Fieldade

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Finney esfregava os lábios uns nos outros enquanto caminhava e pensava em como acabou nessa situação. Então, ele se lembrou que foi culpa de um cliente insensível o suficiente para bater em uma criança - e sem vergonha por ter feito isso em público. 

Ficou o tempo todo repetindo em sua cabeça: "isso não é um encontro, isso não é um encontro, definitivamente não é um encontro". Mas, quando adentrou o estabelecimento e avistou Robin distraído com o cardápio, algo em sua mente fez com que sentisse medo de aquilo ser um encontro.

E definitivamente a culpa era de Bruce Yamada, que enfiou essa merda na cabeça alheia na qual era oca o suficiente para escutá-lo. 

Finney Blake não era o tipo de pessoa que passaria vergonha caminhando em passos tão lentos quanto a superação de algum trauma, então logo chegou à mesa de Robin. E, talvez, por trabalhar em uma cafeteria, esperou que o garoto lhe notasse para se sentar, assim como esperava os clientes lhe perceberem para perguntar se possuíam algum pedido a ser feito. 

Para sua sorte, Robin lhe olhou em dois ou três segundos.

— Finn! - O garoto chamou e desmanchou toda aquela cara séria que naturalmente carregava. De repente, Finney sentiu uma batida falhar quando um sorriso largo foi avistado no rosto alheio. — Tudo bem?

— Ahn, sim. Oi. - Finney assentiu como um patinho manso, colocando uma das mãos no peito para tentar entender por que havia sentido uma palpitação sair dos conformes. 

Ele se sentou calmamente e suspirou baixinho enquanto fechava os olhos. Daria tudo certo se ele reorganizasse as sensações e parasse de pensar demais. Mas, falando de Finney Blake, como não pensar demais?

Robin tamborilou a mesa com seus dedos rígidos e fez um biquinho ao encarar o cardápio novamente. Seus lábios contorcidos naquele formato atraíram a atenção de Finney, que se questionava, novamente, por que tal visão fazia seu próprio corpo se estranhar. 

Um arrepio desceu de sua nuca para sua coluna quando resolveu perguntar a razão da feição alheia estar emburrada. 

— Algum problema?

Robin parou de tamborilar a mesa e o encarou com olhos curiosos e intrigados. 

— Não, por quê?

— Não, eu só... - Finney gaguejou um pouco e engoliu em seco. Será que havia denunciado que estava olhando demais o outro garoto? — Eu só reparei que você parece meio emburrado. 

— Ah - Robin piscou e alternou o olhar entre o cardápio e Finney, que, aos poucos, reparava algo queimando nas maçãs de sua face. — Eu só não sei o que vou pedir. Você tem alguma sugestão, Finn?

Finney pensou em balançar a cabeça para tirar a atenção de si, mas ele estaria fugindo como um covarde, então apenas dedilhou o cardápio com a mão tremida e semicerrou os olhos para tentar ler o que estava escrito, afinal, não queria tirar o menu das mãos alheias.

Não adiantou muito; Robin empurrou o cardápio para Finney, que murmurou um agradecimento. 

Um silêncio recaiu ali e, por alguma razão, Finney sentiu suas bochechas esquentarem ainda mais. Que merda, o lugar era frio, o ar-condicionado estava no ápice para compensar a temperatura do lado exterior, mas, mesmo assim, o rosto do garoto estava queimando como se um sol forte estivesse lhe atingindo.

De certa forma, havia, sim, um astro quente, radiante e brilhante. Afinal, Finney nomeou o contato do garoto à sua frente de Solis, que, literalmente, significava luz do sol.

— Hum, eu acho que já tive uma ideia. - Robin interrompeu os devaneios de Finney, que estava lendo o segundo parágrafo do menu pela terceira vez por estar distraído demais com a própria mente. — Morango.

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