Capítulo 52

1.2K 92 19
                                    

Antonio Cara de Sapato

Dilacerado, sento-me no sofá da sala da Cecília e me permito chorar. Meu corpo inteiro dói, mas em especial meu coração. É como se eu tivesse perdido uma parte de mim e aparentemente, a parte mais importante.

-Ei? Você tá chorando? –Escuto a indagação da Ceci, mas não me dou ao trabalho de responder, muito menos de enxugar as lagrimas. –Caralho, eu nunca te chorar, Sapato.

-Me deixa sozinho, por favor! –Suplico de olhos fechado, sentindo meu rosto ser banhado em lágrimas.

-Não. Claro que não. Você tá péssimo. Anos de amizade e eu nunca te vi assim. Eu posso não concordar com o que você fez, mas eu nunca te deixaria sozinho.

-Ela nunca vai me perdoar, Ceci.

-Sapato, ela te ama e tá carregando um filho seu, ela com certeza vai se permitir te ouvir, cabe a você ser sincero. Fala o que você sente, fala que a ama.

-Eu a amo?

-Quem tem que me responder é você.

-Eu não sou muito bom com essas coisas, mas se isso não é amor, eu não sei o que é. Você não tem noção de como eu to me sentindo, de como a sensação de perder ela me destrói. Eu não consigo imaginar uma vida sem a Amanda, Cecília. Eu já me peguei até pensando e imaginando os momentos com o nosso filho ou filha, não sei.

-Sinto muito dizer, isso é amor sim.

-E agora, o que eu faço?

-Vai atrás dela.

-Ela vai me expulsar da casa dela, uma hora dessa, ela deve tá me querendo a mil quilômetros de distancia dela.

-E você vai obedecer a esse desejo dela? Aliás, nem dela é, é da raiva que ela tá.

-Eu não sei. Não quero fazer besteira, não quero comprometer o bem estar dela e do nosso filho. Eu to perdido, Ceci.

-Calma, eu vou te ajudar, tá?

Assinto com a cabeça e me calo voltando a chorar com intensidade, largado em seu sofá.

-Eu vou até lá. –Informo confiante após alguns minutos.

-Fala com sinceridade, ela vai te escutar.

Antes mesmo que eu pudesse abrir a porta, Fred entra com uma cara nada boa.

-Aonde você pensa que vai?

-Atrás da Amanda. Ela precisa me ouvir.

-Você não vai a lugar nenhum. Cecília, será que você poderia nos deixar a sós?

-Claro. Cuidado com o que vai falar, ele tá muito machucado.

-Machucado? Me poupe, Cecília. Machucada quem tá é a Amanda, não o Sapato que fez essa maldita aposta. –Percebo a raiva na fala do meu amigo e isso me dói ainda mais.

-Fred...

-Cecília, ele tá certo. Pode deixar que eu me resolvo com ele, obrigada. –A interrompo ao perceber que ela iria me defender.

-Qualquer coisa só chamar.

-Tá bom! –Acompanho com olhar ela saindo e em seguida me direciono até o Fred. –Pronto, pode começar.

-Eu só quero que você me responda uma coisa. Mas a resposta tem que ser sincera.

-Pergunta.

-Você só ficou  com a Amanda por causa dessa aposta?

-Fred, você me conhece melhor do que ninguém nessa vida, olha pra mim e me diz se eu faria isso.

-Eu não quero dizer nada, Sapato. Eu quero que você me diga e verdade, por favor!

-Tudo bem! Desde o momento em eu bati os olhos na Amanda, eu senti algo estranho aqui dentro e óbvio, isso me assustou. Era um sentimento novo, que de certa maneira me causava medo. Eu tentei fugir, novamente o medo de ser abandonado me amedrontou. Toda vez que eu havia, eu sentia algo estranho e isso me deixava extremamente inquieto, então eu comecei a acreditar que era só ego ferido.

-Porque ela te desprezava?

-Justamente. Foi aí que entrou a aposta com o Rodrigo, ele debochou que ela era a única mulher que havia resistido a mim e eu tomei isso como um desafio, mas na verdade era só um disfarce mesmo. Era o motivo que eu precisava pra correr atrás dela.

-E aí você achou que apostar quem pegaria ela primeiro era uma boa idéia? Que idiotice, Sapato.

-Eu sei que foi idiotice, tá? Eu entrei nessa por pura burrice. Mas a prova que eu não fiquei com ela só por isso, é que a gente ficou e eu não falei para o
Rodrigo, eu já tinha esquecido essa merda.

-Não contou porque tava viajando, Sapato.

-E celular existe pra quê, animal? Eu não contei por não importava. Sem falar, que eu fiquei com ela antes de viajar, eu poderia muito bem ter falado, mas não. Eu preferi esquecer essa merda.

-Mas ele não.

-É, ele não. Eu me apaixonei pela a Amanda, Fred. Você não tem noção por tudo que eu passei nessa viagem e o quanto ela me fez mudar. Eu tava disposto a construir uma família com ela, fazer tudo certo dessa vez, eu ia lhe pedir em namoro, eu a convidei pra morar comigo, eu só queria ela perto de mim, tava tudo tão perfeito. Aí, essa bomba explodiu.

-E agora, o que você vai fazer?

-Correr atrás dela, é claro. Eu to disposto a tudo pela a Amanda, até rastejar se for preciso.

-Ela não vai querer te ver nem tão cedo.

-Eu sei que não, mas eu preciso da um jeito e eu sei que ela é sua amiga e que você tá com ódio de mim, você não precisa me ajudar nessa. Eu quero mais é que você cuide dela, eu dou meu jeito sozinho.

-Acontece que eu quero te ajudar.

-Quer? –O indago surpreso.

-Eu acredito em você, idiota. –Sorrio sentindo um pequeno alivio. –Mas eu acreditar é fácil, o difícil mesmo é a Amanda. Com ela vai ser mais difícil.

Acho que alguém vai ter que ralar em!

love and hate Onde histórias criam vida. Descubra agora