Hideout

38 5 0
                                    

Eu tinha certeza de três coisas:
1. Eddie era um ótimo guitarrista, porém um péssimo motorista.
2. Apesar de nos conhecermos há bastante tempo, existia uma parte dele que eu desconhecia, não sabia até que ponto ele poderia corresponder minhas expectativas, onde a luz chegava naquele coração nerd.
3. Eu estava perdidamente e incondicionalmente apaixonada por ele. Eu queria vê-lo, estar com ele, falar com ele sobre qualquer coisa.

Fui pra casa pisando em nuvens. Sorriso de orelha a orelha. Não sentia isso há muito tempo. Estava mesmo completamente apaixonada por Eddie Munson. Por quê? Não faço ideia do motivo do encantamento repentino. O sorriso? Aquele maldito sorriso. O olhar de cachorro perdido? Não sei. O cabelo bagunçado? As tatuagens iradas? Uau. Pra falar a verdade, tenho sonhado com ele há vários dias, não dá pra controlar.

Ele me emprestou uma fita k7 do Metallica, era o novo álbum Master of Puppets, essa eu não tinha. Logo coloquei no meu walkman e caminhei escutando no fone até o fim do parque, antes das árvores, onde ficava meu trailer. Não tinha como não pensar nele ouvindo esse som.

- Que sorriso bobo é esse?
Minha avó me pergunta assim que entrei. Morávamos ela e eu apenas, nosso trailer era simples e pequeno, mas aconchegante. A aposentadoria e pensão dela que praticamente nos sustentava. O que eu mais gosto nela é que simplesmente ela não se importa com nada, nem comigo às vezes. E isso parecia normal pra mim, afinal, fui criada assim. Aprendi a me virar sozinha. Mesmo sabendo que todas as outras famílias tradicionais eram completas, pra mim isso era o suficiente.
- Nada - respondi e entrei no meu quarto.
- Cara de quem tá apaixonada. Steve Harrington deve fazer isso com todas - ainda pude ouvir minha vó rindo. Mal sabia ela.

Me joguei na cama e continuei ouvindo Metallica e pensando em Eddie Munson

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Me joguei na cama e continuei ouvindo Metallica e pensando em Eddie Munson. Lembrei que tinha que ligar pro Steve. Sai em busca de um telefone público ali perto, já que não tínhamos linha no trailer.

- Locadora Family Video.
- Oi, Steve. Tudo bem?
- Oi, gata. Tudo e você? Chegou bem em casa?
- Sim, tudo certo. Escuta, tem um rolê pra gente ir hoje à noite. A banda do Eddie vai tocar no Hideout. Pensei em ir dar uma força. Tá a fim?
- Munson? Mas a banda dele é uma barulheira só... Já te disse que seu único defeito é seu péssimo gosto musical? Bom, se você quiser, vamos então. Que horas te pego?
- A noite toda, se Deus quiser.
- Hahahaha que safada, você sempre me desconcentra do trabalho. Umas 22h? Pode ser? Fecho a locadora antes.
- Combinado. Beijo.
- Beijo.

Sou ligeira, rapaz. Um olho no peixe e outro no gato. Mas eu preciso pensar seriamente como termino com o peixe... quer dizer... com Steve. Ele é um cara incrível e merece saber a verdade. Estou confusa, não quero magoá-lo. Eu gostava muito dele, mas não era nada sério, como eu disse, só estávamos passando um tempo legal juntos. Não acho certo estar com uma pessoa pensando em outra. E afinal, era isso que ele estava fazendo comigo, me usando pra tentar esquecer a Nancy e eu sabia disso. Eu corria o risco de ficar sozinha se o Eddie não correspondesse meus sentimentos? Claro. Talvez eu estivesse muito iludida e havia entendido todos os sinais dele equivocadamente. Talvez eu fosse arriscar nossa amizade. Talvez não.

***

Minha vó já estava dormindo (é o que ela mais faz na vida) e Steve passou depois das 22h. Eu estava arrumada faz tempo, de tão ansiosa. Ele estava lindo e cheiroso, com o cabelo milimetricamente perfeito.

Chegamos logo no bar Hideout, já tinham uns malucos bêbados cambaleando na sarjeta, uma gangue de motoqueiros, alguns casais e a banda já estava tocando. Do palco, Eddie me viu e deu uma piscadinha. Ai ai.

Steve e eu sentamos numa mesinha num canto, mais longe da bagunça e ele pegou duas cervejas pra nós. O Caixão Corroído estava tocando Paranoid, do Black Sabbath. Tadinho do Steve, não era o tipo de música que ele curtia, mas aceitou me fazer companhia no rolê.

 Tadinho do Steve, não era o tipo de música que ele curtia, mas aceitou me fazer companhia no rolê

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

- Muito obrigado a todos que estão aqui nesta noite linda. Hoje tenho uma convidada especial, essa é pra você.
Eddie disse olhando pra mim. Eu congelei. Os acordes de Master of Puppets, do Metallica começaram.

- Não tô vendo nenhuma garota por aqui, quem será a convidada especial? - Steve disse, olhando em volta.
- É Steve, você nunca enxerga o óbvio - respondi quase não prestando atenção nele, mas completamente derretida de amor. Eddie dedicou uma música pra mim. Pra mim! Por isso ele queria saber minha banda favorita. Não é possível que eu esteja sonhando.

- Vamos embora depois dessa?
- Mas já? Acabamos de chegar...
Steve foi pegando a carteira para pagar as bebidas no caixa, me levantei e fui com ele.

- Intervalo! - Eddie disse no microfone quando acabou de tocar. Desceu do palco e correu para nos alcançar na porta do bar - Ei casal, já estão indo embora?
- É... eu prometi pra vó dela que ia deixar ela cedo em casa...
- Steve, o Eddie sabe que minha vó "hiberna" e só vai acordar amanhã na hora do almoço.
- Bom, é que de qualquer forma eu troquei com a Robin amanhã o turno da manhã...
- Tudo bem, Steve. Eu sei que esse não é seu tipo de rolê, mas agradeço pela companhia - respondi - tchau, Eddie.
- Eu te levo pra casa - Eddie nos interrompeu.
- É sério isso? - Steve olhou pra ele, em seguida de volta pra mim - Você quer ficar?
- Quero - respondi baixinho.
- Okay. Se comporta hein cara - ele disse apontando o dedo pro Eddie e foi em direção ao seu carro.

- Seu namorado ficou com ciúmes? - Eddie me perguntou enquanto assistíamos Steve partir.
- Ele não é meu namorado.
- Ah é o que então? Sua babá?
Tive que rir.
- Apesar de que ele nem te deu um beijinho de despedida. Te deixou aqui com um bando de bêbados aos cuidados de um metaleiro cabeludo. Eu, no lugar dele, com certeza não faria isso.

É mesmo, pensei. Acho que o Steve ficou chateado comigo, nem se despediu direito. Espera... ele disse... "no lugar dele"?
- Vem, vamos entrar. O show tem que continuar. Fiquei feliz que você veio.
- Sou sua fã número um, lembra? - fiz um sinal de positivo com o polegar, mostrando o anel que ele me deu.

Eddie abriu um sorriso lindo e me puxou pela mão no meio do público.

Eddie, the Dungeon MasterOnde histórias criam vida. Descubra agora