"Quão injusta é a nossa sorte agora. Encontramos algo tão incrível que está fora do nosso alcance. Mas depois de procurar no mundo todo, voce se atreveria mesmo a deixar ir assim?"
Ana se sentou no sofá, ouvindo os passos de Christian descendo as escadas atrás dela. Tudo parecia lento de repente, a respiração dela, os passos dele, os segundos do tempo.
Até ele se sentar ao seu lado, foi como uma vida inteira se passando entre eles.
_ Eu não sei o que dizer - ela foi a primeira falar, seus olhos ardiam com as lágrimas, mas nenhuma gota ousou cair por suas bochechas ainda. - Queria pedir desculpas, mas não me sinto arrependida, sequer sei porque deveria me desculpar, eu só...
Christian levou a mão até a sua que descansava em sua coxa, fazendo suas unhas curtas pararem de perfurar sua pele e segurando com delicadeza para lhe impedir que continuasse tremendo. Ele sempre fazia aquilo, sempre percebia antes dela, e sempre a segura antes que percebesse que iria cair.
Christian era tudo em si, ele via ela em seus pequenos detalhes e ainda fazia questão de falar sobre como ela era perfeita em cada um deles. Antes daquele dia, Ana nunca tinha ousado chegar perto do abismo que existia entre eles, naquele penhasco que eles sabiam que se chegasse na beira, não havia ninguém capaz de segura-los ou trazê-los de volta.
E aquela era a questão: precisariam voltar. Sabiam que precisariam.
_ Eu nunca entendi porque você ficou - ele falou em meio ao silêncio absoluto. - Porque me escolheu, em vez de ir com sua mãe?
Ana deu de ombros. Ela também não tinha resposta certa, exata ou até mesmo sensata. Ela só precisava. E num momento em que havia perdido tudo, Christian era a única coisa que existia de verdade em constante em sua vida. Ele era gentil, preocupado, seguro e confortável. Ele era tudo o que ela precisava e não encontrava nem em si mesma.
_ Nao foi por isso, eu juro - ela tentou dizer.
Christian suspirou, acabando por passar um braço em seus ombros, a puxando para mais perto.
_ Eu sei que não, Ana - respondeu com um beijo no topo de sua cabeça.
Ela passou os braços por sua cintura, e ali eles ficaram. Precisavam falar sobre mil coisas, precisavam resolver outras mil. Alguns segundos anteriores haviam acabado de mudar o rumo da vida deles para sempre, mas nenhum dos dois sabia sequer como começar aquilo.
Como apenas para fincar ainda mais uma agulha no coração de Ana, o celular da morena tocou, a foto de sua mãe brilhando na tela quando ela mirou o aparelho em cima da mesinha central.
Carla era realmente uma das mulheres mais bonitas do mundo, seu sorriso brilhante, o cabelo longo e quase ruivo, os olhos castanhos e sorridentes faziam qualquer um se apaixonar. Assim como fizera com Christian.
Ana se afastou do outro e pegou o celular, pronta para recusar a ligação. Não conseguia lidar com sua mãe naquele momento, sequer achava que conseguiria escutar sua voz. Não depois do que fizera.
_ Ela não vai parar de ligar - Christian falou num tom de aviso, conhecia bem a ex mulher, ainda mais quando se tratava de Ana.
Era manhã ainda, sábado, e provavelmente Carla estava ligando para marcar algo, querendo ver Ana.
_ Eu não quero falar com ela agora - a morena murmurou, encerrando a ligação.
Christian iria insistir novamente, apenas porque ele sabia que se Ana não respondesse Carla, a mulher apareceria ali logo logo exigindo saber o que estava acontecendo, mas foi interrompido pelo barulho da fechadura do cercadinho da escada.
_ Mamãe - o chamado declarado e infantil fez com que Ana se virasse também.
Phoebe, com seus dois anos recém feitos, tinha o rosto inchado ainda de sono, o cabelo negro bagunçado para todos os lados e segurava seu ursinho de pelúcia favorito, ainda vestida com seu pijama da noite.
Christian se levantou primeiro que Ana, logo subindo as escadas rapidamente para pegar a menina, que já lhe sorria com os braços para cima, querendo ser pega no colo porque de manhã ela era bem manhosa.
_ Dia', papai - a pequena cumprimentou, logo repousando a cabeça em seu ombro.
_ Bom dia, meu amor - Christian respondeu, acariciando suas costas, sustentando o corpo pequeno demais de Phoebe.
Ana se recostou no sofá, observando enquanto o outro descia as escadas, agora devagar porque tinha Phoebe no colo.
Seu coração se encheu quando a menina levantou a cabeça novamente e a encarou, um sorriso cheio de dentinhos enquanto coçava um dos olhos.
Casa.
Era o que Christian era. Era o que Christian lhe fazia sentir.
Ele se sentou ao seu lado, ainda mantendo Phoebe no colo, a deitando em seus braços porque sabia que era cedo demais e a menina voltaria a dormir. Ele a conhecia como ninguém, mais do que Ana as vezes. Esteve lá em cada momento, desde que ela era uma sementinha em sua barriga, e agora eles tinham suas manias juntos e sempre fazia uma expressão fingida e pensativa quando Ana recusava algo.
Mas sua aparência era completamente Ana, desde o cabelo, a cor dos olhos e da pele.
Ana se recostou em Christian, levando a mão para Phoebe, que a segurou contra o próprio peito antes de fechar os olhos.
O celular na mesinha tocou novamente, e Ana preferiu não olhar para o aparelho e ver o sorriso bonito de sua mãe, esperando cair na caixa postal. Não precisava de nada agora, não naquele momento, poderia sentir um pouco mais tudo o aquilo que sua vida havia se tornado e só naquele segundo percebeu o que era de fato.
_Casa - sussurrou, fazendo Christian levar os olhos para os dela, quais já estavam sobre seu rosto. - Você me trás para casa.
•••
Autora: enfim, os capítulos vão começar antes desse acontecimento aí, e mesmo confuso e doido, eu juro que não tem putaria entre família gente!!! 🙏🏻 da uma chance, vai ser legal 😙😍
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Você Me Trás Para Casa - 50 Tons
Fiksi Penggemar"Voce me trás para casa" é uma coisa pesada. Casa não é uma casa em si, é quando voce está com alguém que ama e se sente confortável o suficiente para se desligar do mundo ali mesmo, até de pé, no meio do metrô. É alguém que te trás para realidade...