chapter two: the soldiers of water.

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Livro Um
Ar

Capítulo Dois
Os Soldados D'água

ㅤEnquanto Taira e os irmãos andavam pela floresta, os jovens iam se conhecendo brevemente. Akari parecia mais confiável na visão do Avatar, mas Shun não poderia ser muito diferente dela.
ㅤ“Então... Taira— Você vive aqui no meio do nada mesmo ou tá de férias?”
ㅤ“Shun!” Akari responde por ela, com uma cotovelada, ao que Taira apenas reage com uma risada e um revirar de olhos.
ㅤ“Vocês, com certeza, estão de férias.”
ㅤ“Tá dizendo que a gente não tem o que fazer?”
ㅤ“É o que parece.”
ㅤAssim, Shun tenta correr até o lagarto que estava alguns passos a frente, mas foi impedido por sua irmã, que o segurou pelos ombros.
ㅤ“Nós tínhamos, sim, o que fazer na Ilha, quer dizer... eu tinha, mas isso não vem ao caso! O que temos que fazer agora está aqui e você faz parte disso, Taira.”
ㅤ“Entendi, eu sou tipo um projeto de vocês?” Akari olhou pra ela sem acreditar, não foi isso que ela tinha dito.
ㅤ“Não— Eu—”
ㅤ“Relaxa, eu tava brincando!” Taira começou a rir e Akari seguiu logo depois, relaxando também. “Sobe aí, vai,” ela completou, puxando a rédea e fazendo com que Nishi parasse. Os irmãos logo se animaram e correram pra subir no dragão mangusto. “Não. Você não, Shun!”
ㅤ“Ei!”

ㅤDepois de algumas horas andando, enquanto Shun deslizava por blocos de pedra que ele criava do chão e as duas garotas andavam confortáveis na montaria, os jovens escutaram sons de metal vindos das árvores, como se fossem peças de armadura se movendo. O dobrador de terra foi rápido ao empurrar Taira do lagarto, fazendo-a cair entre arbustos que serviram de esconderijo pra ela. O Avatar quase levantou para brigar com ele, mas no instante que Akari tomou as rédeas do animal, soldados apareceram. E não eram quaisquer soldados, eram Soldados D'água.
ㅤShun e Akari estremeceram, mas fingiram que estava tudo bem, parando em frente aos guardas.
ㅤ“Vocês não estão longe de casa, crianças?”
ㅤ“Sim, senhor, estamos viajando com o nosso pai. Ele foi na cidade e nos mandou pescar.” Akari respondeu com um sorriso inocente.
ㅤ“E vocês têm muitos lagartos como esse na Ilha Kyoshi?” O soldado chegou mais perto e examinou o animal, que ameaçou avançar, fazendo-o se afastar imediatamente.
ㅤ“Não, mas nosso pai conseguiu esse de um fugitivo da Nação do Fogo que ele encontrou. Essa gente acha que pode andar por aí como se fosse igual a todo mundo,” Shun interviu com tom de desdém, apoiando o corpo no dragão. “Como anda a caça ao Inominável, por falar nisso?”
ㅤ“Nenhum sinal ainda. Mas essa floresta é vasta e já temos tropas por todos os lados, com certeza ele deve estar aqui. Vocês não deviam andar sozinhos com ele à solta,” até que sua fala foi interrompida por um som entre os arbustos, que chamou a atenção de todos. “O que foi isso? Saiam da frente.”
ㅤO soldado disse enquanto contornava o animal em que Akari montava.
ㅤ“Não deve ter sido nada, senhor! Tem muitos bichos por aqui.” Ela disse, tentando bloquear o caminho, mas sem sucesso, pois o homem na armadura prateada já estava mexendo nas plantas. Os irmãos se entreolharam discretamente, com os corações disparados, se preparando pra fugir quando tudo que o guarda encontrou ao abrir os galhos foi um coelho. Os dois se encheram de alívio e o homem bufou, voltando à sua posição. “Viu? Só um bichinho.” Akari sorriu vitoriosa.
ㅤ“Claro... Vocês parecem muito bem sozinhos, então nós vamos indo. Mais cuidado da próxima.” E assim, os soldados seguiram pela trilha e, uma vez que sumiram de vista, os garotos começaram a procurar Taira.
ㅤ“Taira? Já pode sair!” A mais velha gritou o mais alto que era aconselhável para não ser ouvido pelos visitantes prévios.
ㅤ“Será que ela fugiu da gente? A gente salvou ela!” Shun disse enquanto usava um pedaço de madeira para afastar os galhos.
ㅤ“Eu não fui a lugar nenhum.” Taira respondeu ao dar passos lentos para fora do emaranhado de bambus. Os dois respiraram aliviados ao vê-la, mas sua feição não era nada semelhante. Ela não se deu ao trabalho de tirar a poeira dos seus braços, apesar de apertar um deles à medida que andava até os garotos, cabisbaixa. “Então é assim que falam de nós agora? "Essa gente"? O que tá acontecendo com o meu povo? E por que vocês não me contaram?”
ㅤ“Você... não sabe?” Shun indagou, incrédulo, e Taira o encarou como se insultasse toda sua família por ser tão burro. “Tá, desculpa — Eu vou explicar... Esses soldados que estavam aqui eram da tribo da água do Norte. Eles atacaram a Nação do Fogo anos atrás, durante um eclipse. Foi A Grande Inundação. Muitos morreram, e os que sobreviveram ou são fugitivos ou vivem numa espécie de campo de concentração na própria Nação. Desde então, qualquer um que encontrar um fugitivo, tem total direito sobre sua vida: pode escolher mantê-lo, matá-lo ou entregá-lo aos líderes. Não-dobradores, na maioria das vezes, recebem benevolência e são mandados pra trabalhar na tribo da água.”
ㅤQuando Shun terminou de falar, Taira inevitavelmente já tinha deixado cair algumas lágrimas, mas estas evaporavam assim que tocavam sua pele, ela nunca havia sentido tanta raiva em sua vida.
ㅤ“Bom, e quem melhor pra manter do que o Avatar?” Taira disse enquanto subia no seu lagarto.
ㅤ“Não é isso que a gente tá fazendo, Taira, a gente —”
ㅤ“A gente é a sua Equipe Avatar!” Shun interrompeu sua irmã. “E se você prestasse mais atenção, veria que a gente acabou de arriscar nossa vida por você, mas você acha que te queremos como escrava? Nós ficaríamos ricos se tivéssemos te entregado pros homens de lata!”
ㅤ“Cala a boca.” Foi a única resposta que ela deu.
ㅤ“Gente, calma —”
ㅤ“Não, agora ela vai ouvir —”
ㅤ“Cala a boca e sobe agora, eles estão voltando!”
ㅤE Shun fez como dito em menos de um segundo, bem a tempo do lagarto começar a correr para bem longe dali.


