Toda a situação da noite anterior martelava em minha cabeça. Acontecimentos ruins eram costumeiros, mas o que mais doía, é que eles vinham após momentos felizes.
Acordei no dia seguinte, agarrada a Lina. Acabei adormecendo no colo dela. Ela dormiu sentada, e não se moveu nem por um segundo. O despertador tocava, indicando terça-feira.
"Bom dia, Nana" eu disse baixinho, a acordando com cutucadas e ouvindo seus resmungos. Eu ri. As sobrancelhas franzindo pela irritação e o bico formado, murmurando palavras sem sentido. Após algum tempo, a franjuda acordou, desesperada, tentando arrumar o cabelo castanho.
— Ei! Eu to feia, não olha pra mim, Anna!
O abarjur iluminava certa parte do quarto, fazendo com que eu tivesse visão (não muito boa, mas suficiente) da garota.
— Já faz uns cinco minutos que tô te vendo dormir, Lina! Deixa de frescura.
Ela revirou os olhos acizentados, pegou a almofada ao lado e a tacou em mim, fazendo com que eu a xingasse de maneira imediata, rindo em seguida.
Depois de enrolar, nos arrumamos para a aula. Hoje seria o dia da manutenção das unhas pós escola, e Lina se auto convidou para ir comigo.
Comemos o café da manhã ao lado dos pais de Lina. Eles contaram que o quarto de hóspedes estava pronto desde ontem, mas ao virem nós duas dormindo serenamente, desistiram de me chamar.
O dia na escola foi tranquilo. Me senti ressentida por conta de Maia sequer ter olhado em meu rosto ou respondido as mensagens, dando total atenção e flertes para a garota nova, qual eu sequer sabia o nome. Lina contou sobre a nova série que estava assistindo e puxou assuntos aleatórios para que eu esquecesse aquilo. Depois, me levou até a nail designer e passou um bom tempo vendo minhas unhas serem refeitas.
Papai sempre mandava um pouco de dinheiro mensal para eu manter meus cuidados estéticos, pois ele sabia que quando eu me cuidava, esquecia um pouco das inseguranças extremas.
Após voltar para a casa dos Queirós, eu organizei minhas coisas no quarto de hóspedes e prometi para eles que ficaria por pouco tempo — faltaram me xingar! Me disseram que eu era sempre bem vinda no local. Agradeci muitas vezes e eles me puxaram para um abraço caloroso.
Passei a tarde inteira planejando como perguntaria a Lina se ela de fato gostava de garotas ou não. Decidi que iria em seu quarto, de noite, para lhe questionar.
Quando me levantei da cama, decidida a ir até o cômodo, ouvi alguns batuques na porta.
— Entra!
Para minha surpresa, quem adentrou ao quarto foi a própria Lina. Ela deu dois passos e bateu levemente a porta, trancando-a em seguida.
Tombei a cabeça levemente para o lado direito, curiosa, enquanto via a franjuda se aproximar de mim.
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Dois Passos e o Conto de Inverno
RomanceMarianna Mendes, definitivamente, não sabia o que fazer: estava a apenas dois passos da garota mais odiada da escola central de Meio-Norte e, certamente, deveria fazer o que todos queriam - começar uma briga sem sentido, com direito a puxão de cabel...