3 - Nossa Música

40 6 11
                                    

Our song is the way you laugh
The first date, "Man, I didn't kiss her, and I should have"
And when I got home, 'fore I said, "Amen"
Asking God if he could play it again

Era uma sexta-feira à noite quando Maria chegou na casa de Natasha. Era para lá que ela gostava de fugir quando tinha um dia ruim ou quando sua casa estava barulhenta demais. Na verdade, ela apenas ia até Natasha, onde quer que a namorada estivesse, porque era nos braços da ruiva que ela se sentia segura outra vez.

Quando Natasha a abraçava era como se o carrossel em que vivesse diariamente desacelerasse e por alguns instantes ela não pensava em mais nada. Seus problemas ficavam pequenos diante do abraço apertado e do sorriso encantador da namorada. Porque Natasha tem esse poder, apenas um sorriso seu é capaz de iluminar até mesmo os dias mais nublados.

E esse certamente é um dos motivos que fazem Maria se apaixonar por Natasha um pouquinho mais a cada dia.

- Eu realmente não sei o que tô fazendo aqui, Nat.

Maria falou olhando com uma careta estranha para o molho branco que ela mexia na panela. Bom, a essa altura do campeonato o molho estava mais para um purê.

- Hum, deixa eu ver... - Natasha largou os legumes que estava picando e então caminhou cuidadosamente até a beira do fogão. Maria deu dois passos para o lado cedendo espaço para a namorada. - Quantas colheres de farinha você colocou? - perguntou já tentando pensar em uma maneira de salvar o molho do macarrão que seria o jantar delas naquela noite.

- Cinco?

- Tá perguntando ou afirmando? - Natasha questionou e deu um sorriso indo até a geladeira.

- Acho que afirmando - coçou a nuca de leve - Porque tá sorrindo? - devolveu a pergunta enquanto a via pegar a caixinha de leite integral .

- Quando você me disse que era um desastre na cozinha eu achei que estava sendo modesta. - falou em um tom brincalhão e recebeu um empurrãozinho de leve da morena.

- Hey, eu não sou tão ruim assim. Eu só não me dou bem com coisas salgadas, meu ponto forte são os doces... E alguns lanchinhos.

Natasha apenas murmurou em concordância e sorriu acenando com a cabeça, então pediu que a namorada terminasse de cortar os legumes enquanto ela terminava de preparar o molho. O rádio tocava baixinho ao fundo, elas entraram em um papo casual animado e pouco tempo depois o jantar já estava pronto.

"Our Song" começou a tocar, Natasha sorriu procurando o olhar de Maria quando os primeiros versos soaram, na voz doce de Taylor Swift, preenchendo a pequena cozinha.

- O que está fazendo? - Maria perguntou enquanto largava os talheres sobre a mesa, que ainda não estava posta, e se deixava ser guiada pela ruiva. - A comida vai esfriar.

- Acabei de perceber que já namoramos a quase cinco meses e não temos uma música.

- Precisamos de uma?

- Mas é claro que sim. - Natasha afirmou enquanto tinha os braços envoltos no pescoço de Maria, que envolvia a cintura da ruiva com os seus.

- "Our song is the way you laugh..." - Maria cantarolou sobre o lábios de Natasha e se afastou o suficiente para que a mais baixa pudesse ver o sorriso que ela daria logo em seguida - Acho que essa pode ser a nossa música. Eu amo a sua risada, poderia ouvi-la por horas, seria como música para os meus ouvidos.

Natasha devolveu o sorriso, ainda um pouco desconcertada pela declaração de Maria. Apesar de não ser uma música tão lenta, elas balançavam devagar, em seu ritmo próprio, apenas aproveitando aquele bom momento que com certeza renderam belas memórias.

(...)

"Me dê um minuto"

Foi tudo que Natasha pediu aos médicos após ser comunicada que Maria havia acordado que ela já poderia vê-la. A ruiva repousou uma das mãos sobre a barriga e então puxou todo o ar que conseguiu, respirando o mais fundo que pôde em uma tentativa quase falha de conter o choro que insistia em vir.

Ela nunca tinha sentido uma dor tão forte quanto essa. A ideia de perder Maria um dia era dilacerante, mas saber que esse dia se aproximava rasgava sua alma de tal forma que ela tinha medo de nunca conseguir se recuperar.

- Olá pra sempre!

Maria disse ao ver a esposa entrar em seu quarto na UTI. Sua expressão era cansada, seu rosto estava pálido e seus olhos já quase sem o brilho que costumavam ter. Mas seu sorriso ainda estava lá.

"Como ela pode estar sorrindo?"

Natasha se perguntou, mas então ela lembrou da mulher forte com quem se casou. Maria é pessoa mais forte em todos os sentidos que Natasha já conheceu. Mesmo em meio a dor, ela jamais deixou de sorrir, de contar suas piadas - auto depreciativas às vezes - e de procurar um lado bom em tudo. Uma das qualidades que Romanoff mais admira na esposa.

"Se deixarmos de ter esperança, o que nos sobra?"

Essa é uma pergunta costumeira de Maria.

A ruiva engoliu o choro outra vez indo até a beira da cama de Hill.

- Olá pra sempre! - falou segurando a mão da esposa.

Dizer isso uma para outra era algo delas. Era como um eu te amo, só que mais forte. O que surgiu como uma brincadeira, se tornou uma promessa, repetida por elas sempre que tinham que se despedir ou quando as coisas ficavam ruins, mas que também já foi dito até mesmo em momentos bons. Independente da situação, "Olá para sempre!", significava que nada nunca as impediriam de se encontrarem de novo.

Apesar do sorriso fraco que Natasha carregava em seu rosto, Maria sabia o quanto a esposa estava sofrendo. Ela sabia que o fardo de estar casada com uma pessoa sofrendo de câncer era grande e ela se sentia mal por fazer a esposa passar por isso, mesmo que no fundo ela soubesse que não é sua culpa e que mesmo que ela peça, Natasha jamais sairia do seu lado.

- Eles já te contaram?

- Me contaram o quê? - Maria devolveu a pergunta e acabou tossindo logo em seguida, sua garganta estava ressecada e dolorida, falar lhe parecia uma ideia ruim naquele momento.

- Tem que viver o suficiente para conhecer sua filha. E não tem como ela nascer por mais algumas semanas.

- Ok. - ela falou brevemente enquanto acariciava a barriga de Natasha.

- É sério amor, eu juro que se não conhecer a sua filha eu vou chamá-la de Maria Maria. - Natasha semi cerrou os olhos tentando passar credibilidade para sua ameaça, ato que acabou arrancando algumas risadas fracas de Maria.

- É você quem manda. - ela sorriu deixando um beijo na mão da esposa logo em seguida - Eu estarei aqui para conhecer nossa filha, e mesmo quando eu me for, estarei sempre com vocês, eu prometo.

Maria fez a promessa olhando no fundo dos olhos verdes da esposa, que se encheram e transbordaram no mesmo instante.

- Ei, não chora. - a morena pediu depositando sua mão direita no rosto de Natasha e usando seu polegar para enxugar as lágrimas que escorriam - Esse não é o final.

- Eu não quero te perder.

- E não vai, eu sempre estarei com você.

- Eu te amo.

- Também te amo. - Maria afirmou enquanto, com um pouco de dificuldade, puxava Natasha para um abraço - Pra sempre!

Olá Pra Sempre | BlackhillOnde histórias criam vida. Descubra agora