Parte Dezessete - Bruce

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Era uma noite fria, como todas as noites em Gotham. Aquela noite, escura como piche, úmida o suficiente para fazer suar e grudar as roupas à pele, era do tipo que fazia o estômago dele revirar.

Estava naquele beco de novo.

Aquela era uma noite que não conseguia esquecer, por mais que tentasse. Tentou por muitos anos, mas não tinha como fugir dela. Aquele beco era um ímã, o perturbando em sonhos como farpas presas nos dedos, tão fundo que não conseguia arrancar.

Os corpos dos pais estavam à sua frente. O sangue fresco vertendo, deslizando no asfalto até chegar aos joelhos dele.

A arma do atirador ainda estava erguida, apontando em sua direção, e encarar o responsável não ajudou a se lembrar de seu rosto naquele beco mal iluminado.

– Nada pessoal, garoto, só negócios.

Dedo no gatilho.

O terceiro disparo.

Bruce, em um espasmo, chutou o ar, abrindo os olhos somente a tempo de perceber que estava caindo com sua cadeira no chão, batendo a cabeça com força. Grunhiu de dor, odiando a si mesmo por ter cochilado.

Respirou fundo, tentando voltar a realidade e acordar de vez. As pontas dos dedos tatearam a lateral direita de sua cabeça, onde a cicatriz se escondia sob os cabelos negros.

Naquela noite todos estavam com máscaras de palhaço. O Coringa havia incitado as massas. Bruce soube muito depois, no hospital, que o infame palhaço havia matado o apresentador de um programa ao vivo, e algum tempo depois, escondido do olhar vigilante de Alfred, Bruce procurou por matérias a fim de entender o que tinha acontecido.

Muita gente descontente com seu pai, desacreditados de suas promessas, incitados pelas palavras do Coringa perante os últimos eventos desastrosos que carregavam o peso do nome Wayne, criaram uma verdadeira rebelião em Gotham que custou muito à polícia apaziguar.

Desde então Gotham nunca mais foi a mesma. Nem ele.

– Noite agitada? – ouviu Alfred se aproximar, trazendo uma xícara de café. O cheiro da bebida logo fez seu estômago roncar. – Deveria dormir um pouco, Bruce.

– Eu tô bem – virou para o lado, se pondo de pé e erguendo a cadeira. – Hoje foi uma noite tranquila. Vou para o clube ver as garotas.

– Devo me preocupar com estes aqui? – Alfred se referiu aos homens que Bruce havia pesquisado antes de cochilar.

– Não tenho um veredito ainda – se aproximou para pegar a xícara de café. – Só Olivia sabe dizer – suspirou.

– E como ela está, a propósito?

– Não falo com ela há alguns dias. Ela está ocupada.

– Ah... – desviou o olhar. – Entendo. Eu sinceramente espero que o que quer que ela esteja fazendo acabe logo.

– Mal a conhece e já se apegou a ela? – semicerrou os olhos.

– Você a perseguiu por meses – arqueou as sobrancelhas em julgamento. – E se me recordo bem, vocês parecem...

– Isso não vem ao caso – Bruce pigarreou.

– Me preocupo com suas amigas, especialmente porque posso contar o número delas nos dedos, e me preocupo com Olivia ainda mais, sabendo a história dela.

– Se eu disser que estamos namorando oficialmente, se preocuparia mais ainda?

O julgamento deu espaço à surpresa nos olhos do mordomo.

– Definitivamente.

– Por quê? – Bruce franziu o cenho.

– Por ser sua namorada. Dois erros não resultam em um acerto. Sinceramente espero que vocês consigam colocar as cabeças ocas no lugar, ou será doloroso para todos os envolvidos.

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