Eddie, the Dungeon Master

Hellfire Club

- Precisamos de um ladino... quero dizer, uma ladina. Você sabe as regras, sabe jogar, eu já te contei a história, lembra? Por favor...

Eddie estava à minha porta desesperado e implorando. Nesse mesmo dia mais cedo eu tinha me acabado de chorar por causa do Steve, fiquei até agora largada de moletom e descabelada, mas do jeito que ele falava parecia que alguém ia morrer de verdade se tivesse um personagem a menos no final da campanha do D&D.

- O Sinclair disse que não vai poder ir porque é no mesmo horário da final do basquete do time dele.
- É mesmo, é hoje a final né.
- Não me diga que você prefere ir ver homens suados arremessando bolas numa cesta de roupa suja do que nerds gostosos jogando um jogo super sofisticado de sorte e inteligência?
- Tá tá, eu vou, mas você fica me devendo essa.
- Valeu! Faço o que você quiser! Qualquer coisa! Oh, habilidosa ladina - fez uma reverência enquanto segurava minha mão.
- Qualquer coisa? Hum...

***

Mais tarde, Eddie passou pra me dar uma carona até a sede do Hellfire Club.
- Toma, veste a camiseta.
Eddie jogou em mim uma camiseta amarrotada do Hellfire Club que estava na van. Me troquei na van mesmo, ele não olhou, era muito respeitoso.
- Ficou grande em mim. É sua?
- Achei estiloso.
Não precisava nem da confirmação, era dele sim, estava com o cheiro dele. Era viciante.

Quando chegamos, o pessoal já tinha começado a preparar tudo na mesa e ficaram felizes que Eddie conseguiu uma substituta a tempo. Comemos alguns snacks e tomamos umas bebidas lá.

O jogo final foi longo, tenso e emocionante ao mesmo tempo. As chances de sobrevivência eram baixas e as descobertas eram surpreendentes. O D20 estava em minhas mãos quando finalmente conseguimos derrotar o Vecna. Foi incrível! Consegui mandar minha mente pra outro lugar e esquecer meus dramas por um tempo.

Depois do jogo, quando terminamos de guardar tudo, todos foram embora, sobrando Eddie e eu.

- Você esteve fabulosa hoje, fiquei feliz por te convencer a participar - ele acendeu um cigarro e tragou.
- Obrigada! Adorei sua campanha, foi divertido.
- Na verdade, você está fabulosa todos os dias. Mesmo com os olhos inchados de chorar.
- Que? - ele reparou?
- Eu soube que você terminou com o Harrington. Eu tinha que ver como você estava. Uni o útil ao agradável e te chamei pra jogar. Acho que consegui te animar um pouco, não?
- Espera, como você ficou sabendo disso?
- Bom, eu não sou fofoqueiro nem nada, mas hoje na hora do almoço eu estava no centro da cidade pra fazer uma... entrega e vi o Harrington ao lado da locadora com uma garota. Como não era você, fui tirar satisfação. Antes de mais nada, afugentei a garota, mas aí ele me contou que estava mal porque você terminou com ele.
- Ele te disse o motivo?
- Não. Qual o motivo?
- Bom, Steve é um cara legal, mas ele gosta de outra pessoa.
- Nancy Wheeler.
- Isso.
- Saquei. Eles tem uma história.
- Tem mais. Esse não foi o real motivo - engoli seco - na verdade, eu fui sincera e confessei pra ele que dessa vez quem estava gostando de outra pessoa era eu.

Eddie também engoliu seco. Jogou a bituca de cigarro no chão. Cruzou os braços. Respirou fundo e disse finalmente:
- Então se esse novo cara te fizer chorar, me avisa que eu quebro ele na porrada.

Ai Eddie, como você é lerdo. Meu coração disparou e quase saiu pela garganta. Talvez eu não deveria ter dito isso tão cedo.

- Hum, lembrei que você tá me devendo uma. Você pode me ajudar a conquistar o cara (haha que coragem, virei o jogo).
- Não sou bom com essas coisas.
- Você tem que me dizer o que os caras gostam.
- Ué, mas é você. Não tem erro. Quem seria o doido que ia te rejeitar? Você é gata, inteligente, divertida, o escolhido que ganhar seu coração será o cara mais sortudo da face da Terra.
- Eddie, para de me iludir - falei a verdade.
- Olha pra você - direcionou os braços pra mim - Você é a garota mais incrível que eu conheço.
- Tá e se a garota mais incrível que você conhece chegasse assim em você - me aproximei de frente pra ele - o que você faria?
- B-bem eu...
- E se essa garota gostasse de você esse tempo todo, mas descobriu só agora, então ela terminou com o namorado e quer arriscar? - segurei pelo colarinho de sua jaqueta de couro.
- Eu...
- E se você fosse esse cara mais sortudo da face da Terra? - estávamos muito perto um do outro, senti sua respiração muito forte.
- Eu... você... ainda quer ajuda pra conquistar o cara? Porque se você fizer assim, ele vai ter um treco.
- Meu Deus, você é muito lerdo! Presta atenção: Edward Munson, eu te amo. Era você, sempre foi você o meu... mestre.

Beijei Eddie e ele correspondeu sem hesitar, segurou em minha cintura e fez eu me sentir amada. Senti o gosto de cigarro, mas seus lábios eram macios e quentes.
- Uau - Eddie estava sem fôlego - é verdade isso? Devo estar chapado.

Eu ri, mas estava aliviada por ter contado a ele meus sentimentos e pela reação dele. Então era assim o amor correspondido?

Ele continuou:
- Em um único dia você conseguiu me dar esperanças por ter terminado com seu namorado, partiu meu coração por me dizer que gostava de outro cara e agora eu descubro que eu sou o cara. Me sinto numa montanha russa. Você me deixa nervoso, preciso de uma cerveja.
- Hahaha que cerveja, Eddie!
- Shhh agora você vai me ouvir, tudo que guardei pra mim. Desde que eu te conheci, eu te odiei. É verdade, odiei por não poder te tocar. Você sempre estava onde eu estava, parecia o destino brincando comigo enquanto eu tentava te esquecer. E quando você não estava, não era um dia bom. Você era perfeita, ainda é. Eu sempre imaginei como seria estar com você, nos meus devaneios e histórias que inventava na minha cabeça, mas você era uma princesa inalcançável. A jogada era crítica e eu nunca arriscava, sou corajoso só no D&D. Eu sempre te achei muita areia pro meu caminhãozinho porque você sempre estava com caras tipo o Harrington. Eu não tinha a menor chance. Até agora. Agora você é minha, não vou te deixar escapar. Fim da campanha.
- Por que você nunca me disse nada?
- Porque eu achei que era impossível. Pessoa certa na hora errada. Já te disse, não sou bom com esse tipo de coisa. Tinha medo de perder o pouco que tinha, pra mim já bastava estar perto de você. Você é única no mundo e eu tenho muita sorte por te encontrar, por ser o escolhido.

Continuamos nos olhando tentando processar tudo o que tinha acontecido e enfim Eddie segurou minha mão com os dedos entrelaçados, me puxou ainda mais pra perto e disse:
- A probabilidade dessa jogada de acerto crítico é de uma em um zilhão. Eu te amo, vou arriscar.

E me deu um beijo com todo amor que aquele coraçãozinho metaleiro poderia aguentar.