Conflito de Interesses [edser +18]

CAPÍTULO 13

Quando o despertador de Eda Yildiz disparou às cinco e meia da manhã seguinte ao ensaio com Serkan Bolat, ela não queria continuar deitada. Além da dor incapacitante em seu corpo inteiro — resultado do esforço hérculeo de se exercitar em três momentos diferentes do dia anterior, ter bebido da vodka de Dória ao invés de ter ido para o seu quarto provou-se uma decisão imprudente.

Logo após o ensaio, Fifi a guiou pelo ombro até o terraço sujo que os alunos da Academia Bolat utilizavam para espairecer com maior liberdade entre os horários de aula. Muito bem agasalhadas e já visivelmente bêbadas, Fifi, Pina, Melo e Dória fumavam um cigarro fino de maconha, intercalando com tragos direto do gargalo da garrafa de vodka pela metade.

Símbolos cirílicos desconhecidos estampam a garrafa com líquido transparente.

"Eda, Eda", gritaram as meninas, puxando-a para um abraço apertado. "Como foi o ensaio?"

As meninas falavam com os rostos muito próximos ao de Eda, permitindo que ela quase experimentasse o álcool no hálito delas. O beck pela metade parou na mão de Fifi, quie tragou a maconha com prazer e sofreguidão.

"O meu primo não foi cruel com você, eu espero", sussurrou Pina, os seus olhos azuis vidrados.

Lembrando-se de relance de todos os acontecimentos que antecederam a sua chegada à Toca — desde o tratamento implacável e autoritário de Serkan Bolat, todas as coisas horríveis que ele falou para as pobres meninas entusiasmadas com a fama do homem ruivo, o sofrimento explícito em seus rostos na mesma medida com que Serkan esmigalhou os seus sonhos e pisoteou em suas almas —, como também o fato de que Serkan Bolat é o seu orientador e de que a sua relação com Pina não é a da sua conta.

Sem ter ciência, Eda começou ali com um fardo que viria a se tornar um empecilho na sua amizade com as garotas.

Ali, Eda decidiu omitir parte do que aconteceria nos ensaios e futuras reuniões que teria com o seu professor, Serkan Bolat bey.

Ao decidir ocultar o comportamento de Serkan no ensaio, Eda iniciou ali o segredo que viria a ser um dos seus maiores problemas. Quando decidiu editar as interações que teria com Serkan Bolat, Eda criou, sem saber, uma duplicidade que determinaria a sua vida no prédio da Academia Bolat.

Demorou muito tempo até que as suas amigas descobrissem a natureza real do seu relacionamento com o homem cruel e frio que tinha o seu destino nas mãos. Até então, tudo o que souberam foram informações editadas para que as suas amigas não a vissem como um ser humano patético e facilmente manipulável como era.

Na oportunidade, o que Eda falou foi:

"Serkan Bolat bey é um professor incrível", mentiu Eda entredentes, agarrando o gargalo da garrafa e levando-a até os lábios.

Apenas para cuspir a vodka como um chamariz, tossindo violentamente para reaver o fôlego, a queimação subindo no estômago como se ela tivesse engolido uma tocha de fogo acesa. O sabor doce enjoativo amargava em sua boca, contribuindo para a náusea quer subia em contrações agressivas em seu esôfago.

Divertidas, as meninas gargalhavam do espetáculo promovido por Eda.

"Eda jaan, você parecia tão corajosa engolindo a vodka como se fosse água", gritou Fifi, a fumaça grossa do beck, que desaparecia entre os dedos longos da garota cacheada, escorrendo dos seus lábios como gelo seco em um show.

Com lágrimas nos olhos, Eda enxugou os lábios molhados de vodka e estendeu a mão para o cigarro nas mãos de Fifi.

"Me dá", pediu ela, piscando os olhos para focar a sua visão no rosto de Fifi, deformado pelas lágrimas.