ㅤ“Então quer dizer que eu não posso usar minhas roupas por aí?” Taira perguntou enquanto acendia a fogueira dentro da caverna que eles conseguiram achar para se esconder. Shun deitava ao lado do calor, com as mãos sob a cabeça e as pernas em cima de uma rocha que ele criou, enquanto Akari alimentava Nishi com algumas frutas e preparava um cobertor para ela.
ㅤ“Basicamente. Minha irmã deve ter alguma roupa sobrando. Aliás, deixa o cobertor pra quem não é réptil, Akari!”
ㅤ“O quê? Ela também deve sentir frio!”
ㅤ“A gente é resistente ao frio, Akari. Ela vai ficar bem,” respondeu Taira com uma risada.
ㅤ“Tá bem, se você tá dizendo...” A guerreira deu de ombros, pegando um vestido de sua bolsa e levando-o até a outra. “Aqui, eu não vou usar mesmo.”
ㅤTaira esticou o tecido e examinou o formato da roupa. Era um vestido longo marrom de alças finas com uma fenda em cada lado, neutro o suficiente para que ela não se sentisse tão membro do Reino da Terra. Mas algo ainda não estava do seu agrado. Estirando o vestido no chão, ela usou as pontas dos dedos em chamas para cortar o material e fazer da parte de cima um top, dobrando e queimando a barra para ter aderência ao corpo, e mais abaixo cortando uma saia que ficaria na altura do quadril, tal qual suas roupas de costume. Os dois irmãos assistiam sem acreditar e Akari não conseguiu esconder seu sorriso, que foi reciprocado pelo Avatar.
ㅤ“Não podem tirar tudo de mim, podem?”
ㅤTaira trocou suas vestes vermelhas pelas marrons, mas deixou as antigas bem guardadas na bolsa que Nishi carregava em sua sela. Por fim, ela voltou para a caverna e se deitou próximo aos outros, mas um pouco mais afastada da fogueira.
ㅤ“Marrom também fica lindo em você.” Akari elogiou com um sorriso amigável, e Shun concordou silenciosamente, com um sorriso admirado e não tão amigável. Seus olhos verdes se fixaram nela através das faíscas do fogo e já não viam mais a mesma garota de roupas vermelhas de minutos atrás.
ㅤ“Obrigada... Pela roupa, e por terem me ajudado também. Acho que eu deixei a emoção me confundir mais cedo, foi muita coisa pra digerir...”
ㅤ“Tá tudo bem, a gente sabe como deve ser difícil. Quer dizer, não sabemos, mas... enfim.”
ㅤ“O que meu irmão quer dizer é que a gente entende. Ser o Avatar não é fácil, por isso a gente tá aqui. Sua... Equipe Avatar.” Akari termina por usar o termo que ela mesma achava enfadonho, revirando os olhos e rindo em seguida, assim como os outros dois.

Avatar: A Lenda de Taira.Onde histórias criam vida. Descubra agora