Brand
Sob o calor escaldante que faz hoje, recebemos um carregamento forte de armas que o gerente da segurança acompanhou de perto e depois eu fiz mais uma conferência. Temos no nosso bonde só os de confiança, mas tudo é sempre revisado mais de uma vez pra não ter problemas futuros.
Entre um corre e outro, mandei um dos homens que possui ficha limpa pra entregar pra Fabi a grana que ela me pediu. Parada sinistra essa que não entendi nada e ela vai ter que me explicar depois, até porque minha grana não nasce em mato. Não sou de miséria, mas também não tô fazendo caridade, afinal, a única coisa que eu entendi é que não é pra ela, então ela vai ter que me explicar direitinho isso depois.
Assim que ele avisa que chegou lá, mando mensagem pra Fabi dizendo quem é o cara e já aviso que a noite passo pra buscar ela. Naquele lance que me deixa puto, tem que ser sempre depois que a mãe dela já dormiu e ela saindo às escondidas. Uma hora me canso disso e a mãe dela que se foda. Qual é? A Fabi é maior de idade, porra! Ou a coroa pensa que a filhinha dela não transa?
Depois de conferir e ver que tá tudo certo com a carga, parto tomar uma gelada no bar do Simas, a garganta seca já tá pedindo arrego enquanto atendo uma ligação do Payú perguntando onde estou.
Logo depois, sentado numa cadeira metálica cheia de ferrugem, tomando a cervejinha estupidamente gelada e fumando um cigarro, escuto o Tuim contando umas situações engraçadas de uns playboys que vem até a favela comprar erva da boa. Tuim é um moleque novo, puro e disciplinado. Entrou pro movimento a pouco tempo, mas ele tem talento pra chegar longe.
De repente vejo a mãe da Fabi subindo com aquela garota amiga dela que tava na gravação do clipe e as duas estão com uma cara de enterro. Quando passam em frente ao bar, a velha me deu uma encarada mortal, acho que se ela pudesse, pegava meu fuzil e me mandava pra terra dos pés juntos.
Na real ela nem é velha, é bonita e bem conservada, deve ter sido mãe muito nova, com a mesma idade que a Fabi tem hoje ou até menos, talvez. Ela não vai com a minha cara desde o dia que pegou a filha dela de amasso comigo. Vai vendo, não quer a mina se envolvendo com bandido, melhor com bandido e sendo só dele do que sentar pro morro todo como muitas aí na comunidade.Ela me encara e eu sustento o olhar que só desviei quando o Cristiano chegou de moto, levantando poeira e pedra pra cima com a freada brusca. É impressão minha ou ele tá com o pescoço torto olhando pra garota com a mãe da Fabi?
Payú
Hoje acordei num mau humor do cão, mais do que de costume, que normalmente já não é dos melhores. O peso das responsabilidades tá me deixando estressadão, agora entendo porque meu pai vivia soltando marimbondo. O poder não é pra qualquer um e liderar, menos ainda. Ou você faz o que tem que fazer, ou acaba sucumbindo.
Sentado na cadeira de couro gasto da sala da boca, olhando algumas mensagens no celular, mas nada de interessante. Acabei de terminar uma ligação com meu pai, que quer sempre ficar por dentro de tudo que está acontecendo. Mesmo estando lá, eu e ele andamos em concordância sobre o comando de tudo. Ele já tá desacreditado, não tem esperanças de sair tão cedo daquele lugar, além de ter ficado mauzão com a morte da Mara, ele ainda tem que ficar no privado, é foda. Se eles se amavam, não sei, mas ainda assim, perder alguém na mão desses vermes, abala qualquer um, e no caso do meu pai, já é a segunda esposa que morre, a primeira, foi minha mãe e agora, minha madrasta. Nem vou parar pra pensar nisso, senão já vou ficar neurótico.
E por aqui na comunidade, o caos diário é sempre o mesmo: carregamento, playboy devendo, ligações telefônicas com facções aliadas e malote cheio sempre. Com tanta pica e dor de cabeça, pelo menos o faturamento não pode cair.
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Doce pecado do morro
RomanceCristiano, um homem frio, agressivo e temido por muitos, carrega um trauma de infância desde a morte de sua mãe durante uma invasão de facção rival. Ele é o herdeiro do tráfico de drogas, que de uma hora para outra precisa assumir o comando da favel...