Parte Vinte e Dois - Liv

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Ela tinha feito seu rumo de volta para casa tremendo de raiva depois de tanto chorar por causa daquele idiota. Viu o nascer do dia e a primeira coisa que fez depois de conseguir raciocinar durante sua caminhada de mais de uma hora pela cidade foi passar em um café e comprar cappuccinos e doughnuts para as garotas, que provavelmente estavam em um sono pesado depois de uma noite ruim de trabalho.

Mas a fila para o café valeu a pena, a julgar pelo cheiro.

Ficou aliviada quando enfim chegou ao prédio do seu apartamento, se preparando mentalmente para subir aqueles lances de escada.

Em algumas dezenas de vezes durante aqueles meses em que morava com Selina ela chegou a esbarrar no seu vizinho do primeiro andar, um garoto pequeno e mal-encarado que era mal falado na vizinhança e tinha fama de ser mão leve por onde passava. Quando não estava nas ruas aprontando alguma, roubando coisas, às vezes ela podia ouvir ele discutindo com o pai - único adulto na casa, ao que parecia.

Os dois não eram tão próximos - Liv não era realmente muito próxima de ninguém além das garotas naquela época da vida, mas ela conhecia a rotina dos vizinhos de baixo o suficiente pra saber que aquela quietude não era tão normal assim. Era fim de outubro e ele deveria estar estudando, então o silêncio não deveria ser inesperado, porém, Liv estava morando ali por tempo suficiente pra saber que ele raramente ia pra escola e que pela manhã geralmente o encontrava na rua.

E se ele não estava nas ruas e o apartamento estava quieto...

Liv parou em frente à porta do apartamento deles, esperando ouvir qualquer coisa. Nem mesmo a TV ela ouviu. De cenho franzido, subiu as escadas para o seu andar, destrancando a porta com cuidado para não fazer alarde para as garotas, sendo recebida pelos quatro gatos de Selina - e Selena parecia muito carinhosa com ela, por algum motivo.

Com cuidado, foi até o quarto da morena, percebendo que ela dormia em posição fetal na cama de solteiro. Se agachou ao lado da cama, dando alguns tapinhas no colchão para chamar a atenção dela, a fazendo abrir os olhos com dificuldade por conta das luzes da manhã.

– Você demorou – Selina murmurou.

– Foi mal. Tem café da manhã pra vocês na cozinha.

– Comeu alguma coisa?

– Vou comer, só vou dar uma olhada no Jay lá embaixo.

– Algum problema com o moleque? – Selina imediatamente se endireitou na cama para sentar.

– Não sei, vou bater lá na porta. Volto já – beijou sua testa e levantou, deixando o quarto e então o apartamento.

Depois de dois lances de escada, parou à porta e bateu na mesma três vezes e esperou ouvir passos do outro lado.

Mas não ouviu nada. Geralmente quem tendia a aparecer era o detestável e asqueroso Willis, o pai do garoto, porém...

A demora por resposta começou a incomodá-la. Bateu mais algumas vezes, forte o suficiente para que a porta fosse para trás, destrancada, o que era incomum também.

– Jason? – o chamou enquanto empurrava a porta para trás e arriscava alguns passos dentro do apartamento.

O lugar fedia à azedo de cerveja e suor, mofo e alguma coisa podre que infestava o apartamento inteiro junto com o cheiro de louça e panelas sujas. As paredes estavam com partes do papel de parede caindo, rasgadas e sujas. A TV na sala de estar estava ligada, assim como todas as luzes e se aproximando da sala para desligar o aparelho, Liv percebeu um par de pernas atrás do sofá verde-musgo em frente à janela.

– Jay?! Jason?! – correu até o garoto, empurrando o sofá do caminho e o vendo inconsciente com o rosto contra o chão. – Jason! – o virou de costas no chão frio, segurando seu rosto. – Ei, garoto, acorda!

Fighting MyselfOnde histórias criam vida. Descubra agora