. — Ela foi em sua direção e se inclinou para alcançar seus lábios — Tá linda.

— E quando você não diz isso?

Sarah meneou a cabeça e ganhou outro beijo rápido em sua boca.

— Volto em um instante.

— Pega água pra mim?

A loira resmungou um sim rapidamente e saiu, escadaria a baixo. Ainda havia na mente de Juliette a sua imagem seminua. E céus! Como uma pessoa podia ser tão gostosa assim? Juliette pensava.

Espera! Ela estava mesmo dizendo que uma mulher era gostosa?

— Puta merda, Juliette. — Se repreendeu, afundando o rosto no travesseiro.

Say Yes For Me | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora