Marianna Mendes, definitivamente, não sabia o que fazer: estava a apenas dois passos da garota mais odiada da escola central de Meio-Norte e, certamente, deveria fazer o que todos queriam - começar uma briga sem sentido, com direito a puxão de cabel...
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Maia ficou completamente sem reação, paralisou total. Claro que ela ficaria desconcertada. Utilizei desse pequeno fator para sair correndo, pois o sinal havia batido a alguns segundos e eu não gostaria de ter mais holofotes para cima de mim.
Aonde eu estava com a cabeça para dizer tal coisa?
Nos lábios dela, talvez.
Sequer esperei Lina para ir para casa. Quando cheguei na moradia, subi as escadas correndo, sem nem cumprimentar o vovô.
Vovô esse que me esculacharia caso descobrisse o meu gostar de garotas.
Vamos lá! Senhor Álvaro Albuquerque Mendes; um homem branco, de extrema direita e conservador, qual me olhava com desgosto apenas por ser retinta e não ter uma aparência "tradicional". Um morador médio de Meia-Norte.
Vovó não era assim. Quando viva, adotou minha mãe, que era uma criança carente. Pelo que mamãe disse, vovô foi totalmente contra, então ela entrou com os papéis de adoção sozinha e conseguiu a guarda.
Sou muito grata a minha, infelizmente, falecida avó.
Retirei a bolsa e a joguei desleixadamente no chão. Enterrei meu corpo no colchão macio da cama e fiquei refletindo durante algum tempo, com medo de que algum vídeo rondasse o suficiente para chegar em meu vô.
Ah, eu somente moro com ele porque papai está a trabalho em uma viagem para uma viagem no Nordeste, e mamãe também está trabalhando duro para conseguirmos morar todos juntos, sem meu avô - ela o odeia completamente para conviver no mesmo ambiente e só me deixou ficar com ele porque papai insistiu muito e disse que não demoraria para ficarmos juntos.
Já fazem o que, dois anos? Não me importa muito, eu apenas quero voltar a morar com mamãe e papai.
Saí de meu desvaneio após ouvir o celular tocando, incessantemente, dentro da bolsa. Fui até o objeto e peguei o telefone, encarando a chamada de Lina e atendendo, já prevendo o sermão que tomaria.
"O que foi aquilo?! Pirou, pifou?! Marianna!"
Respirei fundo, nem eu sabia ao certo o porquê havia proferido tais palavras.
- Boa tarde para você também, Lina. Chegou bem em casa?
"Não estamos com tempo para cumprimentos. A escola toda 'tá falando disso, até em Instagram's de fofoca. Você sabe o que isso significa, não sabe?"
- O meu vô vai me matar. - murmurei, parada no meio do quarto.
"É, ele vai, sim!"
E passei o resto do dia assim: me lamentando por um péssimo jogo de palavras em um momento desesperado pelo medo de apanhar e a atração maior do que meu raciocínio.
(...)
O inverno chegou no dia seguinte, e com ele, as roupas pesadas, o nariz congelando e diversas meias no pé, porque ele não parecia esquentar nunca.
