No Santuário, Saga e Dohko estavam sentados à mesa da sala de registros com uma pilha de pastas retiradas no arquivo de pessoal. Tratava-se das fichas de antigos criados e prestadores de serviço do Santuário que os dois analisavam em busca de interessados em voltar ao trabalho não só ali como também no Condomínio Olympus. Precisavam de gente para a portaria, limpeza, pequenos serviços de manutenção e, dada a natureza dos moradores, era preferível que fossem pessoas que possuíam ligação prévia com o Santuário. Para isso, Dohko recebeu carta branca da Fundação GRAAD a fim de contratar as pessoas necessárias com salários acima da média e cláusulas de sigilo absoluto. Não que alguém fosse falar, havia desde sempre um pacto de silêncio entre as pessoas das redondezas, mas fazia parte da política da poderosa fundação japonesa reforçar esse silêncio com um pagamento generoso.
Com o passar dos dias em sua nova função no alto da hierarquia do Santuário, Dohko percebeu que não conseguiria fazer tudo sozinho como pretendia. Precisava de alguém para cuidar dos aposentos do Mestre, das vestes cerimoniais, de sua agenda, entre outras coisas, então pediu a Saga que lhe recomendasse alguém.
– Esse aqui – Saga falou entregando uma das fichas a Dohko. – Arvanitakis. Foi meu criado pessoal quando eu estava no seu lugar. Muito eficiente, calado, discreto, conhece como tudo funciona no Santuário. Não vai nem precisar de treinamento. Não sei o que houve com ele depois que eu fui deposto, mas é provável que queira voltar. Pelo que me consta ele gostava do serviço e agora o salário bem maior é um bom atrativo.
– Grego, trinta e nove anos... – Dohko leu na ficha. – Parece bom. Tente convencê-lo a voltar. Só não gosto muito dessa palavra criado. Diga a ele que será meu assistente pessoal.
Saga assentiu e seguiu com as indicações de pessoal. Logo estavam com uma boa quantidade de rapazes e moças selecionados e Dohko incumbiu o próprio Saga de ir atrás dos escolhidos para saber se tinham interesse em voltar. Antes de sair para um compromisso inadiável, o Mestre fez mais uma exigência:
– Ah, leve o Kanon.
– Eu posso fazer isso sozinho, Mestre – Saga falou já pensando em intermináveis horas de constrangimento com a proximidade forçada com seu gêmeo. Desde o retorno estavam se dando bem na medida do possível, mas evitando proximidade demais.
– Prefiro que faça isso com o Kanon – Dohko reforçou em um tom claro de ordem.
– Como quiser, senhor – Saga aceitou a contragosto e revirou os olhos assim que ficou de costas para Dohko. – Vou ver se ele está em casa para irmos cuidar disso agora.
Resmungando, Saga pegou um carro e foi buscar Kanon no condomínio. Encontrou-o sozinho em casa desembalando seus novos eletrodomésticos. Estava feliz mas seu semblante mudou quando ouviu a missão dada pelo Mestre.
– É sério isso? – Kanon perguntou com um longo suspiro.
– Não tenho culpa. Eu disse a ele que podia fazer sozinho, mas ele estava irredutível, então deixe de birra. Vamos ter que conviver de qualquer jeito, melhor já ir se acostumando.
– Não querer muita proximidade com quem me encarcerou por anos não é exatamente birra.
– Já passou. Supere.
– Eu já superei, acredite. Nem estaria aqui se não tivesse superado. Eu só não quero ficar brincando de irmãozinho por aí. Estou velho para isso.
– Anda logo, vamos fazer esse trabalho e voltar a tempo do almoço.
Sem alternativa, Kanon deixou o que estava fazendo e acompanhou o irmão.
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Sorrisos, Segredos e Enganos
FanfictionRevividos após a última Guerra Santa, os Cavaleiros de Ouro têm a chance de descobrir como viver pode ser extraordinário.