11 - Olhar

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Amanda

O sol forte brilhava lá fora e entrava pela janela refletindo nas paredes precárias da escola da comunidade. O professor de cara carrancuda, seguia a explicação sobre a matéria, sem que eu conseguisse prestar atenção. Mas nitidamente ele estava atento a minha distração, porém, era mais forte do que eu, pois eu só queria estar em casa com a minha irmã ou ajudando Diana a vender seus produtos . Eu queria me sentir útil nesse momento.

A situação da minha irmã tomava meu pensamento por completo, a falta de recursos me atormentava desde que descobrimos a sua doença. E as palavras do médico ecoavam em meus ouvidos, como uma melodia triste que não cessava.

"Infelizmente, os resultados dos exames comprovaram que Laura tem um problema sério no fígado. É uma condição que requer atenção imediata." Essa frase se repetia incessantemente na minha cabeça.

Lutei para manter a atenção nas aulas, mas minha mente teimosa e cheia de ansiedade não me ajudava. Minhas mãos inquietas brincavam com a caneta que desperdiçava tinta, desenhando formas abstratas e sem sentido nas folhas do caderno, enquanto eu contava os minutos que me separavam da tão aguardada hora do sinal para poder ir para casa.

E quando o toque do sinal finalmente soou, empurrei os livros para dentro da mochila, mal me importando com a desaprovação do professor que não é nenhum pouco simpático. Minha urgência era outra, meu desejo incansável era estar ao lado de Laura e saber se a Diana já havia retornado do consultório médico.

Andando apressada pelas vielas, eu escutava um pagodinho pelo fone de ouvido, tentando me distrair, mas as preocupações formavam um nó em meu peito. O vai e vem de motos e as conversas das pessoas ao meu redor, se misturavam com a música tocando, já que uns dos fones não funcionavam direito.

Minha mente vagando pelos momentos felizes que minha mãe, Laura e eu, compartilhamos antes de mudarmos para este lugar.

Laura sempre foi uma criança tão cheia de vida, de energia e curiosidade, e agora ver sua vitalidade sendo roubada pela doença é doloroso demais. E eu me pego perguntando mentalmente a Deus porque tudo isso está acontecendo conosco?

Desde a separação dos meus pais, tudo havia desandado em nossas vidas. Perdemos nossa mãe, meu pai sabe-se lá onde estava e agora, Laurinha enfrenta uma batalha cruel que ela não merece. Minha cabeça dói em pensar tanto.

Um som de alerta dispara em meu ouvido, além da música, olho na tela do celular e vejo o aviso de que a bateria do fone conectado por Bluetooth, está terminando. Esbravejo em pensamento pois a bateria deste telefone não dura quase nada.

Assim que os tirei de meus ouvidos para guardar na caixinha, esbarro em algo que parecia ser uma parede de concreto, e com isso, meu fone caiu no chão, se desprendendo da parte que protege o ouvido. Essas falsificações que eu compro não suportam nem uma queda, que raiva.!

- Não olha por onde anda, não? - A parede de concreto que nada mais é do que uma pessoa e não uma parede, diz em tom áspero e rude.

- Eu olho sim e você seu idiot... -
Ainda abaixada não concluí minha frase, pois algo metálico e escuro surgiu diante do meu rosto.

Olho de baixo para cima, vendo uma arma enorme sendo apontada para mim, enquanto eu olhava para o rosto do homem no qual eu havia esbarrado. Sua fisionomia séria, seu olhar perturbado e sombrio, aliado a arma apontada para mim, fizeram cada terminação nervosa do meu corpo estremecer. Diante de mim, estava alguém muito perigoso, e isso estava claro como o dia.

Ao seu redor, alguns homens igualmente armados e com uma expressão que não deixava dúvida que são os soldados do tráfico.

Meu coração começou a bater descontroladamente, e uma onda de medo tomou conta de mim, enquanto eu tentava formular uma frase para sair dessa situação ou então eu acabaria morta, não tenho dúvidas disso.

