estranho

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Charlotte tentava segurar o riso enquanto via Nawat ficar mais vermelho do que um tomate. O homem estava visivelmente irritado, contudo, tentava se manter imparcial.

- Este é um caso de extremo cuidado, senhor. - Insistiu ele. - Eu entendo que a mãe paciente queria isso, mas pelo menos deixe-me acompanhá-la. Aquela garota é um milagre vivo, nem diante de nossos olhos. - O chefe do hospital repuxou o canto de sua boca e olhou para Charlotte.

- Você acha que é capaz de fazer isso, senhorita? - Ele perguntou solenemente.

- Não acho que ela ainda seja capaz. Ela é muito boa, inclusive, é minha melhor aluna, no entanto, isso é algo que vai além do capricho de uma mãe. - Nawat disse. O homem bateu fortemente os punhos na mesa e olhos furiosamente para Nawat.- Primeiramente que não é um "capricho", senhor Nawat. Aquela garota ali.. - Disse e apontou diretamente para Charlotte. - De alguma forma desconhecida por todos nós, foi capaz de fazer a garota acordar após quatorze anos. É justo querê-la por perto. - Disse seriamente. - E em segundo lugar, minha pergunta foi para a senhorita Austin, então quando sua fala não for solicitada, por favor, cala a boca. - Os músculos do maxilar de Nawat se tensionaram antes de ele assentir.

- Sim, senhor. - Replicou seriamente. Mesmo ele sendo o chefe de seu departamento, ainda tinha que acatar o chefe do hospital, sendo assim, foi obrigado a se calar.

- E então, senhorita Austin, acha que é capaz? - Charlotte, que tinha suas mãos entrelaçadas nas costas, deu um passo a frente.- Eu poderia muito bem dizer que sim, senhor, afinal é um tratamento o qual eu já fiz, mas nesse caso em especial eu prefiro que o senhor Nawat me acompanhe. - O sorriso prepotente do homem se abriu, como se dissesse que estava certo o tempo inteiro.

- Ainda não se sente segura sozinha? - O chefe do hospital perguntou curioso, cruzando os braços.

-Me sinto completamente segura, mas quero o melhor para a paciente e o senhor Nawat tem mais experiência.

- Mas a senhora Waraha insiste que seja você a fisioterapeuta de Engfa. Eu a expliquei que a senhorita ainda não se formou, mas a mulher é osso duro de roer. - Ele disse rindo. - O que me sugere, Austin?

- Bem.. O senhor Nawat poderia me acompanhar e se certificar de que estou fazendo tudo corretamente. - Ela sugeriu completamente receosa.

- O quê? - Nawat perguntou perplexo. - Está sugerindo que eu seja seu ajudante?

- Eu adorei a ideia. - O chefe do hospital disse sorrindo. - Explêndido. Pode avisar à senhora Waraha para passar em minha sala, senhorita? Quero avisá-la que começarão amanhã. - Charlotte assentiu.

- Se o senhor me permitir tentar fazer ela mudar de ideia.. - Nawat tentou, mas a risada do senhor Ruppert Ihe interrompeu.

- Fique à vontade, mas como sei que aquela mulher é irredutível já fique preparada, senhorita Austin.

- Deve estar louca, não é possível. - Nawat disse, vendo o homemem sua frente fechar sua expressão na hora.

- Cuidado com o que fala, Nawat, aquela mulher vai além da mãe de uma paciente. Ela é uma grande amiga. Está neste hospital desde antes de eu me tornar chefe, então peço encarecidamente que não volte a mencioná-la dessa forma.

- Desculpe, senhor.

- Podem se retirar. O homem disse, ouvindo Charlotte preferir um "com licença" antes de se retirar.

A menina apressou o passo para fugir de Nawat, pois sabia que ouviria alguma provocação, e deu graças a Deus por ter chegado ao quarto de Engfa logo. Desta vez não precisou deixar batidas na porta, pois a mesma estava aberta.

- Olá, mulheres lindas deste hospital. - Charlotte disse sorrindo.- Mamãe, ela veio. - Engfa disse animada, vendo Ruth rir.

- Eu disse que eu viria, não disse? - Charlotte perguntou e Engfa assentiu.

