a voz

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As fortes e geladas rajadas de vento fizeram Charlotte encolher todo o seu corpo; em pleno final de outono o frio castigava quase severamente. A garota estava guardando seu crachá em sua bolsa quando suas chaves caíram no chão. Imagine ter que tocar no metal, agora molhado, em pleno nove graus Celsius?

Serenata devido à hora: Pouco mais das onze da noite. Charlotte fez o que mais ou mais tarde teria que fazer e acabou pegando a chave do chão. A garota voltou a se levantar, todavia, algo não a deixou se mover. Ela fechou os olhos ao cair em percepção de que deveria ter ido visitar a senhora Ruth e Engfa.

Seus passos foram desajeitados e apressados para dentro do hospital e logo ela estava no elevador rumo ao quarto da garota. Por sorte não precisou ter que gravar outros números de quartos aquele dia, se não, comcerteza teria problemas em se lembrar do número do quarto de Engfa.

Assim que chegou ao piso em que deveria descer, ela rumou para o quarto. Deu três batidas na porta e logo a mesma foi aberta.

- Olá. - Ela disse docemente. - Muito tarde? Se quiser eu posso voltar amanhã e..

-Não se preocupe, criança. Entre. - Ruth disse, vendo Charlotte (agora não uniformizada) entrar. A garota deixou a bolsa no canto da sala e se aproximou de Engfa.

- Olá, Engfa. Como está? - Charlotte disse, vendo Ruth voltar a se sentar em sua cadeira. - Vejo que pentearam seus cabelos. Está linda!

- Ninguém a visitava e, bem, ela sempre gostou de ficar arrumada para as visitas. Dei uma leve ajeitada. - Ruth disse sorrindo fraco e Charlotte agradeceu mentalmente por ter lembrado de visita-lá. A mulher teria se chateado caso o cérebro de Charlotte resolvesse falhar em lembrá-la de algo novamente.

-Oh! - Charlotte disse. A maior analisou a expressão da mãe de Engfa. Aquela mulher carregava consigo uma dor tão profunda que transparecia no brilho de seus olhos. - Viu só, Engfa? Sua mãe ainda se lembra de seus gostos. - Ruth riu baixinho e assentiu.

- Você é muito especial, Charlotte. - A mais velha disse, causando um sorriso no rosto da maior.

- Obrigada, senhora. - Ela disse sentindo-se lisonjeada. - Engfa, vou contar para você e sua mãe sobre o meu chefe, quer escutar?
- Charlotte perguntou sorrindo. - ele brigou muito comigo porter entrado aqui mais cedo. Ele realmente não deve gostar de mim. - Falou rindo.

- Oh, querida. Enganos acontecem. Por que ele brigaria com você?

- Por importunar a paz de uma família. Eu deveria ter ido à outro quarto. Levei bastante xingo, mas sabe, Engfa? Gostei de conhecer vocês duas. - A porta foi aberta de supetão, roubando a atenção do momento para o doutor que entrava na sala.

- Boa noite, moças. Como estamos aqui? - o homem que aparentava seus quarenta e poucos anos era ligeiramente grisalho, mas incrivelmente lindo e simpático. - Temos visita nova para você, Engfa? - O homem disse em um tom alegre e empolgado.

- Charlotte é nossa nova amiga, Doutor Derek. - Ruth disse sorrindo, se afastando para dar lugar ao médico, que retirava sua pequena lanterna do bolso de seu jaleco.

-Vamos lá. - Ele disse, abrindo um dos olhos de Engfa e jogando luz neles. Charlotte pôde ver que os olhos eram castanhos também, uma tonalidade incrível, para ser honesta.

- Você não se incomoda com isso, Engfa? Se alguém jogasse luz nos meus olhos eu choraria de raiva. - Charlotte disse rindo. - Sou meio explosiva na TPM.

- Como disse que se chamava? - O médico perguntou, se virando para Charlotte.

- Bem, eu não disse. Ruth que me apresentou. Sou Charlotte.

- Certo. Charlotte..

- Já sei. Pedirá silêncio. Desculpe!- Ela disse rindo um pouco envergonhada.

- Muito pelo contrário. Continue falando.
- Charlotte arqueou uma sobrancelha.

- Bem, eu não entendi, mas tudo bem. Sou fácil em falar coisas aleatórias do nada. Isso me faz parecer louca? - Ela perguntou, vendo Ruth rir.

- Não, querida. - A mulher respondeu gentilmente.

- Charlotte, ande até a porta, por favor. O homem pediu e a garota - assentiu confusa. - Vá falando. -Que espécie de louco aquele médico era? Charlotte resolveu acatar seu pedido mesmo assim.

- Eu não posso ficar falando sozinha doutor. O senhor me pede para falar, mas é complicado e isso compromete a minha imagem na frente de Engfa.- Repita o nome dela. - O homem pediu com veemência.

- Está tudo bem, doutor? - Ruth perguntou preocupada. O homem jamais fizera algo assim em todos os anos que estivera ali. Ele era apenas um interno quando foi apresentado ao caso e permaneceu ali até os dias atuais ao lado daquela família.

- Sim. Só preciso que Charlotte repita o nome da Engfa.

- Claro. Engfa, eu não sei o porque o doutor quer que eu repita seu nome, mas gosto de "Engfa". É um bonito nome e por isso repeti sem problemas.

O homem soltou uma risada animada e apagou a lanterna, olhando para Ruth  visivelmente comovido. Ele havia se apegado à garota e dizia naqueles quatorze anos Engfa lhe ensinava sobre perseverança todos os dias.- Senhora Ruth, podemos trocar uma palavra? - Ele perguntou e a mulher olhou confusa e assustada para ele.

- Eu prefiro que Charlotte esteja comigo. - Ela confessou. - Você sabe que eu não tenho.. Mais ninguém, doutor. - Os olhos negros do homem se direcionaram para Charlotte antes de ele assentir.

- Tudo bem. - Ele disse. - Senhora Ruth, de alguma maneira a sua filha parece responder quando ouve. As pupilas se dilatam e se movem, porém..

- Oh meu Deus. - Ruth disse levando sua mão à própria boca. - Ela nos ouve? Oh meu Deus. Minha filha.. - A mulher começou a chorar e o doutor respirou fundo.

- Preciso que se acalme, senhora. Ainda tem mais. - Ele disse, vendo-a limpar algumas lágrimase voltar a fitá-lo. Ruth sentiu um aperto cálido em sua mão, virando-se apenas para ver que era de Charlotte.

- Prossiga, doutor.  - Bem, o mais estranho de tudo é que, bem.. Engfa só responde à voz de Charlotte. Eu falei e nada, a senhora falou e nada, Charlotte falou e seus olhos a seguiram. Quando Charlotte proferiu o nome dela era como se seus olhos quisessem se aproximar dela.

- Está dizendo.. - Ruth foi cortada pelo doutor.

- A voz de Charlotte é o estímulo que procuramos todos esses anos para Engfa, Ruth. - Charlotte piscou lentamente, tentando processar o que acabara de escutar. Como raios seu dia se tornou tão louco?

Em Um piscar de olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora