Cariño

277 43 104
                                    

Simultaneamente com a chegada da polícia, o dono do estabelecimento empurrou a porta com brutalidade, quase estourando a corda que tocava o sino. Por sorte, não ocorreu.

Ele olhou para os lados perdido, até encontrar Finney, que o encarava de volta e parava seu caminho até o balcão.

Céus, ali chegaria sua demissão. Finney encarou seus pés e cerrou seus punhos, pensando no sermão que iria levar por ter deixado uma confusão tão grande acontecer.

Não era apenas um copo quebrando e um tumulto. Porra, o filho daquele homem importante havia levado um tapa brusco que provavelmente o faria nunca mais voltar na cafeteria.

E tudo isso porque Finney ficou de conversinha com seu colega ao invés de realizar seu trabalho. Se ele tivesse sido mais rápido, mais útil, mais eficiente, Griffin teria ficado seguro e aquela situação inteira não estaria acontecendo. 

Ele deveria ter levado o copo na garrafa para ao menos ter uma desculpa para durar mais um tempo no seu emprego.

— Finney. - O homem lhe chamou, ofegando e apoiando as mãos em seus joelhos quando finalmente se aproximou. Era óbvio em seu rosto suado que correria não fazia parte de sua rotina sedentária. — O que houve? Aonde está Griffin? Por que a polícia está aqui?

Finney sentiu sua cabeça doer na mesma medida que suas mãos suavam. Ele levantou o rosto, mas o olhar melancólico e desesperado do dono da cafeteria fez seu peito apertar tanto que quase sentiu falta de ar. 

Como diria ao seu patrão que simplesmente havia permitido que o filho deste acabasse tendo o rosto estapeado?

— Foi uma... Uma confusão... - Finney murmurou, respirando profundamente. 

Existiam outros empregos, ele não precisava se desesperar. Certo? Mesmo que aquele fosse definitivamente o melhor que conseguiria, afinal, seu pai conhecia o dono, Griffin era um raio de sol nos dias de chuvas cansadas sobre seus ombros e os funcionários socializavam amigavelmente consigo, tudo tinha um fim e aquele era o seu.

Era tão explícito e visível o quão desnorteado e nervoso o homem estava, que Finney sentia que levaria sermão antes mesmo de falar o que aconteceu. 

Para sua sorte, outra pessoa interveio. 

— Papai! 

Finney se virou para encontrar Griffin Stagg saindo de perto de Bruce e correndo para sua figura paterna, que imediatamente se agachou e abriu os braços. Era uma cena comovente de relação paternal, o pulo de uma criança assustada sobre o abraço de um pai preocupado. 

Griffin ainda possuía uma lágrima ou outra em seu rosto e Finney não tiraria sua razão, mas isso só lhe fazia se sentir ainda mais ansioso. Ele começou a olhar em volta, tentando se distrair da emocionante cena do Sr. Stagg acalentando seu filho entre seus braços e o pedindo para respirar fundo, de forma que cessasse os soluços e o permitisse contar o que havia acontecido. 

Nesse processo, acabou encontrando os olhos de Robin. 

Merda, ele ainda tinha que levar uma bebida para aquele garoto. Todavia, antes que pudesse voltar para o dono da cafeteria e inventar alguma desculpa para poder compensar Robin, recebeu um sorriso do garoto de fios longos. 

Seria uma enorme mentira dizer que não corou por isso e que, por instinto, acabou desviando o olhar novamente para o abraço familiar alheio.

— O moço, papai - Griffin fungou e secou uma das últimas lágrimas. — Eu não queria quebrar o celular dele... 

Finney sabia que sua melhor opção era ficar quieto, mas ele não podia ver uma criança tão gentil e daquela idade colocando tanta carga de culpa em si mesma. Era de destruir aquilo que chamavam de coração quando diziam sobre sentimentos. Era esmagar, comprimir, apertar o peito ao ponto de que também sentisse vontade de chorar. 

Entre Letras e CaféOnde histórias criam vida. Descubra agora