Com a respiração acelerada, consigo mover o rosto na direção da enorme janela na lateral do quarto, para a impressionante vista de um vale esverdeado sendo lentamente iluminado pelo sol que nascia. Ergo a mão esquerda para proteger os olhos da luz e percebo uma aliança dourada no dedo anelar.Comprovando que minha cidade é um ovo, apesar dos seus quase cem mil habitantes, descobri que Raul e eu tínhamos uma improvável amiga em comum, o que acabou se tornando um convite para que eu fosse junto com eles a um encontro com vários amigos — incluindo, até, aquele que conheci brevemente em nosso primeiro encontro, que só então consegui lembrar que se chamava Alex.
O problema desse segundo encontro com Raul, no entanto, foi descobrir que ele estava especialmente interessado em nossa amiga em comum, Bárbara, com quem, naquele momento, ele conversava baixinho do outro lado da mesa.
Sentado ao meu lado, Alex, o amigo de Raul, também percebeu a interação entre eles, trocando um olhar cheio de significado comigo. Então aproximou-se e confidenciou:
— Não se preocupe, nesse momento ele está desabafando sobre uma ex-namorada. E acho também que ele ainda não percebeu que Bárbara fuma. Ele não consegue se relacionar com fumantes depois de perder um tio para um câncer agressivo de pulmão.
Surpresa, encarei Alex, lembrando que, na última vez que tínhamos nos visto, ele sequer tinha trocado meia palavra comigo. Ele achava que tínhamos intimidade para que ele me desse conselhos?
— Agora você conversa comigo? — perguntei de forma acusatória. Talvez eu já tivesse tomado mais copos de cerveja do que eu estou acostumada, percebi para minha supresa (e para a dele também).
— Uai, não?
— Eu lembro de passarmos um tempão na mesma mesa da última vez em que encontrei o Raul e você não falou uma frase completa comigo.
— Por que eu iria me intrometer na conversa do meu amigo com a mulher com quem ele estava interessado?
— Que interesse? Que tipo de cara leva um amigo num encontro?
— Ponto para você. Também me fiz a mesma pergunta.
Peguei o copo americano com cerveja e tomei um gole, olhando de soslaio mais uma vez para Raul, que também nos observava de volta, com uma expressão muito pensativa.
— Se é que esse interesse realmente existiu — comentei baixinho, de forma que Alex não pudesse ouvir. De qualquer forma, a atenção dele já tinha se desviado para uma conversa do outro lado da mesa.
Após algum tempo, distraída com a interação animada dos amigos de Raul, eu esqueci completamente sobre ele e sobre o suposto interesse que ele teria por mim, conseguindo relaxar o suficiente para arriscar participar da conversa.
Mais tarde, ao levantar para ir ao balcão do bar pedir uma água, encontrei ninguém menos que Daniel, o cirurgião ortopedista com quem tinha conversado algumas semanas antes e que, desde então, tinha se tornado meu "curtante" — todo o nosso flerte se resumia a curtir os stories um do outros no Instagram, enquanto eu aguardava que ele puxasse assunto mais uma vez.
— Eu não acredito! — exclamei surpresa, ao vê-lo. Daniel abriu um sorriso gigantesco e me cumprimentou com um abraço e um beijo no rosto. — Esse tipo de coincidência é possível?
Com um sorriso amarelo e uma expressão de criança pega aprontando alguma coisa, ele disse:
— Você vai se assustar se eu disser que vi a localização em um de seus stories e arrisquei vir para encontrá-la?
Para ser sincera, sim, me assustava um pouco; mas ele era tão impressionantemente bonito que eu preferi não levar isso tão a sério no momento, com o lembrete mental de ficar alerta para qualquer outra bandeira vermelha.
— Depende, você veio da capital para cá apenas por causa da localização? — alfinetei.
Ele deu risada.
— Não, eu estava falando sério sobre meu interesse em pegar alguns plantões aqui. Tenho um tio que mora aqui perto, vim para uma entrevista de emprego e acabei não resistindo ao ver que estava tão próximo de onde você se encontrava.
— Quer dizer que eu irei vê-lo mais vezes por aqui? — perguntei com um sorriso contido.
— Se você quiser, eu ficaria muito feliz.
Mordi meu lábio inferior, sentindo dentro de mim uma agitação quase adolescente. Abri um sorriso e aceitei quando ele me convidou para sentar a uma das mesas mais discretas.
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Quantos encontros me trouxeram aqui
Romantizm〰️ Um conto-romance para suspirar 〰️ Exausta e ansiosa da rotina de trabalho intensa, Isabela acorda em paralisia do sono. Por quinze segundos, é incapaz de lembrar quem era e onde estava, mas sabia que não estava na própria cama. Apavorada, percebe...