- Conte à Charlotte sobre sua nova amiga, filha. - Ruth disse e Engfa sorriu.

- Char, eu fiz uma amiga que disse que eu vou ficar adulta logo. - Charlotte entortou a boca e o cenho - e se aproximou.

- Como assim?

- Ela disse para eu não apressar as coisas.
- Engfa disse devagar, lembrando-se de não atropelar as palavras. - E disse que com o tempo eu me acostumo.

- Ah sim? - Charlotte perguntou sorrindo.

- E ela se chama Tina e é a minha nova amiga psi..cógna. - Charlotte não aguentou em rir ao ouvir aquilo.

- Psicóloga, anjo. - Charlotte corrigiu.

- Ela é a melhor em sua área. - Ruth disse animada. - Disse que já que a mente de Engfa não tem problemas físicos, tampouco tem psicológicos. É comum agir assim, afinal ela só desfrutou até os seis anos.

- Totalmente plausível. - Charlotte disse sorrindo.

- Ela sugeriu que Engfa saia  com pessoas da idade dela para se desenvolver mentalmente; também sugeriu escolas para recuperar o tempo perdido. Céus, parece que temos bastante trabalho. - Ruth disse rindo, - mas se notava medo em sua fala. Charlotte segurou em sua mão e apertou suavemente.

- Você vai conseguir. - Ela disse em um sorriso. - Vamos conseguir. Aah, o senhor Ruppert pediu para ir à sua sala. - Ruth assentiu.

- Em um momento volto, querida. Ruth disse dando um beijo no rosto de Engfa, que coçava os olhos com sono. - Se importa?

- Não se preocupe. Eu cuidarei dela. - Charlotte disse e a mulher agradeceu gentilmente antes de deixar a sala.

- Charlotte, por que você fica longe tanto tempo? - Engfa perguntou curiosamente.

- Preciso praticar e estudar para terminar o ano com êxito. - Charlotte disse brandamente.

- Você fica lendo? - Engfa - perguntou com uma careta e Charlotte riu.

- Também.- Eu já sei ler, aprendi com quatro. Papai me ensinou, mas a mamãe disse que agora ele ensina as criancinhas no céu.
- Charlotte respirou tristemente e se sentou na beira da cama de Engfa.

- Sim e eu tenho certeza de que ele é o melhor professor de lá. - Engfa assentiu e olhou confusa para Charlotte.

- É tudo muito estranho. - Engfa confessou em um suspiro. - Eu me lembro de estarmos nos três no carro, me lembro do papai soltando o próprio cinto e jogando o corpo na minha frente e depois disso me lembro da mamãe falando e.. - Seus olhos castanhos se fixaram nos de Charlotte. - E da sua voz. Parece que foi tudo no mesmo dia.

- Bem, agora você é uma mocinha crescida e..

- Sim. Eu tenho até seios. - disse rindo. - Eu apalpei ontem e são de verdade. Põe a mão para ver.. - Charlotte entortou o rosto e negou.

- Uma regra agora que está grandinha: Não peça para colocarem as mãos nos seus seios. É algo muito íntimo, certo? - Charlotte não poderia explicar a parte sexual de que um dia ela provavelmente iria quere que alguém tocasse, isso era algo para um futuro. - Não mostre a ninguém também.

- Nem a você? - Engfa perguntou confusa.

- Muito menos para mim. - Ela disse prontamente. Não queria ser estúpida e desrespeitar Engfa sequer em pensamentos.

- Certo.- Engfa disse.

- Fah, você só ouviu a minha voz - depois do acidente?

- Eu entendia a mamãe. - Eu entendia a mamãe.
- Engfa confessou. - Mas eu não escutava  a voz dela com clareza, não sei explicar. - Charlotte assentiu. - Ela estava me contando uma história sobre ela e o papai e aí eu te escutei. Com clareza, cada palavra que dizia.

- Eu queria saber por que justo eu, mas me contento com vocês duas estarem bem.
- Charlotte disse sorrindo.

- Talvez eu saiba o porquê. - Charlotte alçou uma sobrancelha surpresa com aquilo.

- Por quê?

- Porque a mamãe só chorava. - Engfa disse séria. - E aí você chegou e a fez rir. Talvez meu cérebro tenha gostado disso.

Em Um piscar de olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora