Lovely - The Voice | Tom Kaulitz

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"Parabéns para você
nessa data querida"

A voz da minha mãe me faz despertar. Hoje é meu aniversário de 18 anos. Finalmente. Me espreguiço na cama e abro os olhos lentamente. A luz que entra pelas frestas da janela dá um toque especial as velas que estão no bolo. Um bolo pequeno, redondo e todo colorido. Não sei como minha mãe teve tempo de prepará-lo, visto que trabalha tanto.
Entrei madrugada adentro editando meu último vídeo para o meu canal no YouTube. Mesmo depois da minha mãe ter me mandado dormir. Então, dou o melhor sorriso que consigo, mesmo ainda sentindo muito sono.

— Bem-vinda aos 18 anos — minha mãe fala — Faz um pedido — fecho os olhos e assopro a chama das velas coloridas.

Ninguém precisa ser adivinha para saber o que desejei: conseguir trabalhar como cantora. Desde que me lembro, gosto de cantar. Fiz isso nos acampamentos, no coral da escola e nos vídeos independentes que gravo para o canal. Uma oportunidade é o que preciso para tentar mudar a vida da minha mãe.

—  Agora se arruma que preparei teu café da manhã — beija minha testa e sai com o pequeno bolo nas mãos.

Fico observando a porta do quarto se fechar e penso que há 18 anos, minha mãe estava assustada em uma sala de parto de um hospital carniceiro. Assustada e chorando de dor, trazendo sua filha ao mundo. Isso com apenas 16 anos. Hoje, aos 34 anos, trabalha em dois empregos para garantir que eu não passe pelas coisas que passou.

Meu café da manhã foi praticamente sozinha. Minha mãe tomou apenas uma xícara de café e saiu correndo para o trabalho no hotel. Apreciei as torradas, panquecas com geleia de morango e o café forte. Típico da minha mãe. Atualizo o site do The Voice de minuto em minuto, pois hoje sai os classificados para a etapa das audições às cegas. Justo hoje, no dia do meu aniversário. A buzina frenética do Golf prata de Izzy Harris me traz para a realidade. Largo pratos e xícaras na pia, pego minha mochila e saio de casa. 

— Credo, é com essa cara que você comemora a chegada na maior idade? — Izzy pergunta, enquanto coloco o cinto de segurança. Harris, que é como todos chamam ela, é loira, alta e com um corte ousado em seus cabelos loiros. Com uma língua afiada e sem vergonha de falar o que pensa, é a maior apoiadora - depois da minha mãe - no meu sonho de ser cantora. 

— Fui dormir tarde editando um vídeo — respondo, enquanto ela mexe na perna mecânica que exibe com orgulho. Há cinco anos foi atropelada por um motorista bêbado, que dirigia rápido demais. Resultado: metade da perna amputada e meses de fisioterapia e  anos de terapia. Mas, se tem uma coisa que Izzy sabe fazer é dar a volta por cima. A perna dela está sempre cheia de frufrus e dizeres engraçados. Típico dela. 

— Eu sei, já assisti — ela fala sorrindo e acelera. Claro que ela assistiu, era sempre a primeira a ver meus vídeos, comentar e compartilhar com todos.

Estamos no último na escola, o que significa que temos o dobro de coisas para estudar e faculdade para se preocupar. No meu caso, além disso, é conseguir cantar além dos barzinhos e festivais da cidade e fazer com que alguma gravadora me note. 

Nossa primeira aula é sobre literatura e estamos discutindo sobre autores russos. Dostoiévski, Tolstói, Nabokov... tento prestar atenção, mas não consigo evitar de olhar de vez em quando o site do programa pelo celular.

— Quer compartilhar conosco, Sra. Velez? — a voz da professora me faz fechar os olhos e pensar em uma desculpa. Rápida. Ergo meu olhar para ela e respiro devagar. Raramente recebo alguma chamada dos professores e quando isso acontece, não sei como agir.