Marianna Mendes, definitivamente, não sabia o que fazer: estava a apenas dois passos da garota mais odiada da escola central de Meio-Norte e, certamente, deveria fazer o que todos queriam - começar uma briga sem sentido, com direito a puxão de cabel...
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Acordei me sentindo menos lésbica.
Primeira experiência em beijar aos dezessete. Não ter nenhuma amiga lésbica, nem mesmo virtualmente. Ler histórias heteros de Meia-Norte sem graça, quais haveriam mais cor se fosse duas garotas.
Minha melhor amiga sequer havia ficado feliz de verdade por eu ter beijado uma garota e decidiu se isolar!
É. Menos lésbica. Mais sozinha, enterrada na própria solidão.
E dias assim acontecem. Eu acordo me sentindo para baixo, estressada por todos terem experiências legais, menos eu. Eu tive uma experiência legal, porém, consideravelmente tarde demais, e tinha medo dela não vingar todos esses anos parada.
E são dias assim que me levam a auto isolação durante um curto período de dois a três dias.
Não recebi uma mensagem resposta de Lina. Não me esforcei mais para conseguir alguma. Apenas fiquei ali, plantada, de baixo das cobertas enquanto ouvia o despertor soar de forma irritante.
Sexta-Feira. Faltaria na escola e ficaria enfurnada dentro da casa do vovô até segunda. Era o suficiente.
Desliguei o alarme. Vi algumas notificações de Maia do dia anterior: ela contava animada sobre as aulas de Jazz e o lanche que havia comido durante o intervalo.
Joguei o celular de lado e enterrei a cabeça no travesseiro. Me perguntei se Lina estava se alimentando corretamente. Murmurei reclamando contra o tecido. Quis responder Isabella, a final, a culpa não era dela. Decidi apenas voltar a dormir.
Dormi até umas seis da tarde. Preocupante? Talvez. Eu sempre acordava as cinco horas da manhã, mesmo indo dormir as meia-noite.
As nove horas, recebi uma mensagem de Lina. Cliquei imediatamente, com o coração acelerado.
Nana 🎒✨️: Oiii Anna, desculpa mesmo por ter sumido. Eu não fiquei muito bem e decidi me isolar por um tempo. Sei que nunca faço isso, e sei também que vai me perguntar os motivos, mas não posso dizê-los, não agora, espero que compreenda. Obrigada mesmo pelos doces, são meus favoritos, assim como o energético — amo tudo que seja de doce de leite ou contenha maçã-verde, aprendi a gostar de maçã-verde por você e com você. Estou me alimentando bem, juro! Como vai você e Maia? Rolou mais algo?
Li e reli as mensagens diversas vezes. Respirei fundo, me movi pela cama, pensando no que responder. Comecei a digitar e apaguei, diversas vezes, sem saber o que falar. Fechei os olhos. Pensei, pensei e pensei.
"Oi Lina. Tudo bem. Fiquei muito preocupada e chateada também, você nem deu sinal de vida. É meio invasivo perguntar os motivos quando você não quer contá-los, não é? Você está um pouco melhor? Jura mesmo que está se alimentando bem? O que comeu hoje? Ah, e não aconteceu nada demais depois do beijo. Você vai para a escola segunda?"
