SETE

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O passado sempre retorna, independentemente se for desejado ou não. Em algum momento da vida, as lembranças retornarão, e não podemos fazer nada para reverter, apenas aprender a encarar como uma forma de amadurecimento.

O garoto de quatorze anos olhava sua amiga de treze, sorrindo com suas amigas de sala.

Ao ver os olhos brilhantes da Kang, seu peito, por algum motivo, se esquentou, a sensação do ar se dissipando tomou conta de seu corpo.

Era possível afirmar, que naquela idade, tão novos, era amor?

E após todos os anos, estudando juntos, os olhares se intensificaram, ficaram mais quentes, necessitados, intimidadores.

Suas feições não escondiam nada, nunca esconderam. A língua necessitada lubrificava os lábios, os olhos profundos se dilatavam com as encaradas, as respirações descompassadas, era amor?

Mas, aquela noite, aquela noite confirmou tudo. O céu desabava conforme as trovoadas, e a volta da escola para casa, não estava sendo nada fácil.
A ventania desfavorecia, dificultava o equilíbrio. E alí, dentre aquele vendaval, a cena mais inusitada acontecerá.

Sozinha dentre aquela tempestade, pôde sentir as mãos quentes entrosando em seus dedos finos e gelados, o guarda-chuva que agora estava alí, a protegeu do clarão dos raios.

Olhos intensos e necessitados a encaravam, olhar preocupado. O moreno olhava fascinado para como sua paixão era tão bonita, até mesmo na chuva.

Foram os trinta segundos mais longos de suas vidas, em uma guerra de olhares confusos, pôde-se afirmar, é amor.
Com certeza é amor.

- lembra daquele dia na chuva? - Minji.

- lembro como se fosse ontem, a chuva quase carregava você - se aconchegou nas cobertas.

- eu realmente não sei o que eu iria fazer se você não aparecesse - sorriu.

- te falei que você é linda de todos os jeitos? - aninhou a menor.

- com certeza, mas quero que repita - o sorriso transbordou.

- você é linda, minha deusa - a deitou em seu peito.

>🌻<

Estava a passear com Yeontan pela beira da praia, brincando com o pequeno cachorro, que olhava desconfiado para a água.

Suspirou feliz, correndo à beira-mar, os pés sujos de areia e a alma transpirando felicidade.
Mas sabe, existe aquele ditado, tudo que é bom, dura pouco.

A alguns poucos metros de distância, sentada em uma pedra, ela estava lá, descontente, triste.

- oi, posso sentar aqui com você? - Minji perguntou simpática.

- ah, claro - afastou-se, dando espaço para que a garota lhe fizesse companhia.

- Interessante como as coisas mudam tão rápido, não é? - Minji olhou para a lua, que brilhava constantemente no céu.

- realmente, a gente acaba não percebendo - suspirou - já sentiu como se estivesse perdendo alguém? Como se ela deslizasse por seus dedos como um rio? - seus olhos marejaram.

- eu não sei exatamente como é a sensação, mas acredito que consigo entender, quer falar comigo sobre?

- hum, olha, é meio estranho falar isso justamente com você - sorriu sarcástica.

- entendo - repousou a mão sobre - se foi alguma coisa que eu fiz, já peço desculpas agora.

- não, não, você com certeza é a última pessoa que eu arrumaria briga - sorriu - mas, sabe, essa pessoa é meu amor de infância, acho que desde o sétimo ano, envelhecemos juntos, assim como todo mundo aqui, eu me esforcei bastante pra chamar a atenção dela, porém, acredito que não adiantou, ela achou o amor da vida dela, e eu fico muito feliz com isso, a última coisa que eu quero ver é ela sofrendo, mas ainda sim, meu coração dói tanto quando vejo, porque eu queria estar no lugar daquela pessoa, eu queria ser o motivo dos sorrisos, dos elogios, mas eu não posso - as lágrimas frias escorriam pelo rosto, machucando a alma - eu estou feliz, feliz por ela ter encontrado quem ama, mas meu peito dói muito, porque sei que eu nunca vou estar lá - ela falou, suas palavras foram como facadas no peito de Kang Minji.

Os dedos longos e delicados foram de encontro às bochechas molhadas dela, limpando como uma borracha, com intuito de apagar tudo.

- Jennie, eu sinto muito que você se sinta assim - a abraçou.

E durante a noite, a madrugada, o dia, aquilo não saia de sua cabeça. E após aquela conversa, passou a prestar atenção nos olhares, nas expressões, nas reações e, principalmente, nas palavras.

E por algum motivo, todo aquele desabafo, a deixou com uma pulga atrás da orelha. De quem ela falava?
Pensou por um momento, se teria como ajudar sua amiga. Não queria a ver daquela forma, não desejaria isso de modo algum.

Seu estado cupido foi ativado, mas, era possível atirar sua flecha sem saber o alvo? Estava decidida a descobrir, infelizmente.

E na última noite alí, naquela praia, foi quando descobriu.

Jennie mantinha um sorriso amarelo no rosto, os olhos brilhando, sentada na areia, com seu vestido tubinho. E a pessoa que era direcionada aquele olhar, doeu, doeu muito.
Taehyung jogava vôlei com o pessoal, já Minji, olhava tudo da mesa onde estavam as comidas.

O olhar sôfrego da amiga, a deixou em pedaços, agora ela sabia, sabia que Kim Taehyung era a paixão de Kim Jennie.
Os dedos doeram, largando o prato, que foi de encontro ao chão.

- Minji? O que aconteceu? - Solar perguntou.

- não foi nada, cãibra - sorriu balançando a mão.

Arrumou a bagunça que fez, com medo de que derrubasse mais algo, pois a mão tremia.

- Minji, pode deixar que eu faço, vem, vamos tomar uma água - Solar olhou para a direção que Minji tanto olhava.
De alguma forma, Solar havia percebido.

Seus olhos doeram, o que faria? A respiração estava acelerada, a garganta doía, por quê?

- Minji? Minji acorda! - Solar a levou em direção a pia, lavando seu rosto. E a única reação da garota era ficar parada, tremendo.

Doía saber que seu amado era a pessoa tão falada, o que mais doía, era saber que sua amiga estava sofrendo.

Quando estamos de cabeça quente, tomamos decisões inconsequentes, decisões que poderiam esperar para serem tomadas.

A maior parte dos erros que cometemos não se devem às más decisões, e sim às indecisões.

A dor do coração nunca pode ser curada, ela apenas ameniza, e sua indecisão a quebrou completamente.
Estava decidida, não queria que sua amiga sofresse.

Minji sempre se achou alguém muito complicada, chata, então, por quê prenderia alguém em sua mente turbulenta?
Ninguém merecia isso, então, a sua decisão, era libertar Kim Taehyung de seus braços. Em sua pequena cabeça, essa era a decisão certa, por mais que doesse para sempre. Ele merecia alguém melhor.

Más decisões feitas com boas intenções ainda assim são más decisões.

Em nenhum momento isso foi feito com intuito de terem rivalidades femininas.
Não aceitarei comentários falando mal da Jennie.
Afinal, em nenhum momento ela quis separar eles.

Friends - Kim Taehyung Onde histórias criam vida. Descubra agora