Capítulo dezenove - Uma surpresa

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Blair Finnegan

Meu pai apareceu sábado de manhã bem cedo.

Faziam dois fins de semana que não me visitava, estranhei suas pausas repentinas, mas ele parecia bem, no entanto perdeu peso, pois suas camisas antes coladas ao corpo pareciam largas nos braços.

— Está fazendo dieta? — perguntei enfiando um pedaço grande de panquecas preparadas pelo meu pai.

Ele remexeu seu próprio prato com frutas e mel, diferente de mim que espalhou calda de chocolate por cima de uma montanha de panquecas ainda quentes, seria um desperdício não comer todas já que meu pai recusou.

— Não, filha. Deve ser resultado da academia. — ele levantou um dos braços para fazer uma pose e mostrar os músculos um pouco minguados se devo confessar.

O que me fez rir dele.

— Desde quando está fazendo academia?

Ele deu de ombros, finalmente começando a comer.

Meu pai não era do tipo saudável, fazer academia, comer frutas no café da manhã ou salada para o jantar. Nas férias a coisa mais saudável que vi meu pai comer foi um hambúrguer vegetariano que ele pediu por engano em um restaurante perto da casa dele.

— E como está a faculdade? — desconversou.

Foi minha vez de dar de ombros. Para um primeiro trimestre universitário eu estava me saindo bem, meu único problema era cálculo, segundas-feiras nunca foram minhas preferidas e cálculo como minha primeira aula deixava o dia ainda pior.

— Minha primeira prova é na segunda, cálculo. — meu pai suspirou. Ele sabia da minha dificuldade com números e em qualquer matéria de exatas. Ele me chamava de a garota de humanas, poderia muito bem ler quinhentas páginas em um dia, mas demoraria cinco semanas para resolver um problema matemático básico.

Cravei o garfo em mais um pedaço de panqueca, as gotas de chocolate da massa derretendo em minha boca, vovó ficaria possessa ao saber que meu pai deixava eu comer mais açúcar do que o normal no café da manhã, ela dizia que o chocolate atrapalhava o raciocínio, te dava energia momentânea e depois te deixava letárgica o resto da manhã.

Talvez ela tivesse razão, mas eu precisava dessa energia extra para encarar os dois mentirosos que dormiam nesse momento nos seus quartos. Chegaram de madrugada, quase sem fazer barulho, mas escutei a voz grave de Hunter sussurrando alguma coisa para Matthew.

Eles me ligaram tantas vezes nos últimos dois dias que me obriguei a colocar o celular no silencioso, não atendendo suas ligações ou respondendo nenhuma das mensagens, ainda queria entender porque eles mentiram para mim, porém não quis confrontá-los por telefone, então resolvi apenas ignorá-los.

Meu pai vai ser uma boa desculpa para continuar ignorando os dois garotos, vou convencê-lo a sairmos para almoçar fora na maior distância que conseguir desse apartamento.

Terminamos de comer e recolhemos os pratos da mesa, era pouca louça a se lavar, não havia necessidade de ligar a lava louças para enxaguar dois pratos, alguns talheres e xícaras.

— Falou com seus avós? — meu pai questionou secando uma xícara que acabei de lavar.

Não falava com minha avó desde o fim de agosto, se passaram quase trinta dias, ela ligou há algumas semanas, mas decidi não atender a ligação. Ela simplesmente foi indiferente a mim a vida toda, não havia motivo para se desesperar agora. Não sabia se sua preocupação era genuína ou se eu era apenas um negócio a ser administrado.

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