46. Maria João?

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Alex

Estou acordado e em um quarto no dia seguinte. Estou ligeiramente com dores mas não é nada insuportável.

Estou pensando no que o doutor me disse "mas ela fez uma carta para você". Não consigo imaginar quem seria que me mandaria uma carta, no entanto, quero lê-la. Isso está me matando de curiosidade.

-Olá, Alex. - O doutor entra no meu quarto. - Essa é a carta que a senhora me mandou te dar. - Ele diz entregando-a a mim.

-Obrigado, doutor. - Agradeço pegando na carta da sua mão.

O médico sai do quarto e fico sozinho no quarto, neste silêncio. Bufo e tomo coragem para abri-la. Finalmente, abro a carta e tiro o papel de lá de dentro. Coloco o envelope na barriga e abro o papel que está dobrado.

Menino, Alex

Sou a Maria João. Não sei se se lembra de mim, mas sou aquela senhora que esteve com você no quarto do hospital que estava com uma pneumonia grave. Decidi partir hoje, dia vinte, e doar um órgão para uma pessoa que merece viver mais do que eu.
Quando vi você naquele estado eu pensei que deveria ajudar alguém, no caso, você menino Alex. Eu já sabia que eu estaria para falecer porque, já agora, estava doente há bastante tempo e teria que partir a qualquer momento. Aproveitei que o meu rim está em ótimo estado ainda e parti mais cedo.
Quero mesmo que o menino melhore e vive bem para o resto da sua vida.

Obrigada, menino Alex.

Cumprimentos, Maria João.

A senhora, doou o seu rim para mim? Afinal foi ela?!

Estou emocionado e chorando, que está fazendo pressão nas minhas costas de uma forma absurda. A Maria João me ajudou para eu sobreviver em vez dela ter mais tempo de vida.

Com certeza eu vou ficar grato para o resto da minha vida. Queria vê-la mais uma vez nem que fosse morta.

Eu quero vê-la!

Carrego no botão que está na parede ao lado da maca para chamar o médico. Ele entra quase no momento em que toquei no botão.

-Olá, Alex. Necessita de alguma coisa? - Ele pergunta.

-Eu queria saber se a senhora Maria João está no hospital. - Pergunto nervoso.

-Está. Ela está recuperando da cirurgia. - Ele afirma.

-Eu quero falar com ela. Ainda hoje! - Digo decidido.

[...]

Estou sendo levado para o quarto da senhora Maria João. Estou ansioso e quero agradecer por tudo que ela está fazendo para salvar uma vida.

A minha vida.

Entro no quarto sentado em uma cadeira de rodas com o médico me dirigindo ao quarto.

Assim que entro vejo-a conversando sozinha e chorando com uma máscara no rosto. Vê-lá naquela situação após saber o que ela está fazendo dói muito o meu peito.

-Olá, Maria João. - Chamo pelo seu nome e ela vira a cabeça.

-Menino, Alex! - Ela exclama com um sorriso no rosto.

A sua aparência está pior desde a última vez que vi a mesma na maca. Os seus olhos estão em linha e a sua pele pálida como uma parede.

Ela está morrendo.

O médico me dá uma máscara para poder ficar um pouco mais perto dela.

-Queria agradecer por me ajudar em vez de tentar se tratar e poder viver a sua vida. Estou e vou ser imensamente grato pelo que está fazendo. A senhora vai ser muito importante para mim. - Dou uma pausa para inspirar. - Eu ainda acho que deveria se auto ajudar de alguma forma, mas é a sua escolha pois sei que não está bem e cada um tem as escolhas diferentes. Queria vê-la antes de partir para um mundo melhor e ficar finalmente com o seu marido como disse na última vez que a vi. - Digo por fim. - Obrigado, Maria João. - Agradeço.

-Já que eu estou doente e os meus rins estão bem, ainda quero ajudar outras pessoas. Na verdade, eu já vivi muito não é mesmo? Estou ficando velhinha e qualquer dia iria falecer, e querendo ou não, eu estou sofrendo no hospital. Me dói ver adolescentes como você ou crianças sofrendo por uma coisa tão má sendo que têm muito a viver ao contrário de mim, uma velhinha como eu. - Ela fala com uma voz arrastada e cansada. - Eu já fiz bastante coisas boas neste mundo, mas acho que o que estou fazendo agora é o mais importante para mim e sei que vou morrer feliz. - Ela diz olhando nos meus olhos. - Criancinhas como vocês não devem sofrer. - Ela diz por fim. - Obrigada, Alex. E viva bem. Aproveite! - Ela agradece.

Estou chorando novamente. Conheci-a há pouco tempo mas é como se fosse uma eternidade. A forma como ela falou comigo no primeiro dia em que a vi foi algo importante e significativo para mim.

-Adeus, Alex. - Ela se despede abanando a sua mão para mim e eu faço o mesmo.

[...]

Estou no meu quarto novamente, na maca. Estou pensando na senhora. Ela fala tudo com uma sinceridade em sua voz que ela poderia até estar mentindo que iríamos acreditar na sua fala.

[...]

Domingo, dia dez de dezembro, 6:30 pm

Já se passaram uns dias e os meus amigos vêm me visitar nesse espaço de tempo. Eu vou aprendendo a matéria no hospital e eles ficam me mandando os apontamentos que passaram na aula.

A Maria João falecera um dia depois com uma injeção letal por escolha própria. Eu estive no seu quarto me despedindo dela pela última vez porque eu pedi ao médico para ir vê-la.

Como ela havia dito que queria ver e ficar novamente com o seu marido.

Estou agora arrumando as minhas coisas para ir para casa pois a minha recuperação está sendo rápida. Ou no caso, a minha mãe está arrumando as minhas roupas na mala.

-Está tudo bem, filho? - A minha mãe pergunta tirando a mala deitada no chão ficando na vertical.

-Sim, eu acho. - Eu respondo.

-Vamos? - Ela pergunta largando a mala e me dando a mão como apoio.

-Sim, vamos. - Eu afirmo me levantando calmamente.

Saímos do hospital depois de a minha mãe acabar de falar com o médico, dos remédios que tenho que tomar e a vigia de vir para o hospital de vez em quando.

Entro no carro - no banco da frente - e coloco o cinto à espera da minha mãe.

Fico o caminho todo olhando para a rua e pensando, pensando muito. Ou melhor, parece que estou contando ovelhas até ao número infinito sem tirar o olho do sítio.

[...]

Chegamos em casa e o meu pai e o meu irmão estão sentados no sofá jogando. Eles estão tão concentrados que nem ouviram a porta abrir.

-Olá, pai. Olá, Noah. - Cumprimento mas nenhum fala ou responde. Limpo a minha garganta e volto a falar. Mas desta vez mais alto. - OLÁ, PAI! OLÁ, NOAH!

A cabeça do Noah vira-se rapidamente e se levanta do puff correndo até mim me abraçando.

-MANO! Você estava a onde? - Ele pergunta.

-Estive fora por uns dias. - Minto apesar de saber que se dissesse a verdade ele jamais entenderia e perguntaria o que era.

-Ah, e se divertiu? - Ele levanta a cabeça para olhar no meus olhos.

Que inocência...

-Sim, bastante. - Afirmo com um sorriso. - Vou para o quarto. - Digo e subo as escadas para o quarto.

Deito na minha cama com calma e fico assim por bastantes e longos minutos até adormecer.

Continua...

O que acharam da ação que a senhora fez?

Votem!

Bjs amo vcs🙃

MEU PRIMEIRO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora