DIAS ATUAIS...Amanda
Mais um dia sob o sol escaldante no Rio de Janeiro com suas temperaturas altíssimas, estou voltando para casa desanimada, após outra tentativa frustrada de conseguir emprego. Levei currículo em vários locais, já perdi a conta de quantos distribuí no total, mas como só tenho 18(*) anos, é muito difícil me contratarem, principalmente porque meu endereço agora é a favela do Jacarezinho e infelizmente, algumas empresas não contratam moradores de comunidades. O preconceito impera muitas vezes.
Algumas ruas antes do ponto habitual de descermos do ônibus, o motorista para e informa que todos os passageiros precisam descer, dizendo que hoje não poderá passar deste local.
Só percebi que deveria descer ali, após tirar o fone de ouvido quando uma senhora chamou minha atenção, tocando em meu braço e falando sobre a orientação do motorista.
Ao descer do ônibus, senti um aperto no peito, uma sensação incômoda e angustiante.
Mais a frente, há um tumulto enorme, policiais, trânsito lento e muitas pessoas indo e voltando apreensivas, falando em seus telefones, aparentemente muito nervosas.
Guardo meu celular na mochila e também a caixinha de cor amarela com o fone de ouvido de bluetooth, e ao me aproximar da entrada do morro, sou impedida de continuar.
- Ninguém entra, ninguém sai! - um dos policiais avisa de forma truculenta, portando uma arma enorme em suas mãos.
Assim como eu, vários moradores ficam indignados com a situação, mas somos obrigados a ficar a uma certa distância, aliás, uma distância bem significativa e daqui ouvimos muitos gritos e tiroteio.
Nós todos com nossos celulares nas mãos, a maioria das pessoas sentadas no chão ou nos cordões das calçadas, tentando, incessantemente, conseguir contato com algum familiar ou amigo.
As batidas do meu coração pareciam estar no mesmo ritmo das rajadas de tiros que era possível ouvir incessantemente. Eu queria correr para dentro de casa, trancar as portas e me esconder, mas sabia que não podia. Fomos obrigados a permanecer na rua por conta da invasão policial que estava acontecendo na favela.
Eu moro há pouco tempo no Jacarezinho, pouco mais de 01 mês para ser exata e lá só conheço minha madrinha Diana e sua filha, Fabiele, que é minha melhor amiga desde a infância, assim como minha mãe Alessandra e a mãe dela também são amigas a vida toda. Elas viveram ali desde que nasceram e sempre nos contavam que eram inseparáveis e minha mãe foi embora da comunidade pouco antes de se casar com meu pai, que não era morador daqui.
Durante toda minha infância, a Diana e a Fabiele visitaram nossa casa, assim como algumas vezes, lembro de termos vindo à casa delas também.
Eu não gostei de ter que mudar para este lugar, é tudo novo e ainda estou me adaptando. Mas fomos obrigadas após minha mãe e meu pai se separarem definitivamente, e ela estando desempregada, não teve outra alternativa a não ser voltar para o Jacarezinho. Aqui, ela passou a ajudar Diana a vender os bolos de pote e outros doces no centro da cidade, minha madrinha é ótima nisso e já trabalha há anos neste ramo. Todo dia elas saem muito cedo para fazer as vendas e só retornam muitas horas depois.
Eu tive que trocar de escola assim como a minha irmã Laura de apenas 10 anos também, tudo é novo para mim, assim como para ela. Meus amigos, com exceção da Fabi, são todos da outra escola e eu sinto muita falta deles, e por esse motivo, não vejo a hora desse ano acabar. Estou cursando o último ano do ensino médio e nesta escola não consegui fazer amizades, as garotas não foram muito com a minha cara e se referem a mim, como a "novata da pista", mal sabem elas o quanto odeio estar neste lugar.
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Doce pecado do morro
RomansaCristiano, um homem frio, agressivo e temido por muitos, carrega um trauma de infância desde a morte de sua mãe durante uma invasão de facção rival. Ele é o herdeiro do tráfico de drogas, que de uma hora para outra precisa assumir o comando da favel...