Prólogo

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Bem

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Bem. Diria que talvez, só talvez, se meter em encrenca eterna com Isabella Maia tenha sido um grande erro.

— Não é grande coisa! – Lina, minha melhor amiga, tentava me acalmar; nítidamente, em vão.

Um flashback de diversas cenas onde Isabella catava as gurias (e guris) da escola na porrada me passou a mente, como se fosse um aviso prévio das consequências dos meus atos.

Bem, o que eu fiz para me meter em encrenca com Maia?

Algo estúpido.

Comentei negativamente sobre a blusa de pinguim que ela utilizava para Lina e isso chegou nos ouvidos de alguém. Alguém muito mau intencionado mesmo, pois logo chegou também no ouvido de Isabella. Ela ficou furiosa — furiosa é eufemismo! Durante o intervalo, esbarrou em mim com tudo, me olhou feio e disse que nos veríamos na hora da saída.

E eu só havia dito para Lina que a estampa era infantil. O meu grande erro era ter citado a maldita estampa de pinguim. Eu nunca quis tanto voltar no passado e tampar a boca da Marianna de algumas horas atrás.

Sim, horas, não dias, e eu já sabia que teria uma encrenca eterna com Isabella, pois ela não deixava nada que falavam de si - ou de algo importante a si - sair impune.

— É verdade, Lina. É péssimo! – murmurei derrotada, deixando minha cabeça cair sobre a mesa escolar.

— Você é mais alta, tem vantagem.

Ergui o olhar para Lina, que estava na carteira a frente. Bem, os meus 1.67 de altura não pareciam de fato ameaçador para alguém com 1.61. Fora isso, minhas tranças e unhas de gel apenas facilitariam o fator não ter como sequer revidar de volta. É isso, seria cem a zero e eu estaria no zero!

— Talvez tenha como fugir, não é? – perguntei, mesmo sabendo que a resposta não era positiva. Lina negou com a cabeça e, esquecendo completamente a ajuda motivacional, complementou:

—  Se fugir, ela te pega depois, de maneira pior do que o comum! Não lembra o que aconteceu com a Liliane da Águia?

Nossas salas eram separadas por nome de animais e insetos: sim, o colégio Santamora, situado em Meia-Norte, no sul do Brasil (o que é um pouco contraditório e irônico), não é nem um pouco convencional, sendo estranho e minúsculo, mesmo para uma escola central.

Bem, Liliane, da Águia, espalhou boatos (falsos) de que Isabella estava saindo com um garoto neonazi, mesmo sendo parda. A escola inteira espalhou a fofoca, chegou até na direção! Porém, não demorou muito para que encontrassemos Maia - graças a uma roda enorme na escola vendo - praticamente esmagando o rosto de Liliane contra a parede áspera do corredor que levava até a quadra.

Lina riu. Riu muito mesmo da cena. Eu senti dó.

Liliane não apareceu em Santamora por duas semana e, de quebra, adquiriu uma cicatriz do nariz até a bochecha.

Mesmo assim, Isabella não foi expulsa, apenas levou uma suspensão. E eu nunca soube o por quê.

— Hoje, andando pelos corredores, eu ouvi dizerem que estão ansiosos para a saída. Falaram que você é a única que tem capacidade 'pra bater de frente com Maia. – comentou, enquanto rabiscava algo qualquer no papel do caderno. Arregalei meus olhos, completamente incrédula.

— Eu?! Olha o tamanho das minhas unhas! Eu uso uns brincos de argola enormes e sou equivalente a um frango magricelo de tranças. As pessoas estão loucas, Lina! Nunca que eu vou bater de frente com Maia.

— Se você quer continuar inteira, ou pelo menos, meia parte inteira, vai ter que bater de frente. – nesses momentos, eu sequer conseguia identificar se Lina é minha melhor amiga ou minha melhor inimiga. Não satisfeita, ela ainda complementou:

— Se prepare, Anna!

(...)

Conseguia sentir meu corpo tremendo por inteiro — desde o estômago se revirando as pernas bambas.

Maia estava andando com passos firmes e expressão irritada em minha direção. Ao invés de sair correndo, paralisei. É claro que eu não conseguiria reagir; ia tomar um pau, bem feio, inclusive.

Vi pouco a pouco uma roda se formando em volta de nós duas. Lina estava na frente, gritando "palavras moticavionais", tipo um "boa sorte, vai tomar é um cacete!"

Lina é uma querida.

Engulo a seco quando percebo que estamos apenas a dois passos de distância. A expressão corporal – e da face – furiosa apenas me deixa mais aflita. Diversos celulares com flash's estão sendo apontados para nós duas, e eu que não iria tomar a iniciativa de nada.

— Vai ficar parada igual idiota?

Certo, analisaremos a situação: Isabella Maia estava bem a minha frente, a literalmente dois passos de distância. O cabelo loiro ondulado destaca a pele parda, a altura, nem tão baixa, porém nem tão alta, combina consigo, assim como infelizmente o estilo; a blusa de pinguim em tonalidade azul ainda é brega.

Franzi minha sobrancelha, me autoquestionando sobre estar achando-a atrativa demais. De repente, tudo o que importava era os lábios reconchudos e levemente avermelhados de Maia, tentei falar algo em relação a situação, mas apenas balbuciei, sem conseguir, de fato, desenvolver uma frase.

— 'Tá calada demais 'pra quem soube debochar da minha roupa, Mendes.

O borburinho de pessoas falando, de forma completamente irritável, começou. Sem saber o que falar, ou sequer o que fazer, soltei a primeira escapativa que veio a mente:

— É porque só consigo pensar em te beijar!

Silêncio.

E é exatamente assim que Dois Passos e o conto de Inverno tem seu início um pouco trágico e desastroso. E é claro, eu não poderia vir a perder nenhuma de suas consequências.

Dois Passos e o Conto de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora