Fabi
O relógio no meu pulso marca 22:50, relógio este que foi presente do Brand e que eu uso escondido da minha mãe.
Esse lance com ele tomou uma proporção que eu não esperava. Há pouco mais de dois anos, nos envolvemos pela primeira vez durante um churrasco na casa de um amigo dele do bonde, que era casado com minha amiga Paula. E eu, que sempre beijava um garoto aqui, dava uns amassos com outro ali, senti algo que eu nunca senti antes estando nos braços dele e passei a ficar somente com ele.
Brand é um homem perigoso, misterioso e de aparência muito atraente. E depois de se envolver com alguém como ele, é impossível não querer repetir, esses homens se tornam um vício, uma fraqueza, e comigo não foi diferente. No entanto, esse lance que temos está longe de ser um relacionamento, embora ele seja muito ciumento e controlador, eu sei que ele não é fiel e que bandido seria?
No começo eu até não me importava, mas agora está muito difícil. Ele não me assume, o que me deixa muito frustrada, e mesmo que assumisse algum dia, sei que minha cabeça continuaria cheia de chifres. Eu só gostaria de poder sair disso, mas infelizmente não consigo.
Amanda e eu estamos sentadas na minha cama, com a luz da luminária de unicórnio da Laurinha proporcionando um ambiente de refúgio para nossas conversas. Laurinha dorme alheia aos nossos assuntos na cama auxiliar ao lado da cama de Amanda. Nossas vozes sussurram no ar, compartilhando segredos que apenas nós conhecemos, como o meu envolvimento maluco com o Brand, por exemplo, que vem me buscar daqui a pouquinho. Mas também conversamos sobre outros assuntos, é claro.
- Amanda, é tão difícil acreditar que isso está acontecendo com a Laura. - digo com um nó na garganta. - Mas eu sei que dará tudo certo.
Amanda suspira e nós duas olhamos para Laurinha ao nosso lado. Seu rosto sereno esconde a batalha que ela enfrenta, a doença que ameaça sua vida. Sinto um misto de raiva e tristeza, essas coisas nunca deveriam acontecer com crianças.
- Eu não sei como vamos conseguir o dinheiro para a cirurgia! - Amanda diz com lágrimas se formando. - Os gastos médicos serão muito altos. Aperto a sua mão com firmeza, pois mesmo sentindo vontade de chorar, minha amiga precisa de força nesse momento, e não de mais uma dose de nervosismo.
- Juntas vamos encontrar uma solução. - digo e ela assente. - Talvez possamos organizar algum tipo de evento beneficente, eu sei que muitas pessoas na comunidade adorariam ajudar. - sugeri. Amanda sorri, sua expressão fica um pouco mais animada.
- Essa é uma ótima ideia! E talvez também possamos criar uma campanha online para arrecadar o valor ou outra coisa. Eu faço qualquer coisa pela vida da minha irmã!
- Isso, assim que tivermos o orçamento dos valores exatos, pensaremos com calma e encontraremos uma solução!
- Sim, a madrinha vai ver todos os valores amanhã!
Conversamos por mais alguns minutos, traçando planos e ideias. Mas nossa conversa é interrompida pelo som de uma mensagem chegando no meu celular. No visor, o contato do Brand, que está lá fora me esperando.
- Desculpe, Amanda! - digo, pegando a sua mão. - Eu ficaria aqui até de madrugada conversando com você, mas o Brand já chegou e o homem é impaciente! - reviro os olhos, pois o Brand é alienado. Amanda sorriu compreensivamente.
- Vai lá, amiga. Não se preocupe comigo. Nós continuaremos essa conversa amanhã, vai lá com o seu boy e juízo, hein?
Sorrimos e colocamos a mão na boca, percebendo que poderíamos acordar a Laura ou até mesmo minha mãe, com o nosso tom de voz um pouco elevado pelas risadas. Me levanto e caminho até a janela, lançando o olhar para Amanda que também me olhou balançando a cabeça em negativo e ao mesmo tempo rindo da minha situação de ter que sair pela janela para minha mãe não ver. Isso me remete a um tempo em que eu tinha 14 ou 15 anos e fingia ir para a escola, mas na verdade ia para a sorveteria ou outros lugares da comunidade com a Paulinha, só para ficarmos de beijinhos com os garotos que gostávamos. Ou seja, desde sempre eu faço besteira.
Lembrar da Paula me deixa triste, depois da morte do marido dela na última invasão, ela se isolou de tudo e de todos. Eles viviam juntos desde o ensino médio e ele era do movimento, e agora a Paula vive em tristeza profunda. Nós éramos muito amigas, inclusive, preciso visitá-la mais vezes.
Assim que passo pela janela de forma sorrateira e com grande habilidade adquirida por ter feito isso diversas vezes, me sinto patética, mas por enquanto é o único jeito. Logo que estou na rua vejo o imponente carro do Brand parado numa parte mais escura, como sempre fazemos, e quando entrei, nos beijamos intensamente daquele jeito quente que é tão nosso, enquanto ele aperta uma das minhas coxas e logo partimos em alta velocidade para a casa dele.
A noite estava escura e silenciosa, exceto pelo brilho da lua que se entrava pela persiana semiaberta do quarto. Brand, deitado na cama, olhando para o teto, fumando um baseado, ainda sentindo os efeitos da intensa rodada sexo que tínhamos acabado de ter.
Tentei levantar, pegando minha roupa na lateral da cama, mas fui puxada bruscamente por ele.
- Ei, preta, tá doida? Tá indo aonde? - ele me olhou sério enquanto segurava meu braço.
- Brand... eu tenho que ir embora. - sentei na cama, puxando o lençol para cobrir meu corpo. Ele suspirou e me fez olhar para ele, suas feições eram tensas.
- Tô cansado dessa porra de ficar escondido assim, Fabi. Tua mãe tem que aceitar, pô! Eu lá sou homem de ter medo de alguém? Tu não é maior de idade, caralho? Tu mãe vai poder fazer o que contra mim? - ele pega novamente o baseado que havia colocado no criado mudo, traga soltando a fumaça pro lado, para não baforar na minha cara. Seu olhar era feroz quando soltou meu braço, passando a mão pelo cabelo, muito frustrado. - Qualquer hora dessas, eu perco a paciência!
- Sou maior de idade, Brand, mas moro na casa da minha mãe e não trabalho, então o mínimo que posso fazer é não dar desgosto e respeitar ela! - falo, repetindo pela milésima vez a mesma coisa de sempre e começo a vestir minha lingerie.
- Tá te faltando alguma coisa? Já falei que não quero você trabalhando na pista! - ele diz sabendo que não me falta nada, afinal, ele me dá tudo. Mas sabe também que eu gostaria de verdade que ele me assumisse e parasse com a putaria. Porém eu não sou o tipo de mulher que fica implorando, se ele me assumir tem que ser por livre vontade, mas sei que nunca teremos um relacionamento, pois ele é o que é, e uma hora dessas vou acabar cansando disso.
- Não Brand, não está me faltando nada! - visto a calcinha com raiva. - E obrigado por ter emprestado o dinheiro para os exames da Laurinha, não sei de onde iríamos tirar.
- Não é empréstimo, tu sabe! O que eu posso fazer por você, eu faço! - sua voz era pesada. E eu penso que o principal que ele poderia fazer por mim, ele não faz, que é me dar a exclusividade que ele exige de mim e eu sinto raiva de mim mesma por viver assim.
Fico em pé para fechar o sutiã e num rompante, ele está atrás de mim, me abraçando.
- Pô preta, eu aqui cheio de saudade e você aí, se arrumando pra ir embora, qual foi? - ele beija meu pescoço e eu me viro de frente para ele, envolvendo minhas mãos em sua cintura.
- Brand, eu tenho que ir! Amanhã minha mãe vai sair cedo, acho que nem vai vender os produtos dela pra ir nos consultórios médicos e hospitais para ver quanto vai custar a cirurgia e o tratamento da Laurinha.
- Foda essa parada aí, como tá a garota?
- Daquele jeito, o médico disse que a doença está progredindo, e a Amanda está muito preocupada. Elas são como irmãs pra mim, e ver elas assim me parte o coração. Eu tenho que ficar com a Laura enquanto a Amanda está na escola, ela está debilitada e não pode ficar sozinha.
- Ela é filha daquela mulher que morreu na invasão? - Brand pergunta, agora mais compreensivo.
- É, ela e a Amanda são filhas dela!
- Tu é uma amiga rara hoje em dia, minha gostosa! - Ele fala beijando meu pescoço, me causando arrepios.
- Para Brand, eu tenho que ir! - falei manhosa sem credibilidade nenhuma na tentativa de ir embora.
- Tu vai, pô! Mas antes vou te sugar mais um pouquinho! - ele coloca a mão dentro da minha calcinha e começa a me tocar, me levando a loucura e sendo impossível resistir. Em poucos segundos estamos em cima da cama outra vez, com gemidos altos ecoando pelo quarto.
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Doce pecado do morro
RomanceCristiano, um homem frio, agressivo e temido por muitos, carrega um trauma de infância desde a morte de sua mãe durante uma invasão de facção rival. Ele é o herdeiro do tráfico de drogas, que de uma hora para outra precisa assumir o comando da favel...