Capítulo V

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Depois de saber mais sobre o passado de Dohko, Shina esteve a ponto de desabafar, de contar a ele que nem sabia direito o que estava fazendo em Tóquio, porque afinal Seiya já tinha atenção feminina demais e ela era só mais uma das três, e com certeza a menos importante. Mesmo assim ela sentia que precisava estar lá, queria que ele acordasse e soubesse que ela estava por perto o tempo todo.

Acabou desistindo de falar porque apesar da aparência e da postura amistosa, Dohko ainda era o Mestre do Santuário, o topo da hierarquia dos cavaleiros, e ela achava que não devia ficar dividindo seus problemas amorosos com ele.

Quando terminaram de comer, Shina voltou para o hospital da Fundação GRAAD novamente na companhia de Dohko. Os dois fizeram o pequeno trajeto entre o restaurante italiano e o hospital a pé, lenta e despreocupadamente, conversando sobre as mudanças no Santuário. Vez ou outra Shina fechava brevemente os olhos e erguia o rosto para sentir melhor o vento na pele agora que já não estava mais de máscara.

– Está gostando da liberdade? – Dohko perguntou quando chegaram à entrada do hospital. – Percebi que estava apreciando a brisa.

– É, mas aqui é fácil, ninguém me conhece. Não sei como vai ser no Santuário.

– Vai acostumar logo, tenho certeza.

– Tomara. Boa noite, Mestre.

– Boa noite, Shina. Cuide bem do seu amado.

– Ah, cala a boca – ela resmungou envergonhada, arrancando uma risada de Dohko.

O Mestre continuou na porta do hospital observando Shina até ela entrar e sumir de vista. Depois ele seguiu seu passeio a pé pelas ruas de Tóquio pensando nesse amor selvagem que ela sentia por Seiya. Desejava sinceramente que o cavaleiro se recuperasse e correspondesse a esse sentimento, que os dois pudessem pelo menos tentar agora que o mundo estava em paz. Eram jovens, mereciam essa chance, embora ele não conseguisse visualizar nada duradouro entre os dois.

Enquanto caminhava, Dohko repassou a noite mentalmente. Foi uma saída agradável, leve, apesar do humor ácido de Shina. Na verdade, ele até gostava disso, achava graça nesse jeito ranzinza de encarar a vida principalmente porque sabia que ela agia assim para se proteger.

Porém, misturadas às cenas do jantar com ela, surgiram lembranças de outro, ocorrido muitos anos atrás, onde a pequena cozinha da Casa de Libra estava iluminada, com louças novas e um vaso de flores do campo sobre a mesa.

Sua chinesinha, aos oito meses de gravidez, servia a comida que preparou com todo amor, e ele quase explodia de felicidade, sem imaginar que aquele jantar seria o último com ela.

-S-A-I-N-T-S-

No Santuário, os cavaleiros de ouro reencontraram-se no refeitório do alojamento depois de terminarem mais um dia de trabalho nas reformas.

– Cara, eu tô morto – Milo reclamou alongando as costas cansadas.

– Ah, eu até curti! – disse Aldebaran fazendo o mesmo. – É bom me sentir útil.

– Bom o cacete, Debas – Máscara da Morte resmungou.

– Não reclama, não. Você não fez nada hoje. Só ficou zanzando por lá, perturbando, conversando, atrapalhando quem estava realmente trabalhando.

– Vocês acharam que eu não ia aproveitar esse dia sem o general Dohko dando ordens?

– Então aproveite o resto dele porque o Mestre estará de volta muito em breve – Mu disse rindo. – Vou buscá-lo em algumas horas.

– Mas já? Espera aí, Carneiro! Não deu nem pra sentir o gostinho.

Mu riu como quem dizia que só estava cumprindo ordens e sentou-se para esperar os criados servirem o jantar.

Sorrisos, Segredos e EnganosOnde histórias criam vida. Descubra agora