Amor

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— Pornô.

Se Finney Blake soubesse que seu primeiro emprego para juntar dinheiro para sua futura faculdade seria tão humilhante, teria optado por pedir esmola nas ruas. A vida não era fácil e ele sabia que os trabalhos obviamente desgastavam as energias humanas e as saúdes mentais que mais pareciam inexistentes, mas nada havia o preparado para a novidade.

Era mais um dia na cafeteria Stagg's, cujo dono era um amigo distante de seu pai, acabando por facilitar a conquista da vaga. A rotina seguia normalmente: pessoas chegando para tomar café da manhã, o filho do dono, Griffin Stagg, correndo pelos cantos da loja sem atrapalhar, clientes indecisos, falta de troco no caixa, e todos os problemas que uma cafeteria comum enfrenta.

Então o dono do estabelecimento adentrou o local, pisando fundo com a postura engomadinha e o sorriso satisfatório embaixo de seu bigode. Finney, a princípio, pensou que seria uma boa notícia.

E, quando ouviu o que o homem teria a dizer, continuou acreditando nessa mentira.

— Vamos implementar uma novidade para atrair clientes. - O dono dispensou os cumprimentos e direcionou-se direto ao assunto enquanto tamborilava os dedos na mesa.

Finney se lembrava de estar retirando alguns pães de queijo do forno para colocá-los na vitrine quando começou a escutar a conversa do gerente, que estava ali para auxílio, e do outro homem. Trabalhar com vendas era difícil e ter um negócio para contribuir com a frequência seria ótimo, por isso, animou-se ao ouvir a ideia.

Parecia genial realizar cafés com base em QUALQUER palavra dita pelo cliente, causando curiosidade e criatividade.

Entretanto, esqueceram-se de considerar um simples detalhe: sempre existiria um idiota para dizer algo estúpido. Então, QUALQUER palavra agora mais parecia uma maldição do que uma liberdade alheia.

Pela quinta vez no dia, cerca de três meses depois da implementação da ideia, Finney estava corando de constrangimento por culpa de outros adolescentes babacas e risonhos, que muito provavelmente eram bullies em suas escolas, fazendo pedidos desconcertantes. Ser um funcionário no qual era obrigado a recolher os pedidos - ou seja, um garçom - trazia uma desvantagem sem tamanho.

— Perdão, não escutei. - Finney forçou um sorriso e mentiu descaradamente. — Qual palavra o senhor gostaria de testar na nossa nova receita?

— Por-nô. - O garoto repetiu, desta vez em sílaba para exaltar sua glória e falta de senso.

Novamente, as risadinhas dos outros garotos com aparência semelhante estalaram na mesa, enquanto o maldito que havia realizado o pedido sorria orgulhosamente.

Finney suspirou e olhou o relógio. Eram apenas seis da noite e ele saía às dez. Quão mais adolescentes de sua idade ele seria obrigado a aguentar?

Mas também não tinha tanto assim para reclamar. Ao menos, aumentava o fluxo de clientes após criarem esses desafios bobos de pedir palavras vergonhosas e de baixo calão e, consequentemente, caía um pouquinho mais de dinheiro em sua conta bancária no final do mês.

— Certo, pornô... - Ele sussurrou enquanto anotava a palavra com o garrancho mais feio possível. — Alguma preferência de sabor ou algum ingrediente que deve ser evitado?

— Não, apenas quero uma bebida pornográfica.

Nojento. Graças aos céus, os pedidos finalizados eram trazidos sem que os outros clientes soubessem o tema escolhido - como seria a reputação daquela cafeteria se tivesse que dizer em voz alta os temas? E se tivessem crianças por perto?

— Está bem.

Finney ainda pôde ouvir algumas risadas e parabenizações pela tamanha coragem e definitivamente falta de vergonha facial ao pedir uma bebida com um tema pornográfico. Seus ombros estavam caídos de cansaço e havia suspirado mais vezes do que pôde contar naquele dia.

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