- Desculpe! - Finalmente consegui murmurar algo, levantando devagar, tentando manter meus olhos em outra direção. Mas era impossível, o semblante obscuro daquele homem com várias tatuagens nos braços e pescoço, que também me olhava nos olhos, me atraía como imã, e nós ficamos nos encarando por alguns segundos.

Ele é tão... lindo.

Ele deu um passo para a frente e assim ficamos praticamente colados um ao outro, e o medo se intensificou ainda mais dentro de mim. Seu olhar, duro e impiedoso, parecia querer me engolir, ou talvez, me dar um tiro. A segunda opção é a mais provável e eu sabia que qualquer movimento brusco poderia ser fatal.

Os homens posicionados ao lado dele, me olhavam sem mover um músculo sequer, segurando firmemente o armamento em punho, com total atenção ao que estava acontecendo.

O homem lindo e perigoso não disse mais nenhuma palavra, mas seus olhos, frios e maquiavélicos, continuavam fixos em mim. Entretanto, houve uma troca de energia inexplicável entre nós, mas meu cérebro poderia estar me sabotando e essa sensação provavelmente era o medo correndo em minhas veias.

Além do meu pavor, nossa troca de olhares parecia algo mais profundo, algo que eu não conseguia entender naquele momento e um arrepio percorreu minha espinha. E quando pensei em dizer mais alguma coisa, escutei:

- Tá perdida por aqui, pô? - Um dos rapazes perguntou. Olho para ele e vejo que o rapaz moreno que também está armado, é o mesmo que algumas vezes foi em nossa casa comprar potes de doces. Ele é tão novo, deve ter uns 15 ou 16 anos, 18 no máximo e já está envolvido nesse tipo de coisa. Pelo medo que sinto, apenas concordo com a cabeça.

- Conhece ela, Tuim? - O cara tatuado finalmente desviou a arma da minha direção e se voltou para o rapaz que acabara de falar comigo, falando com sua voz grossa e autoritária.

E só agora me dei conta de que entrei em um beco errado. Como todos os lugares dessa favela parecem iguais, acho que acabei me confundindo.

- Claro, pô! É da família da Diana dos doces. - O garoto responde a ele.

- É verdade isso? - O cara tatuado pergunta, me olhando novamente e como eu apenas balancei a cabeça sem conseguir abrir a boca para responder, devido ao medo que estou sentindo, ele repetiu a pergunta de forma grosseira e feroz, me deixando mais apavorada ainda.

- RESPONDE, PÔ!

- É verdade! - Minha voz saiu trêmula. - A Diana é minha madrinha e eu moro com ela. - Meu cérebro envia o comando para a boca e logo após, sinto uma lágrima escorrer, enquanto tento me levantar, para me sentir menos humilhada do que estar no chão.

Alguns segundos se passam enquanto ele segue me olhando, até que diz:

- Tá liberada!

Assim que ele fala, sinto um alívio enorme e me apresso em sair dali, ainda trocando um olhar com ele que volta a falar de forma altiva:

- Hoje você tá liberada, mas fica ligada, essa área aqui não é pra você, não!

Apenas concordei com a cabeça e saí dali o mais rápido que pude, deixando para trás meu fone de ouvido de marca falsificada, que claramente havia estragado e não adiantaria trazer junto. Que dia meu Deus, aliás, que dias e meses terríveis tenho passado, devo estar vivendo meu inferno astral, só pode.

O que a vida quer de mim ao me trazer tantas coisas ruins?

Durante o restante do trajeto, agora o trajeto correto, o olhar horripilante e profundo daquele homem misterioso não saía da minha cabeça. Como pode um cara tão lindo e atraente ser tão asqueroso e amedrontador ao mesmo tempo?

➡️ AVISO:

FIM DA DEGUSTAÇÃO!!!

Aqui encerra a degustação dessa estória forte, intensa e envolvente, que vai te fazer rir, chorar, suspirar e sentir calor com as cenas hot.

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Valorize os escritores brasileiros que, assim como eu, tentam fazem suas estórias serem conhecidas por mais pessoas.

Doce pecado do morroOnde histórias criam vida. Descubra agora