O Silêncio da Coroa

Capítulo 1

O dia estava cinza e uma brisa gelada nos abraçava, perfeito para um funeral.

Eu estava junto dos outros empregados do castelo, em uma área mais distante, prestando minhas condolências à falecida Princesa Amélia Everhart, minha melhor amiga. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar, mas eu me esforçava para manter a compostura, mesmo que fosse difícil naquele momento tão doloroso. Apertei com força o lenço de renda em minhas mãos, enquanto ouvia as palavras do padre que conduzia a cerimônia.

O Rei James estava terrivelmente abalado, além da sua doença não ter dado trégua, perder sua filha o tinha devastado. O cabelo se encontrava mais grisalho do que nunca e eu tinha certeza de que os olhos castanhos, agora estavam opacos e tão inchados quanto os meus.

À medida que o funeral chegava ao fim, olhei uma última vez para o caixão da minha amiga, em uma promessa silenciosa de manter sua memória viva para sempre em meu coração. Voltei junto dos outros empregados para o castelo, eu sempre fui a criada pessoal da princesa e me sentia um pouco deslocada agora. Por sorte, eu manteria o meu emprego.

Assim que eu chego, subo direto para o seus aposentos. Não ousaria tirar nada do lugar sem a permissão do rei e nem sei se eu conseguiria. Ajeito sua cama como ela sempre gostou, acendendo sua vela preferida na cabeceira. Abro as grandes janelas e deixo a brisa gelada entrar. Organizo a sua penteadeira, com cuidado para deixar tudo do jeitinho que ela gostava, assim como os seus vestidos que estavam cuidadosamente separados por ordem de cor em seu armário. Foi mexendo ali que eu peguei o seu diário escondido em um fundo falso, onde apenas nós duas sabíamos a localização.

Eu sei que o certo seria entregar a família real, afinal, era uma pequena parte da princesa que ainda estava ali. Mas ela era a minha melhor amiga e eu me permiti ser egoísta o bastante para ser a primeira a ler o seu conteúdo.
Amélia não costumava guardar segredos de mim já que ,na maioria das vezes, era eu quem a ajudava com seus planos malucos. Mas eu precisava disso, precisava ter um pouquinho mais dela comigo.

Escondi o pequeno caderno entre as roupas de cama que eu tirei para serem lavadas, carrego tudo em uma cesta que mantenho próxima de mim enquanto saio de seu quarto, eu paro na porta para olhar mais uma vez, como se eu pudesse ver Amélia lá.

Me dirijo para a lavanderia para deixar as roupas e escondo o diário em meu quarto que fica no cômodo ao lado. Tomo o cuidado para que ninguém perceba nada de diferente caso queira fuxicar em minhas coisas.
Levo um susto ao voltar para a lavanderia e dar de cara com a senhora Jones, a chefe das empregadas.

-O que está fazendo senhorita Grimsley? - Seus braços estão cruzados logo abaixo do peito.

-Desculpe senhora Jones. Acabei de ajeitar o quarto da Princesa Amélia e trouxe os lençóis para lavar. - Seus olhar vai para a cesta que eu apontava e solta um suspiro em seguida.

-Ouça querida, eu sei o quanto você era próxima da princesa. Toda essa situação deve ser mais difícil para você do que para qualquer outra de nós. Tire o resto do dia de folga.

-Não vai ser necessário senhora Jones, eu estou bem para continuar trabalhando e...- Ela me interrompe no mesmo instante.

-Não se preocupe meu bem. Emily vai cobrir o seu trabalho hoje, eu insisto que tire o dia para descansar. Lhe aguardo amanhã no mesmo horário.

Aceno com a cabeça em sua direção, agradecendo pela gentileza. Pego todos os meus pertences no quarto das criadas, incluindo o diário de Amélia e começo minha caminhada até o estábulo. Se eu desse sorte, conseguiria uma carona até a cidade.

Ao me aproximar do estábulo eu pude ouvir o som suave dos relinchos dos cavalos e o farfalhar da palha no chão. Eu respirava fundo, sentindo o aroma familiar de feno e madeira.
Meus olhos encontram os de Thomas, um rapaz robusto e trabalhador, que estava ocupado ajeitando algumas coisas em cima de uma carroça. Ele parecia concentrado, mas ao notar a minha chegada ele me direciona um sorriso caloroso.